sábado, 26 de dezembro de 2009
Passou mais um Natal
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Encolhendo...
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Passei por aqui...
sábado, 7 de novembro de 2009
Pós dose dupla
sábado, 31 de outubro de 2009
Graaaaaaaande
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Sinto-me um pouco descalça
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Oops...pifei o pc
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
A sentença
(Salvador Dali)
Sentido em 07 Outubro de 2009
A sentença
Voltei afinal a ser quem devia ter sido sem saber.
O castigo veio torrencial, relâmpago, raio,
Qual sentença por querer morar como queria.
Agora, cheia de falhas arrasto o meu ser
Disforme e oco de sonhos.
Sem membros, que não operam;
Sem alma de tão agnóstica que existo;
Sem fé de tão céptica e rebelde quis viver.
Sempre o Não,
Sempre o Porquê
De albergar tal mal, tal cancro,
Porquê? Porque sim, não é?
Passa-me pela cabeça por vezes, quando estou mais cansada de não fazer nada, de ter perdido parte de mim e da minha identidade. Mas depois lembro-me de vos vir aqui deixar estas maluqueiras. Acho que vou ali comer um docinho, e deixar uns arrepios de açucar a todos os que me visitam e dizem ou não. Vamos lá a arrebitar, por favor. Estas doideiras escrevem-se e ficam escritas. Depois damos um passo (os meus custam muito, mas darei), por quem está connosco e se lembra de dar carinho.
Os que estão perto nem sempre, ou quase nunca, são assim!
Beijos para quem ainda me consegue ler, sim?
***
domingo, 11 de outubro de 2009
The day after 4th treatment...aaaarrrrgh
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Lucidez
Tudo passa, dizem-me todos.
Todos os poucos que mo conseguem dizer.
A tal palavra não se diz, pois fere.
E a cada dia mais um desvanece.
Tudo passa, dores e doenças,
Todos os choros do coração,
Todos os corações partidos,
Todas as noites mal dormidas.
Tudo passa, excepto o saber do prazo que te limita a vida.
Para quem gosta e não gosta. Hoje voltaram as dores, que me visitam de vez em quando. Também tive visitas, uma boa, outra assim assim: acabou a falar com minha mãe como se eu não estivesse lá. Odeio isso. Ainda não morri. Mas fez pensar, claro.
Amanhã o dia será melhor, com chuva, que me vai prender ainda mais em casa. Tenho de começar a semear por aqui a tal história que quero contar. Mas não faço promessas de cá vir todos os dias. Isto não é prisão nem obrigação. E nos passados 3 dias não estive em local com rede. E desculpem-me os defensores da informática, mas continuo a adorar livros: defeito de formação e educação cá de casa.
sábado, 3 de outubro de 2009
Cházinho de sexta-feira
Ontem foi dia de Gemcitabina. Agora é ver as plaquetas a descer; disse-me na véspera o meu Médico Rezingas (gosto de o chamar assim porque rezinga tanto quanto eu, hi hi) que íamos torcer para que elas se aguentassem, estavam a 170. Fui ver há pouco e considera-se bom valor entre 150 e 400. E pensei assim: xiiiiii 400 tá tão longe! Mas o meu Médico Rezingas é daqueles da velha guarda. A sexta-feira de manhã é só para dar altas, não dá consultas, de acordo com os mapas de serviço que eles têm. Desde que por lá ando ás sextas, aquele homem anda sempre lá. Já cheguei a "tropeçar" no senhor num sábado de manhã, andava eu a passear de pijama, e sem querer, me saíu da boca um "O que é que o senhor doutor anda a fazer aqui? Embora já para casa." Ontem, acabou por aparecer no hospital de dia, foi ver uma doente dele:eu. E ainda me contou uma piada e me disse a quem estou entregue na próxima semana, em que estará de férias. Mas além dessa pequena informação, já me tinha deixado a vidinha toda marcada no meu cartão, na agenda dele, no sistema informático e requisições feitas! Hein? Pensavam que os médicos só fazem consultas? Nã nã! São vítimas do sistema burocrático. Ah, também me fez o relatório para entregar na Segurança Social. Acho isto incrível. Temos conseguido poupar tempo para coisas mais importantes nas nossas consultas, porque eu costumava ser muito organizada e picuínhas, apontando tudo. Continuo a tentar ser assim. E dá jeito. Sempre ajudo a confirmar datas e o ponto em que estamos. Se bem que o meu Médico adora fazer testes á capacidade cognitiva dos doentes, certo? Acho que é a maneira dele me analisar nesse campo.
Hoje deu-me para dormitar toda a tarde, mas isso nem me parece muito anormal depois de comer bacalhau no forno (da mãe) e sentar-me no sofá a ver TV.
Da outra vez que fiz este ciclo intercalado, acabei por levar duas unidades de sangue nos dias que correspondem á próxima semana. Vamos ver o que se arranja desta vez.
Não sei se vou conseguir cumprir os pedidos de coisas lindas escritas por mim. Em primeiro porque a inspiração é sempre muito rara no campo da poesia, e quase sempre cheia de tristeza. Em segundo porque vim para a aldeia e a rede de net por aqui está muito fraquiiiiinha.
Hoje já não vou decerto visitar o quintal das flores da Tia Branca, nem o cantinho de beleza do Paulo, nem os blogues das minhas novas amigas. Amigas digo sem querer abusar, mas sim por agradecimento das palavras tão gentis que me deixaram acerca de um daqueles meus momentos inspirados por poesia alheia hi hi.
Como isto hoje está assim mais para lá que para cá, acho que vou pegar no meu caderninho de capa dura e escrevinhar...para vós, e porque alguém me disse que espera os meus poemas.
Amanhã a lutadora minha amiga R. vem visitar-me. Espero o seu relato das primeiras semanas de regresso ao trabalho, mesmo com curiosidade.
Quanto a vós, temendo esquecer alguém, muitos beijos e abraços a gosto (já chego ao tamanho 48!)
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
O peso dos números
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Coisas do tempo
Escrito off-line.
Não sei porque artes mágicas, talvez os vossos pedidos, hoje (segunda-feira) acordei como não me lembrava há meses, e arriscava mesmo…anos.
Acordei sem dores. Acordei para tomar a medicação do jejum do pequeno-almoço. Levantei-me e fui abrir a janela, para que entrasse luz e ar, sempre o ar.
Voltei para a cama, para preguiçar. Preguiçar é algo que tenho tentado fazer e não consigo há imenso tempo.
Claro que voltei para a camita, mas deitei-me direitinha por causa das minhas vértebras de estimação.
Lá fiquei mais um pouco. Depois levantei-me a sério para tomar o resto da medicação e o pequeno-almoço. Andei pela sala a ver notícias, sem pensar nelas. Sempre com uma sensação estranha de bem-estar.
Tomei banho. A minha mãe ajudou-me a calçar as meias, hoje de descanso. (Calçar meias elásticas pode ser uma verdadeira aventura). As pernas e pés têm vindo a desinchar bastante. Consigo obter mais mobilidade e resposta a estímulos da perna e pé esquerdos, do que do direito. Desde esta história e dias de muito mau estar com a diarreia de fim-de-semana, aconteceram coisas estranhas. Aliás, esta conversa é estranha. Parece que os líquidos que foram embora foram os certos: dos pés, pernas, braços, abdómen. Perdi 5 kgs de água e volume.
Bem, esta semana é suposto tomar mais corticóides e fazer outro tratamento. Isto significa que vou voltar a inchar, mas se voltar a amiga que é dispensável leva com o imodium em cima que é para aprender!
Ah, novas fresquinhas. Como tive problemas com a minha ligação e não consegui postar isto por duas vezes, já sei que o meu estado oficial é entupida. Melhor ainda: hoje já é terça e ainda estou por aqui off-line.
Nunca vos aconteceu não conseguirem terminar algo, e depois concluir que afinal foi melhor assim? Do género, não conseguir fazer uma chamada, não encontrar determinada pessoa em determinado momento, não ter tempo para passar naquela tal loja…e descobrir que a pessoa estava ocupada, que a outra estava zangada, que a loja fora assaltada…
Por vezes acontece-me isto com os textos. Escrevo-os (mal, pois escrever é uma ciência não acessível a todos, apesar do atrevimento de tanta gente em escrever), e por vezes quero enviá-los e não consigo. E calha bem. Outros há que estão a cheirar a anti-traça, pelo tempo em que estão guardados.
Este fim de semana nem sequer tive coragem/vontade de passar pelo jardim e ir ao quintal. Tinha medo. Parecia que me faltavam as forças nas pernas. Vi-me aflita para subir as escadas para ir votar. Sei que tenho alguns direitos de ajuda neste caso, mas estive até á última da hora a ver se ia ou não votar, por isso, não tinha contactado ninguém. Quanto á utilidade do voto e do próprio processo democrático não pretendo tecer valores nem comentário de género algum.
Quer isto dizer que desperdicei 2 dias de sol, mas a motoreta não dava mais.
Vamos ver se faço algo de útil para a sociedade. Espero a visita de uma amiga amanhã, para pôr parte da conversa em dia. Se me apetecer escrevo. Sei que faço comentários longos demais. Chega a ser ridículo ter dado formação nesta área e fazer precisamente o oposto do que preguei: “Olha o que eu digo, e não o que faço…”
Estou a deixar de fazer tanta coisa que fazia que até as linhas de croché andam tontas! Devem sentir saudades minhas. Tal como os pincéis, as ferramentas, a esfregona e tal…
Pois é. Afinal eu vivia muito, a fazer muita coisa. Nunca parava quieta. Só agora, quase aos quarenta, descobri uma actividade que se chama “ver TV”, que consiste em sentar-me, pegar no telecomando e ver TV. Só isso: ver. Esperar que a imagem e o som venham ter comigo. Não era assim. EU ia ter com as coisas, fazia-as, mudava-as, dava cabo delas, construía-as. Tanto que eu fazia acabando por gastar o meu tempo assim, para os outros. Agora, nem para os outros nem para mim. Agora, estando acordada, I wonder what to do with myself.
Sem nada a ver com o assunto anterior, excepto no que diz respeito ao movimento, o tal conceito de “revolução” que o meu professor de filosofia nos queria fazer entender, devia fazer uma outra coisa. Devia fazer movimentação das pernas, com cuidado. Tenho de tratar disso. Mais um TPC cá para a equipa formada á força cá de casa.
Acho que estou a emanar coisas negativas.
A minha amiga R. manda beijinhos.
Beijinhos e abraços a gosto desta teimosa em recuperar a vidita que tinha.
*****
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Boas...embora fraquinhas (estão a ver-me, não é?)
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Amigalhices
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Gasolina
Bem, fui e voltei, mas estava a ver que não ia ser bem assim.
Tive consulta um dia antes do tratamento, pois o meu médico ia ausentar-se para um congresso. Fui fazer as colheitas da praxe e, mais uma vez, (digo isto assim porque já aconteceu), fui chamada a repeti-las. Descobri mais tarde a razão. Glóbulos vermelhuscos em baixo. Hemoglobina a 8.4! Eu, ich, Me, Moi? Era coisa que estava sempre bem comigo, a hemoglobina. O meu médico costumava reparar nisso e era o meu orgulho. Não se pode ter tudo mau, né?
Ele até acha que depois desta quimio toda, eu até me revelei resistente, só agora precisei de sangue. Ainda ele não conhece a minha amiga R., mas ela começou cedo a levar sacadas de várias coisas, mas aguentou muito mais meses seguidos de quimio do que eu, mas é como se diz “cada caso é um caso”.
Era o meu maior pavor, ter de levar sangue. Tenho muito más veias, daí ter recorrido ao CTI para a quimio, para as demais habilidades só se aproveita o braço direito e pouco. Mas lá deu, e foi indo direitinho e seguido, sem parar, constante. Pronto, é o que se quer.
Hoje tive tratamento com gemcitabina e docetaxel. Cocktail fofinho e levezinho, sim, já me disseram. Tive direito a cerca de 45 minutos ou mesmo uma hora, não sei, com as “luvas de gelo”. Fofas, azuis escuras, com esponja por fora e gel que esfria lá por dentro. Usei dois pares para manter a temperatura. É suposto ajudar as unhas das mãos ficarem no sítio. Quanto ás dos pés…pois é melhor usar calçado mais largo, pois ainda não inventaram pés de gelo (acho que iria espirrar constantemente, bem, depois se vê).
Ontem já não disse nada, pareço não ter tempo. Ontem foi preguiça, passei o dia todo por lá. Hoje espero ir dar uma voltinha pela Net, pois quero investigar umas coisas. Sem adormecer e babar-me em cima do teclado.
Tia Branca, é por defeito que ninguém dá informações de ninguém no IPO de Coimbra, só dão se o doente manifestar tal desejo. Eu, quando estou internada, nem sequer quero telefones da rede fixa na minha mesinha. Corro com eles todos. E, dada a rapidez deste tratamento, e vamos ver dos efeitos, vamos ter calma e fazer um encontro quando estiver solzinho e não houver tratamento, ok? Por exemplo, hoje de manhã foi o maior tratamento que faço agora, mas como cheguei logo na “primeira fornada”, entrei, fiquei no segundo cadeirão, a minha mãe comigo um bocado, e o meu pai na sala de espera. Depois trocaram outro quarto de hora, e foram tomar café porque eu insisti,
Voltaram, fizeram o mesmo e acabou. Levaram – me para casa, a mãe fez o almoço e pronto. Acabou, Estamos a ver o que se passa. Tenho muita medicação da “Dor”, e agora mais medicação de acompanhamento deste tratamento. E ainda mais anti-histamínicos e clucocorticóides.
Por estranho que pareça, hoje sinto-me dez anos e dez quilos mais leve. Pode ser que isto se mantenha.
Quanto á visita, Tia Branca, é muito esforço para acertar em algo tão pequeno, por isso vamos com calma, sim? E eu sou a miúda das agendas. Agora uso-as para escrever o que fiz e onde estive. Costumava usá-la toda marcadinha e planeada. Surpresas não são comigo. Posso dizer que fico de burro. Mas fico babada com a ideia.
Espero que estejam todos bem, pois sinceramente, acabei de chegar e ainda não vos visitei.
Jorge, como vão as torradas e fotos por aí? Fotos lindinhas ou com manchas? Bem, vamos lá a ver, queremos notícias boas.
Sideny, a seleccionar doces quadros e óleos que por aí andam.
Paulo, nem sei que lhe diga, pois parece-me sempre pouco e fraco. Nunca tenho as palavras certas.
Aos meus outros seguidores, obrigada pela pachorra e desculpem não vos nomear hoje.
Beijos e abraços a gosto
*****
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Lá vai outro nº1
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Olá Blogueres (new word?) A imagem nada tem a ver com os leitores!
Fui hoje ao IPO. Era suposto falar com o meu médico para saber o que o conselho de farmácia tinha decidido que me podia ser feito. Pois estando eu num piso e o médico noutro, pelo telefone, que foi o mais rápido que cinco pessoas preocupadas comigo arranjaram logo…e eu a dizer “calma, calma, o doutor já sabe que cá estou, calma, calma”… assim pelo fio, pergunta-me o médico: “Queres começar hoje ou na próxima semana?” e eu: “Hoje está óptimo”. “E queres em hospital de dia ou internamento? Eu já disse hospital de dia porque tu não gostas do internamento”… e expliquei mais uma vez porque não gosto do internamento.
Bem, fiz o 1º tratamento em hospital de dia, com uma coisa que se chama gemcitabina, penso eu.
Daqui a uma semana, hei-de fazer um pesadito doutra substância. Tenho medicação a acompanhar os dias antes e depois do tratamento, e farei também factores de crescimento.
Vou dar cabo da medula a dada altura. Um pouco mais, isto é.
Também já cá canta o relatório. Posso ir pedir a reforma, já tenho tudo o resto, penso eu de que.
Vou descansar. É suposto ficar cansada com isto. Vamos ver.
Ah, ridículo dos ridículos, ligaram-me duas vezes do mesmo sítio, a oferecer-me umas migalinhas de trabalho. Era bom, se desse para pagar a Segurança Social, se eu conseguisse e pudesse conduzir e outros ses...
Lá rica em metásteses eu sou. E sempre me posso gabar de ter roubado o café do meu médico. Ele hoje não dava consultas, mas ás duas da tarde ainda andava a tratar da minha papelada. Tenho ou não tenho sorte, hein? Pelo menos em algumas coisas.
Beijinhos e abraços a gosto.
*****
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Voltas trocadas
Ando por aqui. Pois é. Pouca actividade na mesma, mas estou em casa.
Então é assim. Ontem lá fui. As amigas auxiliares e secretárias andaram a tentar arranjar uma cama “with a view” (piada do meu Médico Rezingas). Entretanto ele subia e descia as escadas, dado que eu optei ficar no patamar, que tem cadeiras mais fixes para a minha coluna e não cheira a refeitório (é a sala de espera habitual para quem vai para internamento). Claro que tinha falado com os enfermeiros e perguntei se podia ficar junto aos elevadores e escadas. Isto arrastou-se, mas é normal acontecer, pois entre a alta e o aparecer o transporte passam horas muitas vezes, e enquanto não há transporte o doente não sai da sua cama, nem se tiram cateteres nem nada que possa ser preciso.
Esperei, com meus pais claro, que estão fresquíssimos para estas andanças, fomos almoçar ao bar. Não comi sopa, não comi a minha frutinha, nada disso, baguete que atum com uma folha de alface para decoração.
Voltámos para o local de espera, sempre dizendo “estou aqui”. Entretanto, víamos o médico correr escadas acima, escadas abaixo, até que a dada altura o vi aparecer pelo elevador (o que é raríssimo) com um senhor que eu penso que pertence á farmácia).
Pois, mudou o turno, e vêm chamar-me para ir ocupar a bendita cama, e eu pergunto: “Mas vou iniciar o tratamento ainda hoje, a esta hora?”
Ninguém sabia. Disse então: “É que se não for para iniciar tratamento vou dormir a casa, pelo menos tenho ajuda no banho e nas outras coisas que preciso”. Pois, a minha ficha de internamento tem de ser alterada. Agora não sou autónoma para banho nem para me vestir e calçar. E eles conhecem-me há dois anos e eu não era assim. Entretanto alguém inteligente liga ao médico e diz-lhe o que se passa. O médico, o meu Doutor Rezingas, por acaso é quase meu vizinho, percebeu o meu raciocínio e deu aval para eu me pirar dali.
E fiz muito bem.
Afinal a correria dele tinha a ver com o facto de ainda não haver o meu tratamento disponível na farmácia. O conselho de farmácia só reúne uma vez por semana! Ainda não tinham aprovado o meu. Ligou-me hoje de manhã, estava eu a acabar o duche, a dizer-me isso. Espera que o aprovem esta semana, e que ainda consigamos falar esta sexta-feira, acerca dos detalhes possíveis de prever e tal. Por isso, até quinta-feira estou mais perto, apesar de estar preguiçosa.
Se tivesse ficado lá a dormir era mais um esforço com as refeições e uma estadia em cama de hospital para nada. Só tinha mesmo dormido lá.
Vou congelar todas as flores e miminhos que vocês me enviaram e depois descongelo para os levar fresquinhos na minha maleta, sim?
Tenham cuidado com a vossa saúde mental. Andam a ler blogues como este e podem ficar “passaditos da cabeça”. Depois não digam que eu não avisei!
Beijinhos e abraços a gosto.
sábado, 5 de setembro de 2009
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Paciência e saber
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Bye-bye Yondelis
Pois… estou em casa.
Não teve nada a ver com a bioquímica.
Teve a ver com a TAC. Tenho mais nódulos no pulmão, e pela cara do médico há mas coisas, mas ele conseguiu falar de modo a não dizer tudo á frente dos meus pais. Eu tinha-lhe pedido isso no último tratamento.
Percebi que ele tinha muito a dizer, e que estava a fazer um esforço tremendo para mentir/omitir algumas coisas.
Como o Yondelis não está a resultar, fico mais este resto de semana em stand-by, a “ganhar medula e sangue” e segunda entro directa para o internamento.
Não me disse o que me vai dar. Falou na hipótese de repetir a ifosfamida, que mesmo assim, fez um pouquinho. Falou também de um esquema interpolado de mais drogas, mas que é muito mais tóxico. Eu não aguento muita coisa já, o meu organismo está desgastado, e muito, o que coloca muitos problemas ao meu médico rezingas.
Saí de lá a chorar. Não sei se a minha mãe percebeu, só me agarrou e abraçou por eu estar a chorar, o que acaba sempre por me deixar a chorar mais. Não sei se o meu pai percebeu o ponto da situação.
O que se passa é que o meu sarcoma sinovial é muito raro, e não há muita investigação, ou quase nenhuma. Quem tinha estudado sarcomas eram precisamente os cientistas que produziram o Yondelis, e eu estava contente por isso e por passar só 24 horas lá.
Agora é tentar acertar em qualquer coisa que funcione.
Eu sei disso. O médico sabe disso, e sabe que eu sei.
Não sei quantos dias estarei lá, nem como irão correr as coisas.
Mas depois de segunda-feira da semana que vem, aparecerei por aqui quando puder. Nada de preocupações.
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Vai acabar, tenho de avisar...
Acabaram as cartas de uns para os outros. Podem colocá-las por ordem, a que usei na publicação aqui. A única piada que poderá ter é que, afinal todas as pessoas envolvidas de conhecem e interagem. Há pessoas boas e más, com sorte e com azar.
Mas não tenho mais, e não sou capaz de continuar. As datas escritas nas cartas são verdadeiras. Já não me lembraria do enredo necessário á continuação, e não ficaria bem agora. A Tia Branca que me desculpe, mas o puzzle acabou.
Estou, no entanto, a tentar escrever o que me aconteceu desde Dezembro de 2006, quando me disseram que tinha cancro.
Queria muito lembrar-me daquelas coisas tolas que pensamos, mas que afinal outras 300 pessoas pensam. Queria transpor para o papel/blogue todas as raivas, fungadelas, dores, corridas, sonhos abalados...you know!
Até aqueles pormenores do microlax, que parece um tabu enorme.
Por essa razão, faço dois posts hoje.
Porque acabou a colecção de cartas. Porque hei-de conseguir dividir a minha história de modo que seja legível aqui (já sei que vou ser corrida da comunidade: faço posts do tamanho de combóios).
Amanhã vou de férias, tá? Se o meu sanguito estiver em condições, faço o terceiro tratamento de Yondelis, terça e quarta-feira. Depois não prometo nada, se estiver bem passo por aqui, se demorar, é porque estou a enjoar algures, don't worry.
Beijinhos a todos, a gosto.
*****
Texto Intratável de Hoje - "Carta de Clara a Beatriz"
Carta de Clara a Beatriz
Abril de 2005
Beatriz,
Parece que Deus existe, afinal.
Acho que agora somos nós que entramos em acção. Sabes quando é que a Joana volta para Portugal? Não consigo esquecer a cara dela com a carta do José na mão, lembras-te?
O que achas, Beatriz? Eles merecem paz, não?
Clara.
sábado, 29 de agosto de 2009
Estou tão feliz!
Quando notei que tinha um caroço no ombro direito, em Novembro de 2007, partilhei isso em voz muito baixinha com uma colega e amiga. Foi em voz baixinha porque estávamos a usar os computadores da sala de professores, lado a lado, e não queríamos a nossa vida particular a bailar por um ambiente que àquela data não era famoso.
O problema foi quando ela me disse que tinha encontrado um na mama direita. Peço desculpa se ofendo alguém, mas é assim que digo: mama.
Lá que houvesse recidivas em mim, pronto, não gostava da ideia, mas assustei-me com ela, com o facto de ter notado algo que não devia, por ainda não ter feito 30 anos sequer, por ter tudo por fazer ainda. A minha mente saltou de fotograma em fotograma, calculando o pior.
Estava a ser seguida pela sua médica, e iria fazer uma mamografia, mas faltavam duas semanas, o que para mim era uma eternidade. Da mamografia passou para biópsia com agulha, que foi um pouco difícil. A massa a “espetar” era bastante dura. As notícias vieram e…era maligno.
A R. tinha acompanhado tudo o que se passara comigo até àquela altura. Disse-me um dia: “Agora é que começo a perceber algumas das coisas que tu dizias.” Eu preferia que ela não tivesse percebido. Passou imenso tempo a fazer isto tudo.
Fez ainda TACs e uma PET, que acompanhei, para evitar a seca dos pais ou da irmã. Eles iam ter muito trabalho depois. A R. Mantinha-se serena, de uma força enorme, que muitas vezes me levantou do chão, com um optimismo, como se tivesse marcado na agenda ter um cancro, curá-lo e voltar á vida normal.
Fez mastectomia direita em Outubro de 2008, radioterapia com muitas dores e pele queimada, quimioterapia, transfusões, antibiótico por causa do cateter semi-implantável, febre, enjoos, vómitos, bolhas na língua e boca. Tudo o que fosse doloroso tinha de a atacar pelo menos um ou dois dias!
Ligou-me na quarta-feira passada, desconfiada que lhe iam tirar o cateter. Tinha dado entrada por fazer febre de novo, e estava a fazer uma mistura bombástica de antibiótico (Tanto que ela tomou!). Passou uma semana inteirinha no hospital. (Ela frequenta outro).
Tiraram o cateter, sim.
O médico conversou com ela e … disse-lhe para ir trabalhar.
Está livre.
A minha R. querida está livre, não há mais tratamentos, há revisões, há médico ginecologista onde deve ser seguida, mas pode ir á vida dela.
Afinal deu certo. Entretanto fez 30 anos, que não foi uma fase famosa. E fez recentemente 31. Teve uma semana linda.
Foi ontem para casa, espero que tenha dormido bem esta primeira noite de uma vida limpinha de fresco.
Os pais estão eléctricos, tal como a irmã e o namorado. Poderá continuar o rumo dela.
E eu, pelo menos, e sei que vós também, mesmo sem a conhecer estarão a torcer por ela.
Obrigada R. por me teres feito olhar as estrelas quando precisei. Há poucas pessoas como tu.
*****
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Pingou uma lágrima quando finei a actividade profissional
Ontem fui transportada pelo meu pai á Segurança Social para dar baixa da actividade de trabalhadora independente. Tinha feito o mesmo no site das Finanças, no dia anterior, e tinha já a declaração comigo, em formato pdf. Óptimo para quem está limitada como eu. Mas, na Segurança Social tinha de ser presencialmente. Liguei para a linha de apoio deles e perguntei se era necessário levar alguma documentação além do normal BI, NIF, e cartão da SS. Do outro lado disseram-me que não, não era preciso mais nada.
Ora, como sou picuinhas, levei o documento de início de actividade (de 1993), uma carta que servia de identificação de beneficiário (nas vezes do cartão), uma listagem das minhas contribuições todas que é possível descarregar do site da SS, e o documento das finanças declarando que eu cessara actividade na segunda-feira.
E não é que foi preciso exactamente esse? Lá contei a história á senhora que me atendeu, que evidentemente ficou espantada. Entreguei os documentos (cópia que a senhora tirou), fiquei com um recibo do que entreguei e a sensação que falta alguma coisa, mas depois se vê.
Não tinha cessado actividade porque tinha sempre a esperança de ter um intervalinho em que me sentisse melhor e pudesse dar uma formaçãozita de algumas horas, para não perder o jeito.
A única coisa que consegui até domingo, foi receber 360 dos 365 dias de baixa a que os trabalhadores independentes têm direito se contribuírem no regime alargado. No primeiro ano que fiz quimioterapia, só apresentava baixa dos dias de tratamento ou da semana que ficava grogue. Os outros dias, contava-os e pagava-os. Á noite, via alegremente aquelas pessoas que exigem, aos berros, habitação social e têm TV cabo, carros bons e fazem do parir um filho uma maneira de ter mais um subsídio. Este ano, com os internamentos de 5 dias, e só com duas semanas de intervalo (que foi um meio ano horrível sem resultado bom nenhum) optei e pedi ao médico para ter baixa contínua. Lá me convenci que não conseguiria trabalhar coisa nenhuma. Aprendi então que primeiro vai um CIT de 15 dias, e depois são mensais. Desde 09 de Dezembro até meados de Junho fui chamada a 3 juntas médicas. Gostei do optimismo da SS. Quase parecia que eu ficava boa de uma junta para a seguinte e ia a correr trabalhar. Como aliás acontecia a todos os outros utentes do IPO que vi por lá.
O resultado foi receber 300 euros por mês (de acordo com as contribuições que tinha feito, claro, disso não me queixo, foi opção minha). Agora acabou, não tenho mais nada. Vou começar a tratar da pensão por invalidez, mas como já fiz a simulação, também não vou saltar de alegria por aí. Tenho quase 15 anos de trabalho, lamento mas não consegui ser mais rápida (foi mesmo a escolinha toda seguida, férias de duas semanas e comecei a dar aulinhas). O 1º ano é de isenção na SS, logo não conta para nada. Depois houve uns ajustes na legislação das pensões. Tem de se ter mais de 15 anos de descontos, aproveitam-se os melhores 10 e mesmo sendo doente oncológica, o que descontei vai para o tecto.
Prometo que se acontecer ao contrário eu aviso. Acho que pedir o outro apoio de dependente, que efectivamente sou (se não forem os meus pais a mudar-me de sítio, fazer-me tudo, pagar-me a comida e medicamentos, morro na miséria) não dá em nada. Não tenho propriedades, mas os meus pais foram funcionários públicos e passam o limite aceitável neste país.
Quem poupa é castigado. Quem estoira recebe presentes.
Mas por falar em presentes, fui bem atendida. Fiquei com umas dores horríveis nas pernas (teimo em não tomar um dos prescritos que é morfina de sos). Dantes costumava andar por ali quase a correr, até porque ficava perto do lugar onde a minha mãe trabalhou. É estranho e dói cá dentro passar nos sítios onde sempre passei e vivi, e não me conseguir mexer. Neste momento olhei para o chão, e está lá uma melga morta, a quem dei um chapadão ontem á noite, e não consigo apanhá-la. Vai ter de ser a minha mãe…outra vez.
Bem, mas o que aconteceu mais…a caminho de casa, o meu pai parou no café de um amigo meu, onde eu ainda não tinha ido, apesar de ele já ter aberto o estaminé há meses. É o meu tal Amigo, com quem tenho tantas saudades de conversar. Ele e os meus pais conhecem-se das visitas que ele me fez desde que fiquei doente (ou soube que estava). Ele reparou que o meu cabelo já cresceu um pouco, ficou espantado com o inchaço dos meus pés, e sei lá o que lhe passou pela cabeça. Conhecemo-nos há cerca de 10 anos. Ele lembra-se de mim mais nova, mais magra, mais jeitosa, de saltos altos e saia gira, correndo e saltitando e dançando. Lembro-me de o desafiar a irmos para as danças de salão, mas ele não quis. Jogámos ténis, e conversámos sempre muito. Conhecemo-nos no trabalho, mas foi uma ligação que perdurou além disso. Ele teve juízo e saiu daquela escola no ano em que começou a apodrecer. Ele deve ter ficado triste de me ver tão diferente, mas um dia destes temos de por a conversa em dia. Não sei quando ou como, mas preciso disso, e ele também.
No momento em que me chegou a declaração em pdf das finanças a fechar a actividade, caiu-me uma lágrima. Lembro-me de ter preenchido os triplicados ou duplicados nas finanças. Curiosamente o meu pai foi comigo, porque eu não percebia nada daquilo e ele tinha lá um colega que pelo menos me faria preencher os formulários correctos, né? Naquela altura, os trabalhadores a recibo verde ainda eram um pouco raros, eh eh. Agora percebo mais eu, ahahahaha.
Fiquei triste com aquele clique. Foi-se, acabou.
E, mais uma vez preciso do meu Amigo, preciso do ombro dele, do mundo dele, da normalidade dele, da simplicidade dele.
Acho que as minhas amigas foram de férias e esqueceram-se de quem não pode ir. Vamos ver como reajo á próxima sms ou contacto. Parece que só os homens e muito poucas mulheres são normais.
O mundo continua torto, e eu também.
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sábado, 22 de agosto de 2009
Mulheres Fenomenais
Que mundo tão torto este.
Só espero não me ter enganado e já ter publicado este texto. Beijinhos e abraços a gosto.
“Só para mulheres fenomenais”
Tem sempre presente que a pele se enruga, o cabelo embranquece, os dias convertem-se em anos…
Mas o que é mais importante não muda; a tua força e convicção não têm idade.
O teu espírito é como qualquer teia de aranha.
Atrás de cada conquista vem um novo desafio.
Enquanto estiveres viva, sente-te viva.
Se sentes saudades do que fazias, volta a fazê-lo.
Não vivas de fotografias amarelecidas.
Continua quando todos esperam que desistas.
Não deixes que enferruje o ferro que existe em ti.
Faz com que em vez de pena, te tenham respeito.
Quando não conseguires correr através dos anos, trota.
Quando não conseguires trotar, caminha.
Quando não conseguires caminhar, usa uma bengala.
Mas nunca te detenhas!!!
(Madre Teresa de Calcutá)
Recebido via e-mail da amiga Lucita-Sempre-Presente
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