sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

PASSOU MAIS UM MÊS

Com muita saudade

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

HALLELUJAH



Este aleluia, interpretado por "Aliqua", foi enviado à Susana por um dos médicos amigos, em data que não sei precisar. Guardou-o e de vez em quando ouvia-o. Obrigado Dr. Arcanjo por tudo quanto fez por nós. Hoje deixo-o aqui também para ela.

CANDLE IN THE WIND



No dia em que passam oito meses para ti minha filha

terça-feira, 9 de novembro de 2010

UMA FLOR PARA A SUSANA


Uma flôr que me foi enviada pela Sideny para a Susana. Deixo-a aqui para todos. Muito obrigado.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

VISITA















Desnecessário será referir que hoje fomos visitar a Susana e lhe levamos um botaozinho de rosa que ainda apareceu cá pelo quintal. Confesso que não esperava... Junto dela via-se que muitos foram os que a visitaram. Ali deixaram orquídeas, as flores que ela amava. Aqui lhe deixo, com a rosinha, mais uma orquídea que furtei do quintal de alguém que não conheço.

Do fundo deste coraçãozito agradeçemos a todos que a visitaram por ainda se lembrarem da nossa filha. OBRIGADOS

sábado, 30 de outubro de 2010

A CANDLE IN THE WIND


Era suposto não voltar aqui, mas nestes dias, que se aproximam, é difícil evitá-lo...Tentei "postar" um vídeo de Elton John, mas não sei fazê-lo. Fica a intenção. Em seu lugar deixo flores para a minha querida filha:

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

PROMESSAS - "TESTAMENTO"

Promessas - "Testamento:"

Já algum tempo atrás prometi que ia pensar se publicava ou não os restantes "escritos" que a Susana deixou em vários livrinhos e cadernos. São muitos ...

Um deles é uma espécie de testamento intitulado "A Meus Pais", com data de 21 de Outubro de 2009. Diz muitas coisas e, sobretudo, diz-nos qual o destino que devemos dar, se quisermos, a tudo o que deixa:

Escreveu códigos, palavras-chave, e, indica pessoas, da sua confiança, a quem devemos recorrer em caso necessidade. Até hoje não foi preciso, e ainda bem, essas pessoas eram amigas da Susana e já não se lembram que existimos. Aprendi a "desenrascar-me" sózinho e muito cedo ...

Relativamente aos "escritos" que escreveu , diz assim:

"Tenho também espalhados por vários sitios, cadernos com maluqueiras que me dava para me escrever. Tinha a esperança de um dia publicar. Mas também como , nos dias hoje, qualquer um escreve um livro, achei que não valia o esforço. O que aprendi em literatura faz-me desconfiar desta abundancia de livros que grassa por ai. De qualquer modo, punha-me escrever e a inventar.

Mas e fácil: É identificar, ver se são das Finanças. Se não, lixo com os "caderninhos e cadernões ".

Como é evidente não destruirei os "caderninhos e cadernões", mas vou guardá-los numa caixinha, sem publicação.

Além daqueles, durante o período em que já não conseguia usar o computador, escreveu uma espécie de diário, onde descreveu tudo o que ia acontecendo, em pormenor.

Então isso, nem pensar, iria levantar problemas e ferir susceptibilidades de, e, em pessoas que ainda estão a passar por situações semelhantes.

DESCULPEM, mas não quero ofender nem melindrar ninguém.

Por tudo o que fica escrito não vou publicar mais nenhum dos escritos da Susana.

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Relativamente ao "Angelito", depois de matutar sobre o destino que lhe vou dar, concluí que o vou suspender, ou melhor, fechá-lo a comentários, dentro de duas semanas.

Já criei um meu... Vão descobri-lo sem dificuldade.

Ainda não está completo. É apenas o esqueleto. Irá sendo melhorado à medida que for capaz.

A todos os que têm seguido este blogue estou muito agradecido pelo apoio que prestaram à Susana, nos momentos difíceis por que passou e quando mais precisava.

OBRIGADO.

Não os vou abandonar. Continuarei a segui-los, sem inibições ou restrições, através do meu blogue, que irão descobrindo...

Terei o todo o gosto em recebê-los na "minha" nova casa.

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Obrigado por me aturarem

Beijinhos e abraços

O pai Bártolo


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

SOLIDARIEDADE

SOLIDIDARIEDADE… QUER COMPRAR UM ALMANAQUE?

Não tinha qualquer intenção de trazer ao conhecimento de todos este facto, mas depois de ler o que aconteceu à Maguie, e para que a nossa amiga deixe de matutar aqui vai. É que acontece a todos:

Pois, como sabem ontem passaram sete meses. Como tal fomos à missa a S. Julião, na Figueira da Foz, ao meio dia, que também era por intenção da Susana.

Não sei por que carga de água, senti-me mal, consegui sair da igreja e sentei-me nos degraus da porta principal, mal disposto e quase a desmaiar. É que a minha tensão tem andado muito baixa (60-80), às vezes chega aos 80-100

Pois ali estava eu “à rasca” e chega-se uma senhora, daquelas solidárias que vendem almanaques, e: “o senhor está mal”, “estou, estou muito”; “não me quer comprar um almanaque”, “podia ir ao centro de saúde que eles devem estar abertos”.

Não perguntou se precisava de ajuda. Se precisava, por exemplo, que fosse aos bombeiros, ali mesmo em frente… o que eu naquela altura não conseguia fazer.

Acabei por recuperar, fui para casa, e o almoço programado num restaurante … ficou para as calendas.

Pois esta é a solidariedade que temos.

domingo, 10 de outubro de 2010

"DANIEL LIVRA DA MORTE A SUZANNA"

Existe cá em casa uma BIBLIA DA INFANCIA, edição de 1874, que era do avô da” Mãe Guerreira” e que este lhe ofereceu.

A mesma foi conservada e há alguns anos que estava exposta numa vitrina. Vi que estava aberta, mas nunca tinha efectivamente reparado no conteúdo da página.

Um destes dias peguei nela, li, pareceu-me que seria um pedido de ajuda da nossa Susana, pois foi ela que a abriu naquele sítio e, por isso, resolvi trazer o seu conteúdo até vós.

Aqui vai, no dia em que passam sete meses.

Descansa, agora em paz, minha filha, pois, como SUZANNA, também tu foste livre do sofrimento que não merecias:

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«“DANIEL LIVRA DA MORTE A SUZANNA”

Havia entre os captivos da Babylonia um homem chamado Joakim, que tinha casado com uma mulher chamada Suzanna.

Iam os judeus muitas vezes a casa de Joakim, porque entre os seus irmãos era elle a pessoa mais notável, e em sua casa é que se administrava a justiça. Dois velhos, que haviam sido constituídos juízes, e por isso iam muitas vezes a casa de Joakim, tendo concebido a intenção de fazerem commetter a Suzanna um enorme crime, como esta mulher temia a Deus, jámais quiz consentir em tal.

Cheios de ira, aquelles infames velhos, para se vingarem, resolveram perder Suzanna. Achando-se um dia no seu jardim ao mesmo tempo que ella, entraram a gritar de sorte que os servos da casa acudiram todos, e os velhos juraram terem visto Suzanna commeter um acção abominável.

Na manhã do seguinte dia, tendo-se o povo com os velhos reunido, para julgarem Suzanna, sendo ella chamada, veiu, e com ella seu pae, sua mãe e toda a familia.

Trazia Suzanna o rosto coberto com um veo; seus pães, e todos os que sempre a tinham conhecido tão virtuosa, derramavam lágrimas, considerando a sua infelicidade. Os dois velhos, levantando-se no meio do povo, puzeram as mãos sobre a cabeça de Suzanna, a qual chorando levantou os olhos ao ceo, porque o seu coração tinha no Senhor uma firme confiança.

Entretanto toda a assembléa, tendo ouvido a acusação dos velhos, creu o que elles disseram, porque eram os juízes do povo, e condemnaram a morrer Suzanna.

Ouvindo Suzanna esta sentença, deu um grande grito. «Deus eterno, exclamou ella, que penetraes o que é mais occulto, e conheceis todas as coisas inda antes de ellas serem feitas, vós sabeis que teem proferido contra mim um falso testemunho, e eis aqui morro, sem nada ter feito de tudo quanto tão maliciosamente teem inventado contra mim.»

Com effeito, ouviu o Senhor a sua oração, e vingou a sua innocencia. Quando a conduziam à morte, fez que aparecesse Daniel, que em alta voz bradou: «Estou innocente do sangue d’esta mulher.»

Logo todo o povo se voltou para elle, e lhe disse: «Que querem dizer essas palavras?» Daniel estando em pé no meio d’elles, lhes respondeu: «É pois tão pouca a vossa sabedoria, que d’essa sorte, sem conhecerdes a verdade, condemnaste uma filha de Israel? Tornae atrás, para julgar de novo por que proferuram contra ella um testemunho falso.»

Em consequência d’isto voltou o povo mui à pressa, e disseram a Daniel os velhos: «Vinde para aqui, e tomae assento entre nós; instrui-nos já que Deus vos tem dado a honra da velhice.»

Disse Daniel ao povo: «Separae-os um do outro, e eu os julgarei.» O que tendo-se executado, Daniel os fez vir cada um por sua vez, e disse ao primeiro: «Homem, que te tens feito velho na malícia, que arvore era essa debaixo da qual vistes esta mulher commeter o crime?» «Debaixo d’uma aroeira,» respondeu elle.

Fazendo depois vir o segundo, dirigiu-lhe Daniel a mesma pergunta e logo elle lhe respondeu, que fora debaixo d’uma azinheira.

Immediatamente todo o povo deu um grande grito, e louvaram a Deus, que salva a todos os que esperam n’ele. Unanimemente se levantaram contra os dois velhos, porque Daniel os tinha convencido por suas próprias boccas, de terem proferido um testemunho falso. Fez-se soffrer àqueles juízes iníquos a pena que tinham querido fazer soffrer a Suzanna, e o sangue innocente foi salvo n’aquelle dia. »

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O pai Bártolo

sábado, 2 de outubro de 2010

MAIS UM ...

Do resto das minhas artes, deixo-vos esta paisagem, em vitral
Bom fim de semana
O pai Bártolo

sábado, 25 de setembro de 2010

SURPRESA

É só para vos fazer inveja. A amiga Sideny, mandou-nos, pela outra porta, esta linda rosa que eu, com sua licença (forçada), compartilho convosco.
Abraços e beijinhos
O pai Bártolo

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

FRAQUINHO... MAS VAI ANDAR

Tal como prometi aqui estou:
De manhã, cedinho, cheguei às Urgências. Fiz-me anunciar. O meu "Médico salvador" mandou que fizesse o registo na admissão de doentes. Logo de imediato levaram-me para dentro. "vista este pijama e deite-se naquela cama". "já estou frito..."
É que o meu rótulo naquele hospital é "insuficiencia cardiaca" e o pessoal não arrisca.
Feitas as recolhas para analise, fiz RX aos pulmões e ligaram-me àquelas maquinetas todas...
O tempo foi passando. Às tantas aparece o meu médico: " o que está aí a fazer?" "Sou bem mandado nos hospitais..."
Pronto: os pulmões estão bem, as análises estão optimas. O resto da "canalização" está sem sinais de obstrução (era um dos meus medos).
O coração é que regrediu, está a 30%. Já tinha chegado aos 36... Agora voltou atraz.
Vai embora e veja se não faz esforços.
E foi só isto. Ainda viemos almoçar a casa um bocado mais tarde... e agora vamos ter calma que eu vi o relatório da ARN (o ventriculo esquerdo está muito dilatado).
Obrigado pelo vosso apoio
O pai Bártolo

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

"O SEU CORAÇÃO ESTÁ MUITO FRAQUINHO"

Cá venho eu de novo incomodar-vos com os meus desabafos. Em vez de cumprir o que disse anda para aqui a escrever coisas destas que não animam ninguém, dirão todos.
Desculpem, mas não tenho mais ninguém com quem o fazer. A São, "mãe guerreira" não pode aguentar tudo e desta... pode ser demais.
Pois bem. Desde há cerca de um mês ou dois, talvez depois da "pancada da mula", que me andava a sentir cansado. As coisas iam/vão piorando quase de dia para dia. Só estou bem deitado, canso-me a andar, canso-me a comer, tenho falta de ar...
No passado fim de semana, estávamos na praia. As coisa pioraram. Segunda-feira, dirigimo-nos directamente aos HUC que é o meu hospital de referência. Nunca me custou tanto fazer de carro cerca de 40 quilómetros. Penso que era caso de ir para as urgências. Mas não o quis fazer, sou teimoso, como diz a São, e fui à procura do meu "médico salvador", que já não é o meu médico. Alguém o mudou sem nos dizer nada a nenhum. Mas ainda é ele que me ajuda nos momentos difíceis ( a actual ainda não a conheço).
Fiz-me anunciar e logo depois ele apareceu, na enfermaria onde trabalha, e sem ser dia de consultas dele.
Viu-me, disse-me o que eu já sabia também:"o seu coração está muito fraquinho". Vamos fazer um exame. Por acaso (ARN) era um dos que já estava programado para a consulta de Novembro. Conseguiu que, na Medicina Nuclear, o antecipassem e foi efectuado naquele dia, às 13,30.
Venha cá na sexta-feira, às Urgências, pois sou eu que estou de serviço, vejo o exame e se é preciso mais alguma coisa.
Lá estarei de mala feita, pois não sei o que vai acontecer. Não consigo ir ao fundo do quintal (100 metros) sem me cansar. Tento esconder, mas nota-se pela respiração...
Confesso que estou amedrontado, não por mim, pois penso que cumpri a minha missão, mas pela minha mulher que tem sido incansável e aguentado tudo. Se eu, eventualmente, partir ela fica sozinha, sem ninguém que a ampare... e ela também não está bem.
Muitas vezes fico a matutar: "fui salvo para cuidar da Susana, agora já não és preciso".
Claro que espero ainda não ir desta...
Se conseguir, depois, na sexta-feira, darei noticias.
Rezem por mim e desculpem estas babuzeiras.
Beijinhos e abraços
O pai Bártolo

domingo, 19 de setembro de 2010

COMO SE DIZ A UM PAI...

Nestes entretantos dei por mim às voltas, a "ruminar", como diria o nosso grande amigo Jorge, acerca de um episódio, ocorrido aquando de um dos últimos internamentos da Susana.
Como sabem dos vários serviços do IPO que visitou, também passou pela Neurologia. Foi-lhe diagnosticada a invasão da coluna, pelo bicho. Fez rádio e melhorou um pouco. Passado algum tempo voltou a piorar. Fez TAC. A Srª Drª C., sempre muito faladora, embora não se tenha remetido ao silêncio, foi menos pródiga nas explicações, refugiando-se na falta de relatório que o seu colega, técnico do assunto, ainda não tinha feito.
O tempo foi passando.
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Quando nos deslocávamos ao IPO para as visitas, embora haja autocarros que o servem muito bem, optamos por levar sempre a nossa viatura, para evitar constrangimentos de horários. Claro que isso acarreta sempre o problema de estacionamento, muito difícil naquela zona. Assim, depois de deixar a "mãe guerreira" à porta do IPO, ía à procura de estacionamento que demorava sempre muito. Era também uma deixa para ir pedir ajuda, sem a Susana saber, aos meus amigos cardiologistas, no hospital do lado.
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Ora, numa das vezes em que ía a entrar no edifício dos internamentos, encontrei a Srª Drª C. .
Após os cumprimentos normais, sai a pergunta: "então já há mais resultados". Nunca a tinha visto tão atrapalhada. Fale à vontade.
"Não sei como se diz a um pai que a filha vai morrer".
É dizer e pronto. Não tenha problemas que nós sabemos desde o inicio e já percebemos que falta pouco. "Ah é". Sim, fique descansada, não se preocupe.
De qualquer forma isto marcou-me um bocado. Para além da sua formação especifica, nas suas áreas, estarão todos os médicos preparados para estas coisas? É que eles também são pessoas e sofrem com as perdas.
Desculpem-me este desabafo.
Beijinhos e abraços para todas/os
O pai Bártolo

domingo, 12 de setembro de 2010

NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO

Depois de um dia de ontem assim, assim, hoje, depois de almoço, fomos dar uma volta até à Serra da Boa Viagem. No regresso fiz a fotografia da praia da claridade, onde se pode vêr o "pedregulho", da foto anterior. Pode, igualmente, ver-se que na maré-alta as águas chegam quase à marginal, devido ao desassoreamento.
Pois, mas não é só. É que hoje decorriam as festas de Nª Srª da Encarnação, em Buarcos, cujas fotos vos deixo, de uma das prossições.


Mas o mais importante: há já algum tempo que queriamos contactar duas pessoas que nos ajudaram e à Susana, no IPO. Ambos estavam com alguns problemas e não sabiamos como abordá-los. Pois no decorrer da procissão encontramos uma enfermeira, amiga, do IPO que nos elucidou e logo nos pôs em contacto com uma delas. A outra cuja esposa esperava um filho, mas com uma gravidez de risco, tinha tido um lindo rapazinho, há cerca de quinze dias, e correu tudo bem. Ficamos muito felizes com a noticia e, claro, que os vamos visitar em breve.

Foi o melhor de todo o dia.
Um abraço
O pai Bartolo



sexta-feira, 10 de setembro de 2010

PAIS ORFÃOS - 2

Pois caros amigos e amigas seguidores deste pobre blogue, hoje passam seis meses desde a partida da nossa Susana. Oxalá tenha agora o descanso que merecia.

Antes de avançar para o que vos queria dizer, vou deixar aqui o conteúdo de uma "pajela" que o Frei Adriano, Capelão do IPO, deu no penúltimo tratamento, à Susana. Esta, por sua vez, na ída para o que sabia, como eu, ser o último deu-a à "mãe guerreira" que a guarda com muito carinho:

"PAI

ponho-me nas Vossas mãos.

fazei de mim o que quiserdes.

seja o que for,

eu Vos agradeço.

estou disposto a tudo.

aceito tudo,

contando que a Vossa vontade

se cumpra em mim

e em todas as criaturas.

não desejo mais nada Pai.

confio-Vos a minha Alma,

dou-vo-la,

com todo o amor de que sou capaz,

porque Vos amo

e necessito dar-me,

sem medida,

com uma confiança infinita,

porque Vós sois o meu Pai.

Ch. de Foucaild"

*

Neste entretanto fui reler todo o blogue da Susana e todos os comentários que ali deixaram. Alguns continuam a aparecer, outros não. Não sei o que se passa, por exemplo, com Mrs. Sea. Parece-me que percebi o seu caso, mas... volte. Tenho todo o gosto em recebe-la neste sítio. A Lúcia, onde pára. Conhecemo-nos há muito tempo e gostámos muito da vossa visita e do vosso menino. Está à vontade, disponha, venha por esta porta ou pela outra que ainda está activa.

A TODOS e TODAS, sem excepção, agradecemos o apoio que deram, na fase mais difícil, à nossa querida filha. De certeza que foi muito importante para ela.

*

Queria dizer-vos, ou contar-vos o que se tem passado, mas ao cabo e ao resto pouco importa, uma vez que já está tudo bem de novo. O grilito andou a ameaçar, mas já passou.

*

Ora bem. O que vos queria dizer era isto:

Lembram-se do TIAGO ALVES, o menino de 18 anos que nos deixou há pouco tempo?

Pois, como já o referi em outro local, o Tiago residia com seu pais, o Sr. Horácio e a Dª Guida, na mesma freguesia que nós e a cerca de 700 metros da nossa casa. Mal nos conhecíamos, só de vista, mas das poucas vezes que vi o Tiago, achei nele uma pessoa amável, simpática, meiga, muito diferente do resto dos rapazes da freguesia. Por isso comentei com a São:”este rapaz não é daqui, quem é”?

Quando faleceu foi um vizinho que me informou e me disse que tinha um blogue. Depressa o descobri: “YPPONforLIFE”. Visitei-o e deixei o meu comentário, ao mesmo tempo que convidava o Sr. Horácio para bater, se quisesse.

Na passada 3ª feira, alguém tocou o sino lá do “quintal”. Abri, de imediato: “faz favor de dizer”. Sou o Horácio…

Ah, a senhora onde está, entrem. Está em casa. Então diga-lhe para vir, acabei agora de fazer café, lancham connosco. “Vou ver se ela quer vir”.

Passado pouco tempo chegaram os dois.

Sabem o que é a empatia. Parecia que os conhecíamos há anos. Conversámos durante várias horas e combinamos encontrarmo-nos mais vezes. Penso que a conversa lhes fez bem.

Não vou fazer outra apreciação, já ambos gostamos muito deles. É um casal que também sofreu uma grande perda, um filho em que tinham investido tudo. Estão sozinhos naquela aldeia, pois não eram dali nem tinham lá raizes. O Sr. Horácio trabalha em casa o que, quanto a mim, não será muito bom. Sei que ele quererá continuar o blogue do Tiago. Ainda não o conseguiu, mas visita-o.

O que eu vos peço, do fundo do meu pequeno coraçãozito, é que passem pelo sítio do TIAGO e dêem a seus pais o vosso apoio. Eles estão a precisar e eu agradeço-vos.

OBRIGADO

O pai Bártolo

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

FIGUEIRA DA FOZ



Sabem, ganhei um prémio, mas como sou bonzinho, ofereço a todos vós estas fotos antigas da Figueira da Foz, com uma actual. Isto tem a ver com o desafio da Gigi. Estas não conheciam..., mas há mais onde as fui surripiar (AntonioCruz.Net).
As duas de cima são do mesmo local, com uma diferença enorme de anos.
As de baixo são do forte de Stª Catarina e da Praia do Relógio, onde antes chegava a água do mar ( o trinca espinhas não sou eu...)
Ficam para vós, mas agradeçam à Gigi.
Beijinhos e abraços para todos
O pai Bártolo

domingo, 5 de setembro de 2010

MAIS UMA PRENDA


Continuando, deixo aqui estas fotografias para todos vós, ausentes e presentes, para os que estão de férias ou só de fim de semana.
As datas que aparecem nada têm a vêr. Esqueci-me de desligar essa opção...
A preto e branco: é a Susana há uns 37 anos, se bem me lembro, com o trinca-espinhas do pai.
Em cima é o mesmo rochedo. A erosão levou grande parte da areia e quase o desfez. É uma das praias da Figueira.
Beijinhos e abraços para todos
O pai Bártolo

sábado, 4 de setembro de 2010

UMA PRENDA

Para todos os persistentes, para aqueles que, como eu, não podem sair de casa pelo calor e para os que foram passear... para todos os AMIGOS e AMIGAS.
É uma fotografia, tirada em 15/8/2008, quando ainda ambos podiamos sair de casa.
São: em baixo, o Convento de Santa Clara-a-Velha, ainda em recuperação e hoje aberto ao público; em cima o Convento da Rainha Santa.
Ofereço-a de modo especial ao amigo Jorge e para que a Rainha Santa o ajude em mais esta etapa.
"ABREIJOS" para todos, como ele diria.
O pai Bártolo

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

REVOLTA NO "QUINTAL"

Como tinha dito, regressamos na terça-feira ao "quintal" .

Logo que chegamos ouvi uma grande reprimenda do Sr. Ganso : "afinal eu não sou culpado; Vou recorrer ... "

Bem, a piscina estava vazia novamente e eu tinha tomado precauções para que aquele não retirasse a rolha , mas de nada valeu ...

" Vou recorrer, Vou recorrer , ... e pronto ".

Eh lá, estás chateado mesmo ! ...

Pois quase não tinham água. E insistia : "Vou recorrer e vou fazer greve, para ali não volto".

Inspeccionado o local do crime , vim a verificar que havia uma falha no cimento que deixava escapar a água.

Claro que não disse nada disso ao Sr. Ganso ... Reparei a fuga , mas como demora pelo menos 48 horas a secar, vão ficar à solta, pois temos que tratar, amanhã, em Coimbra, de um assunto oficial e depois voltamos para a Praia. Claro que fora dos aposentos do Sr. Ganso existe uma outra piscina .

Mas disse-lhe de novo: " Deixa lá que eu vou recorrer dos teus recursos , pelo menos durante seis anos... no fim ainda hei-de ser herói e receber indemnização . Vamos lá ver se ele PIA mais " .

Bem que ele recorra também, que quando chegar a Primavera com todos os " Recursos " dele acumulados , já dá para ir ao forno ...

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Vejam lá se não é fresquinha , esta imagem. Fica para vós:

Um abraço do pai Bártolo

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

RESUMO (20 - Último)

Este é último dos "capítulos" de RESUMO, tal como o encontrei, no qual fiz apenas a verificação ortográfica, com correcção de algumas falhas.

Segundo me parece terá sido escrito, directamente no portátil, para além de Agosto de 2009 e quando este pifou, já com dificuldades de locomoção.

Os escritos que encontrei estão nos caderninhos, sobre os quais irei "ruminar" como diz o Jorge e depois, talvez, publicar.

Então aqui vai o último:

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JUNTA-MEDICA


*****


No dia 30 de Junho sou chamada á junta médica da Administração Regional de Saúde. Ninguém me informara – talvez seja tabu ou grande segredo— que os doentes oncológicos podem ter benefícios fiscais. Fui então contar a minha história perante um simpático médico. Apesar de esta lei estar pensada, e seja positiva somente a sua existência, devia ser talvez revista. O que pude aproveitar até ao momento foi o facto de não pagar o imposto de circulação do meu veículo automóvel, e a devolução de um ano de IRS, já que tendo sido trabalhadora independente, acabei por perder o trabalho, os contactos, e não tenho rendimentos que me permitam a sobrevivência. Vivo literalmente às custas de meus pais.

Mas esta entrevista correu bem, cheia de informação, com muito civismo e continuo a dizer, com um profissional médico á altura do cargo que exercia: uma pessoa, boa, sensível e útil.

E nesta mesma semana recebo o maravilhoso apoio da baixa: 68,32€. Na cega e estúpida tentativa de atingir o mínimo de 15 anos de descontos (nesta altura tinha somente 13 anos a caminhar para 14) eu continuava a pagar as minhas contribuições para a Segurança Social, excepto os dias do tratamento. No momento em que escrevo, já fechei actividade, de tão caro me estava começar a sair da bolsa, e estou a tentar pedir a pensão por invalidez. Isto esperando que o meu hospital e a supra citada entidade se entendam quanto ao modelo de relatório clínico que devo entregar. Espero conseguir tratar disto antes de morrer, ufa!

Entre estadias na cidade e no campo, tenho uma consulta marcada em 22 de Julho, com direito a análises e TAC de rotina.

Uma ínfima réstia de liberdade aproxima-se de mim.

Por enquanto não faço mais quimioterapia. A minha alegria multiplicava-se á do meu médico. Ele dizia-me isto, mas continuava com a cara séria. Eu tinha dois nódulos no pulmão, mas a ifosfamida estava a fazer estragos. Iria ficar em observação. Isso equivalia a ficar em stand-by até perto de Novembro.

Durante o vai-não vai, acabei por encontrar varias amigas e conhecidos naquelas voltinhas de shopping. Fiquei super feliz por não ter de ficar lá novamente, naquela enfermaria. Mas logo fui remetida ao quintal. Nesta altura, faleceu Randy Pausch, que conseguiu lutar além do mês que lhe deram. Randy, professor universitário americano, decidiu incluir nos seus dias “The Lecture”. A lição que se calhar foi a mais valiosa da sua vida, pelo menos na minha opinião. Explicou tudo o que se passava consigo aos seus alunos, de modo científico, mas acessível. De acordo com a medicina, era suposto ele ter sucumbido ao cancro seis meses antes. No tempo que teve a mais, graças á sua força e árduas sessões de tratamentos que ele narrava no seu diário, optou por deixar o relato para os seus filhotes praticamente bebés, e para todos os outros que quisessem saber. Já tive o link neste blogue, mas entretanto, como sou uma “expert” no assunto, a coisa correu mal. Mas penso que procurando o nome dele seja possível obter informação, embora em inglês. Randy faleceu em 26 de Julho de 2008, na semana em que fui libertada parcialmente do IPO.

Na semana seguinte passou a entrevista do nosso Salvador Vaz da Silva na SICMulher.

Tive a minha junta médica para efeitos de benefícios fiscais, que correu muito bem, dando continuação a tudo o que escrevi antes: simpatia, civismo e respeito das pessoas que estavam a trabalhar, e não a maldita pena!

Mas voltei para o quintal. Ora o que se faz com um quintal em Agosto? Mandam-se candidaturas on-line para voltar a trabalhar. Eu recomeçara a enviar currículos por correio normal desde fins de Abril, sem saber porquê, na tentativa de afastar a doença, deixando que vingasse a parte sã do meu metabolismo. Agora, sem recursos alguns além de um portátil com acesso á internet por placa com pouca rede, ia tentando tratar da minha vida. O ano lectivo iria recomeçar em Setembro. Nessa altura do ano é um verdadeiro corrupio de caça aos formadores e, sabendo eu disso, não podia ficar de braços cruzados. Os meus pais só me queriam ver a descansar, se bem que o meu pai se mostrava mais consciente da minha pequenina e inglória luta em recuperar trabalho.

Na primeira semana de Agosto recebi, por correio normal, o meu Atestado Multi-Usos, com incapacidade de 80%. Por um lado, pode dar jeito, por outro, é novamente um daqueles momentos em que nos reportamos á legislação e…fazendo o cruzamento, descobrimos que estamos mais para lá do que para cá. Mas arranjei que fazer, pois foi necessário voltar a entregar declarações antigas do IRS (a do ano anterior). Isso fez-me ir á Repartição de Finanças três vezes, e pobres senhores funcionários sempre a pedir desculpa. É assim que resulta. Toda a alteração foi canalizada para o sistema central em Lisboa, pelo que ia tendo várias coisas para provar, uma de cada vez, na Repartição. Mas tudo se arranjou, pelo menos no meu caso. Imagino, agora que escrevo e pouco consigo movimentar-me, que não teria achado graça nenhuma ao assunto se isso se passasse agora.

*****

É tudo por agora. Depois da "ruminações", talvez volte com outros escritos.

O pai Bártolo

domingo, 29 de agosto de 2010

RESUMO (19)

Pois já estou como o Jorge: hoje apeteceu-me publicar mais um "capitulo" de RESUMO, apeser de ser domingo. Por isso aqui vai:

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KARMA

*****

Se me disserem que o que se passa de mau na minha vida é karma ou dharma ou lá o que é, até já acredito! Sou mazita, sou.

Entretanto passei por uns achaques da minha velha rinite, que me causa problemas, sendo que não me adianta tomar a medicação normal. É mesmo esperar que passe. O problema é quando a infecção passa para a garganta, e se pode transformar em amigdalite ou faringite. Isso é que me assusta, pois incha e respiro pior. E tusso. Mas recuperei a tempo de comer umas sardinhitas assadas lá no quintal dos meus pais no dia 13 de Junho.

Mas a história da cama 25 não me saía da cabeça, e acho que ainda hoje não saiu. E para incomodar um pouco mais, dos restantes internamentos que fiz, acabei por ir ter àquela sala. Enfim, histórias de enfermaria. E garanto-vos que ainda vos estou a poupar a pormenores menos delicados, que ninguém refere, e por vezes dava um jeitão que alguém explicasse, antes de nos estatelarmos neles.

Entretanto lá vem o quinto ciclo. Nova e imensa alegria para mim. Isto é dúbio. É uma maçada fazer tratamentos em internamento, pelo menos para mim, que odeio partilhar casas de banho, ainda mais sendo do tipo em que as pessoas que as utilizam estão debilitadas e por vezes as coisas não correm como seria normal. Ao falar disto refiro-me ao facto de fazer xixi para o chão, porque a mobilidade é reduzida. Ter diarreia e daí advirem todos os problemas de rapidez que a mesma exige. Ter vómitos e não chegar a tempo de alcançar o vomitório ou a sanita. Ter obstipação e hemorróidas causadas ou agravadas pela quimioterapia. E por vezes há pequenos truques que nos ajudam, mas só porque o assunto envolve higiene íntima, é preferível não falar.

Um dia destes, conto-vos. Não sei bem como o farei sem recorrer a marcas…mas vamos tentar.

Olhai, neste momento estou a fazer quimioterapia. Fiz um ciclo de gemtacibina, fiquei com obstipação, que já era crónica no meu ser. Lá fui tomando um comprimido que aumenta os movimentos peristálticos, juntamente com lactulose, muita sopa e fruta (como sempre). Semana seguinte, veio o tratamento um pouco mais longo, depois de ter recebido duas unidades de sangue (penso que seria da região de Borba, pois gostei muito do resultado). Claro que a obstipação se agravou novamente, e pior que isso, como as mucosas ficam mais frágeis, lá vem a maldita hemorróida. Os xaropes do costume para o entupimento. E gelo, ou melhor, aqueles saquinhos de gel que servem para arrefecer e aquecer. Pegar num, por a congelar, arranjar um turco pequeno e velhinho (porque é mais fofo) e depois passar o máximo de 20 minutos com o dito embrulho entre as nádegas. É a única maneira de dizer isto. Assim, a maldita vai encolhendo, fazendo isto pelo menos á noite. Além deste método, ainda utilizo um creme que tem um pouco de anestesia (não convém abusar) para lubrificar e tentar encolher ainda mais a parvalhona da hemorróida. Convém referir que esta é uma batalha difícil. Quando julgamos que tudo está encaminhado, pois lá surge a necessidade da Natureza de evacuar, seja por via normal ou forçada e estraga tudo novamente. Para a via forçada, depois de vários testes no laboratório cá de casa, o mais inócuo é mesmo a vaselina. Existem no mercado microclisteres só de vaselina, que não vão interferir com a demais medicação, existem também em forma de supositórios, mas penso que no caso de um adulto, com o adicional problema de hemorróidas, penso que seja mais fácil orientar o produto que queremos que faça efeito de modo a tornar a evacuação mais fácil. Existem também grânulos e gotas. Os que têm derivados de sene (planta) fazem-me cólicas. Há outros grânulos que interferem com a medicação, há gotas que ajudam. Tenham cuidado e façam aquilo que os senhores doutores não gostam muito: ler as bulas. Ah, para quem usar o microclister, convém ter uma caminha por perto. Coloco o microclister, e vou deitar-me de barriga para cima, depois rodo para a esquerda e para a direita, devagar e sempre massajando o abdómen. Há quem defenda que caminhar é melhor. Descobri que não, no meu caso, dado ter o problema adicional das hemorróidas. Deste modo a vaselina pode subir um pouco no cólon, e facilitar mais a evacuação. Agora, se me permitem, em bom português, mas que conversa de merda!

Esta manhã e aliás, ontem á noite, não sei porque razão, tudo parece estar a normalizar. Estou a terminar a semana de sete injecções de factores de crescimento, assim sendo, quase a passar uma semana desde o último tratamento. Tudo parece funcionar em ciclos de semanas. Espero que os meus intestinos se portem bem. Isto incomoda. Ficamos quase dependentes de casas de banho, toalhetes para desinfectar, toalhetes para o rabinho, creminhos e afins. Quase uma mala de parto?! Livra, quase fiquei maníaca com isto. A minha pior fase até agora foi com o tratamento de cinco dias de ifosfamida de altas doses. Desculpem se assusto alguém, mas podem aproveitar para se preparar para isto.

Bem, depois de uma semana de tratamento e uma pequena pausa para ver se tudo se mantinha em ordem, lá retorno eu ao quintal.

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E pronto, por hoje é tudo

O pai Bártolo

sábado, 28 de agosto de 2010

RESUMO(18)

Hoje, 28 de Agosto, para variar, aí vão duas publicações:

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5º INTERNAMENTO

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No dia 16 de Abril, segunda-feira, começo o quinto tratamento, com enjôos e noites mal dormidas. Penso não me enganar, mas penso que foi neste que faleceu uma das senhoras da sala/enfermaria.

A sala era de cinco pessoas. Ela estava em frente a mim, um pouco ao lado. Entrou um dia, já eu estava enjoada, de maca, trazida por bombeiros. Vim a saber mais tarde que tinha sido enviada para lá de outro hospital de Coimbra. Já tinha ficha no IPO, estava mal, portanto…toca a despachá-la, que as estatísticas ficam melhor. Bem, a senhora chegou e estava a oxigénio, “a 3” como eu ouvi, embora não saiba o que isso quer dizer.

Os enfermeiros andavam numa lufa-lufa, com cara séria. Deu-me a impressão que não estavam nada contentes e estavam até um pouco aflitos. Pensei que tivesse a ver com o facto de não haver cuidados intensivos naquele internamento. Pouco tempo depois aquele ruído próprio do oxigénio, que ninguém esquece e não se consegue explicar, passou de três para seis. A noite aproximava-se. O ruído continuava. A filha da senhora esteve lá e chamava por ela, sem obter mais resposta do que um apertar das mãos. O vaivém de enfermeiros e médicos continuava. Não havia cama livre nos Cuidados Continuados. Não havia mais nenhuma sem ser aquela, depois de procurarem uma cama que tivesse oxigénio e outras coisas que pudessem vir a ser precisas.

A noite chegou com a ronda dos medicamentos das onze. O oxigénio passou para nove. Meti na boca um calmante e nos ouvidos uns tampões. Pobre senhora. Eu estava a ficar aflita com a aflição dela. Decerto não conseguia respirar. As auxiliares daquele turno não tinham deixado a senhora bem posicionada e os enfermeiros não repararam nisso também. Assim, claro que respirava mal. Sentir-se-ia concerteza incomodada com um tubo no nariz. Por vezes acordava e dizia algo. Tirava o oxigénio várias vezes. Claro que era eu e a senhora que estava ao meu lado quem dava o alarme. Estávamos as duas aflitas com aquilo que se passava. Sabíamos o que se aproximava, mas eu sou peculiarmente ligada a faltas de oxigénio, tendo apenas um pulmão. Tenho pavor que isto me aconteça. Ainda lá foram enfermeiros que aumentaram o oxigénio de nove para doze. Mas o ruído continuava forte, de cadência pesada, o sono da senhora seria sono, sonho ou pesadelo? Que pensaria ela? Não dissera nada a quem lhe perguntara algo. Tive tanto medo. O que se passaria na cabeça dela. Será que quando estamos assim pensamos? Será que sonhamos? Será que começamos a ver coisas que nunca antes vimos? Será isto a que chamam o “reino dos céus”? Horas mais tarde, vi que se passava algo naquele cubículo. Vi tirarem a cama, mas não consegui ver mais nada com atenção. Todo o pessoal envolvido tratou da situação com extremo cuidado e silêncio. Pena que não tenham conseguido fazer com que a senhora não morresse. Numa das rondas seguintes, poucos minutos depois, perguntei ao enfermeiro que me foi ver, o que se passava. A resposta, bem providencial, foi: “Não se preocupe, agora está tudo bem. Faça por descansar, sim?” E penso que terá sido assim. Finalmente aquele sofrimento terminara para aquela senhora. Os filhos tiveram dois dias para se habituar á ideia, praticamente. No domingo, a senhora tomara o seu duche sozinha e bem. Sentiu-se mal ao final do dia, e foi às urgências. Lá ficou…até descobrirem que ela tinha processo no IPO, e sendo doente oncológica poderia ser reencaminhada. Imagino que isto tenha dado imenso jeito às estatísticas, tão torcidas e retorcidas surgem elas pelo nosso país. Lembro-me que a senhora chegou perto da hora de jantar de segunda-feira. Terça e quarta-feira foram dias de agonia, em cada um dos quais um dos dois filhos a visitou. A filha, teria concerteza mais capacidade de estar presente e apareceu todos os dias. Deve ser terrível, embora pense nisto e recorde o que me aconteceu aquando do enfarte do meu pai, deve ser horrível ver o nosso pai / mãe cair numa cama do hospital e de repente tudo vira do avesso, não fizemos tudo, não dissemos tudo, e …depois esperamos que corra bem. Aqui não correu. Na madrugada de quarta para quinta-feira, a senhora finou-se. A senhora auxiliar que chamei disse “Esta senhora é para estar assim!”. E até seria, mas não o devia ter dito como disse, nem sequer em voz alta, em plena noite, numa enfermaria, em que é fácil ouvir tudo. Continuo a pensar hoje, no momento em que escrevo, na quantidade de nódulos que tenho no único pulmão sobrevivente, no que me vai suceder, no sofrimento que terei ou não. Só espero que seja rápido, sinceramente. Perdoem-me a frontalidade e crueza da afirmação. Pelo que vi, quero que seja rápido se for por aí. Essa senhora auxiliar andou em conversas com uma amiga minha, que não sabia da história. Resumo: conhecia-me por fazer lá os internamentos de cinco dias (posso adiantar que a sua secção quase não tem contacto com doentes enjoadas como eu), e gostava muito de mim. Como podem ver, está atestado que tenho aura de anjinho brilhando por todo o lado, incluindo sítios com os quais não contacto, ah ah ah. Bem, disse que gostava muito de mim. Eu, depois de me certificar de que estávamos a falar da pessoa correcta só consegui dizer: “Não gosto dessa senhora porque grita de manhã para nos acordar, não tem cuidado nenhum connosco e aconteceu a seguinte história…”

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Comentários para quê...

Desculpem se vos incomoda este tipo de texto ao fim-de-semana, mas está quase a acabar.

O pai Bártolo

SAIR DA ROTINA

Estamos já há alguns dias na praia da claridade. O ir à praia todos os dias cria um hábito e uma rotina de que, francamente, não gostamos. Por isso hoje fomos até à Praia da Tocha dar uma volta. Almoçamos e demos um passeiozito. Era a nossa praia até há uns anos a traz. Passamos dezenas de vezes por esta placa, situada numa das ruas. Nunca tinha atentado nela. Hoje li-a. Achei-a interessante e fotografei-a para os amigos e amigas escritoras, e... para os outros também. Espero que consigam lê-la.

Aqui fica para vós com abraços e beijinhos

O pai Bártolo

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

RESUMO(17)

Prometido é devido, mesmo para quem está de férias, ou....mais ou menos

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DONDOCAS (17)

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Conseguimos organizar mais um “café das dondocas” na segunda-feira, porque na terça fui de novo para a aldeia, para regressar na sexta-feira. Bom, é um padrão diferente. Deve ter alguma lógica, eu é que não a entendo.

Quarto ciclo de tratamento. Vários amigos a fazer anos e eu sem apetite para bolos, ai ai. Entretanto vou aproveitando promoções para comprar uns livros mais baratos.

Semana seguinte, adivinhem…aldeia, até sábado. Pois deve ter acontecido alguma coisa na cidade, sei lá. Faz-me impressão. Estava habituada a andar pelo meio de 200 pessoas todo o dia. Isto é tudo muito estranho para mim. Mas, presente do Universo – consigo ir ao “café das dondocas” e tratar de vários assuntos fiscais e afins, até consegui ir fazer a inspecção ao carro.

Tenho uma TAC marcada para dia 5 de Junho, pelas 14:30 fora do IPO. Por vezes funciona assim, depende da pressa em obter resultados, depende se as máquinas estão frescas ou já estão cansadas, enfim, depende de muitos factores.

Mas, no sábado regresso á aldeia, onde não faço nada, não vejo ninguém e não aprendo grande coisa. Não há ocupação para alguém da minha idade, e não vou para o café passar a tarde, certo? E pensando melhor, a aldeia é um dormitório, nem sequer faz muito bem aos meus pais passar lá muito tempo. Era bom antes de sabermos do meu cancro. Eles faziam várias viagens de cerca de uma semana. Iam beber cultura fora e depois digeriam e descansavam lá. Agora viver mesmo todos os dias na aldeia? Livra, aprende-se um sotaque esquisito e mais nada.

Desta vez ficamos oito dias, por votação não sei de quem. Sendo assim falto de propósito a um baptizado de um bebé cujos pais os meus conhecem, e a 3 aniversários. Clausura é clausura. Quando não estou em minha casa, considero que não estou disponível.

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Não se trata de clausura, nem com isto pretendo justificar-me do que quer que seja. O estado debilitado em que a Susana já se encontrava não aconselhava a ida a Shopings ou coisa parecida. O simples contacto com estranhos poderia deitar tudo a perder… sobretudo numa altura em que se falava tanto de gripes, mas nada nos disse acerca dos baptizados. Soube-o mais tarde, e penso que nada se perdeu, pois ninguém, depois, perguntou nada…

Até o conduzir tinha sido desaconselhado. Só eu sei o que me disse a Neurologista, "de caras"... Talvez um dia eu conte...


Eu sei que é apenas um desabafo, e é, quanto a mim, um sinal da degradação a que já estava a chegar, senão vejam este pequeno apontamento que encontrei num dos caderninhos:









Beijos e abraços

O pai Bártolo

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

RESUMO (16)

Então, cumprindo o prometido aqui vai mais um bocadito de RESUMO

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ANOS DA MÃE

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A minha mãe fez anos. Ainda consegui ir buscar, na semana anterior, um presente, um perfume. Neste momento que penso nisso, acho que foi a última prenda que escolhi como tal. A minha amiga Teresa ia comigo. Nunca mais consegui fazer isso para mais ninguém. Engraçado é que a minha mãe ainda o tem, ainda não o terminou.

Há tantas coisas que deixei de fazer…e saber fazer…e gostar de sentir fazer. Não me deixam ir às compras, nem de comida, nem ao talho, nem á peixaria, nem sequer á padaria. Não posso gastar dinheiro nenhum das minhas poupanças. A dado momento reparei que o meu pai tinha creditado dinheiro na minha conta “porque estás a pagar a água, gás e luz e nós não tínhamos contribuído com nada”. Fiquei furiosa. Eles sustentam-me, eles mudaram de casa para cuidar de mim e depois fazem isto? Há, no entanto uma coisa que não espero fazer: mudar a minha residência fiscal para a deles, que é de outro concelho. Não o vou fazer. Não vou perder aquele hospital de referência, nem vou dar oportunidade a ninguém de me correr do IPO, mesmo que eu viva poucos meses. Isto dos hospitais passarem a EP tem muito que se lhe diga.

Não posso sair de casa a conduzir sozinha sem que isso faça os sobrolhos franzir. Não posso arrumar a casa como era costume, não posso limpar o pó dos móveis, lavar o chão, as varandas, varrer as garagens, enjoei a tal ponto que tenho de fugir da cozinha. Não posso fazer o meu tapete de Arraiolos porque faz tanto cotão que a minha mãe fica louca. Estou reduzida a computador, croché e livros.

Acho engraçado quando dizem que o cancro tem cura e se pode levar uma vida normal.

Quanto á primeira parte ok, concordo porque já vi. Quanto á segunda…não se pode levar uma vida normal fazendo os tratamentos em internamento. Levamos dias a recuperar da comida, dos intestinos, dos odores que aguentamos, do equilíbrio, dos glóbulos brancos que baixam e nos deixam sem defesas, do não caber naquela roupa e oops, afinal era a única coisa que tinha comprado com o último dinheiro que tinha recebido de trabalho feito. Ficamos fracos, a cabeça não pensa como estávamos habituados e não avisa. De repente parece que temos ataques de Alzheimer. Perguntamos estas coisas ao médico e do outro lado temos aquele silêncio profissional de largos anos, que espera que nós façamos outra pergunta mais fácil para se safarem daquela.

Sei que pareço uma queixinhas, mas passei do oito ao oitenta. De quem quase só ia a casa jantar e dormir a correr, passei a sapo, impedido por forças superiores (que nem me perguntaram nada) passei a não poder fazer quase nada. E não me venham com a ideia das artes aplicadas e colares e brincos, porque isso fazia eu ainda quando trabalhava, ok?

Bem, mas tive mais uma segunda-feira de vida “normal”. De manhã visitei o meu querido médico F.B. que me enviou para o IPO. Mantenho-o informado do que vou fazendo e ele lá vai tentando perceber o que se passa na minha cabecita. Pela tarde vou ao shopping com uma amiga. A Cláudia é perita em ver tudo nas lojas e não comprar nada, até faz impressão.

Com esperança no futuro, continuo a enviar o meu currículo para várias empresas da área em que trabalhei, mas é difícil. Há um tratamento, já não posso precisar qual, em que me telefonaram a oferecer horas de formação, mas eram á noite e o calendário não era compatível. A senhora do outro lado do fio ficou triste, e desejou-me tudo de bom.

Lá volto ao quintal mais três dias. Regresso na sexta-feira. Lógico que todas as pessoas normais arranjam que fazer no fim-de-semana, especialmente tendo filhos. Ao fim de semana não tenho amigas para ir ao shopping, logo fico no sofá da sala, numa espécie de limbo, esperando que passe e que aconteça alguma coisa diferente. Sei que os meus pais só querem cuidar de mim o melhor que sabem e podem, mas estão a asfixiar-me um pouco. Isto não se parece em nada com vida. Parece sim que estou continuamente á espera que passe. Entretanto, vai passando, mas e se o que vier no fim for mesmo e somente o fim? Desperdicei tudo. Desperdiçámos tudo.

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Para todos quantos se dignaram visitar-nos, um grande abraço

O pai Bártolo

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

RESUMO (15)

Mesmo nas férias aqui vai mais uma espécie de capítulo:

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MUNDO DAS BAIXAS

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Comecei a entrar no mundo das baixas, no termina e recomeça, recebe, não recebe.

No dia 17 de Março de 2008 tive então a 2ª consulta de Oncologia Médica, depois de fazer as análises. Comecei a quimioterapia em ciclos de três dias: doxorrubicina, ifosfamida e mesna, com direito a enjoos durante dois ou três dias. Fiz o 1º ciclo mesmo antes da Páscoa.

Depois fomos uns dias para a aldeia. É bom, os meus pais sentem-se melhor lá, é a casa deles.

Eu vou deixar de ter vontade. Tenho de aprender a desligar isto, apercebo-me neste momento.

Pelo início de Abril, começa a cair o meu pelo. O cabelo começa a soltar-se no dia 3 de Abril. Regresso de casa dos meus pais, onde continuo a sensação de exílio e, no dia 4, sexta-feira, vou como meu pai ao barbeiro dele para cortar o cabelo a máquina zero. Começo em pente 4. Eu disse-lhe: “Á vontade, é mesmo zero.” Mas ele ainda tentou pente 3, 2 e ok, pente zero. Que maravilha de higiene. Lenço por cima, com um nó de lado e toca a andar, evitando o sol, claro. Em brincadeiras de internet, soube que domingo, dia 6 era o meu 13609º dia no planeta. Lembro-me de pensar quantos mais haveria.

Nos três dias seguintes a mesma rotina: análises, consulta e internamento para o 2º ciclo de tratamento.

Quando voltei para casa precisei de anti-eméticos, ou seja, comprimidos que evitam enjoos e vómitos. Os enjoos ameaçam, mas nunca chego a vomitar. É que se começo, a coisa torna-se violenta e dolorosa. Vomitar cansa-me muito. Não sei se acontece com as outras pessoas. Acho que isto não costuma ser tema de conversa habitualmente.

O meu organismo lá melhorou na quinta e na sexta-feira. No domingo deu-me na cabeça de limpar o pó em casa. Sempre é uma coisa mais leve que posso fazer. Neste momento os remendos ainda não incomodam muito. Lá vou de novo três dias para a aldeia. Depois disso, o meu pai teve de rapar os 4mm que o meu cabelo cresceu, deve ter sido reacção á máquina hi hi. Mas doía na almofada. Agora tenho um “melão macio”. Sou mesmo cabeçuda.

Na segunda-feira seguinte consigo reunir-me com um grupinho de amigas para tomar um cafezinho de manhã. Chamamos-lhe o “café das dondocas”. Ficámos sem trabalho quase ao mesmo tempo, se bem que a minha razão foi diferente, para bem delas. Depois disso, novo exílio de três dias. Nada de cinema, exposições, compras, visitas a amigas, passeios. Nada. Casa e quintal. Abençoada internet móvel. Acho que se isto continuar fico meio louca, ou três quartos?

No fim-de-semana voltamos á cidade. Parece que a minha mãe não tem paciência para os comboios de pessoas que vão oferecer bolinho sortido aos doentes, como manda a tradição lá da terra. Eu cá gosto do bolinho sortido, só não entendo porque é que as pessoas ficam todas com um ar muito sério e a olhar para a decoração. Mas, em geral, gosto do bolinho sortido.

Segunda, terça e quarta-feira: novo ciclo de tratamento. Nos intervalos vou pagando os dias da Segurança Social que “sobram”. Só estou a pedir baixa dos dias de tratamento mesmo. Desconfio que o meu esforço é escusado. Não pertencia a quadro nenhum, portanto, não tenho protecção na doença além desta baixa que vai durando. O seguro de acidentes de trabalho é disso mesmo, logo não é para aqui chamado. Não consigo arranjar formação para dar nos dias em que me dá jeito, nenhuma empresa quer aturar isso. Preferem ter os formadores prontinhos a saltar uns quilómetros, em vez de dar algum tipo de incentivo a pessoas com necessidades especiais. Entretanto, mais uma coisa que ninguém conversa. Na primeira semana que passo em casa, juntamente com quinta-feira e afins…passo esse tempo todo para me pôr em ordem novamente. Fico inchada, tenho de vestir dois nºs acima. Fico obstipada, problema que já tinha, mas agora agravou-se devido aos cito tóxicos que me administram (os medicamentos que matam as células), e fico dependente da minha casa de banho. Pode parecer ridículo, mas se não evacuar todos os dias começo a ficar em pânico. Este tratamento fez-me surgir uma coisa linda e agradável de seu nome hemorróidas. Mesmo à saída, é de chorar quando vou á casa de banho. É um assunto aparentemente parvo, mas não de tão fácil resolução quanto possa parecer. Acho giríssimo quando alguém, lá do topo da sua infinita sabedoria diz: “Ah, tome lactulose que fica logo bem”. Sim, as pessoas normais ficam logo bem, as que estão a fazer quimio nem por isso. Tomo 3 saquetas e nada. E vão os grânulos, e a sopa, e as saladas, e os legumes cozidos, e o requeijão, e a fruta, e os kiwis em jejum, já não sei que mais faça. Bem, esperamos que funcione, senão vai como diz um amigo que conheci no IPO, e já anda nestas vidas desde os 19 anos (tem agora 30), “se não sai a bem, sai a mal”. E vai de microclister. Lá dentro é que não pode ficar todo o lixo que é suposto expulsar. É caso para dizer “que conversa de merda”.

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Um abraço

O pai Bártolo