segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Vai acabar, tenho de avisar...

...a brincadeira dos Textos Intratáveis. O que julgavam que fosse, hein?





Acabaram as cartas de uns para os outros. Podem colocá-las por ordem, a que usei na publicação aqui. A única piada que poderá ter é que, afinal todas as pessoas envolvidas de conhecem e interagem. Há pessoas boas e más, com sorte e com azar.



Mas não tenho mais, e não sou capaz de continuar. As datas escritas nas cartas são verdadeiras. Já não me lembraria do enredo necessário á continuação, e não ficaria bem agora. A Tia Branca que me desculpe, mas o puzzle acabou.





Estou, no entanto, a tentar escrever o que me aconteceu desde Dezembro de 2006, quando me disseram que tinha cancro.


Queria muito lembrar-me daquelas coisas tolas que pensamos, mas que afinal outras 300 pessoas pensam. Queria transpor para o papel/blogue todas as raivas, fungadelas, dores, corridas, sonhos abalados...you know!





Até aqueles pormenores do microlax, que parece um tabu enorme.


Por essa razão, faço dois posts hoje.





Porque acabou a colecção de cartas. Porque hei-de conseguir dividir a minha história de modo que seja legível aqui (já sei que vou ser corrida da comunidade: faço posts do tamanho de combóios).





Amanhã vou de férias, tá? Se o meu sanguito estiver em condições, faço o terceiro tratamento de Yondelis, terça e quarta-feira. Depois não prometo nada, se estiver bem passo por aqui, se demorar, é porque estou a enjoar algures, don't worry.





Beijinhos a todos, a gosto.














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Texto Intratável de Hoje - "Carta de Clara a Beatriz"



Carta de Clara a Beatriz

Abril de 2005

Beatriz,

Parece que Deus existe, afinal.
Lembras-te da maravilhosa M. e suas maquinações?
Pois o Anjo não foi nada parvo, não senhora. Aquilo deu confusão por causa do grupo sanguíneo e, ele, desconfiado, quis um teste de ADN. E sabes que mais? A bebé não é filha dele!
Aquela gaja…eu nem digo nada. Já viste o golpe? O que vale é que ainda se soube a tempo. Nem se casaram, nem lhe deu o nome, nem foram ter com os pais dele.
Parece que a M. está a trabalhar perto de casa dela, a ganhar pouco por azar. O que liga muito mal com as aspirações da peça. Foi bem feito. O que ela andou a fazer à Joana e ao José foi muito feio. A bebé é que não tem culpa nenhuma.

Acho que agora somos nós que entramos em acção. Sabes quando é que a Joana volta para Portugal? Não consigo esquecer a cara dela com a carta do José na mão, lembras-te?
Ficou mais branca que o papel. E calou-se durante dias. Quando falou foi para nos dizer que ia embora por uns tempos. Ela tem dado poucas notícias, e nunca ousei tocar no tema “José” com medo que ela explodisse.
Achas que ela lhe perdoa o pingue-pongue? Que chatice, estas confusões.
Nunca percebi o José, a M. não tem nada de especial.
Por que é que eles são tão teimosos?

O que achas, Beatriz? Eles merecem paz, não?
Eu penso que devíamos dar um empurrãozito. Vê se sabes alguma coisa.
Tu empurras a Joana e eu trato do José.
Temos de conseguir.

Clara.
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sábado, 29 de agosto de 2009

Estou tão feliz!





Quando notei que tinha um caroço no ombro direito, em Novembro de 2007, partilhei isso em voz muito baixinha com uma colega e amiga. Foi em voz baixinha porque estávamos a usar os computadores da sala de professores, lado a lado, e não queríamos a nossa vida particular a bailar por um ambiente que àquela data não era famoso.





O problema foi quando ela me disse que tinha encontrado um na mama direita. Peço desculpa se ofendo alguém, mas é assim que digo: mama.



Lá que houvesse recidivas em mim, pronto, não gostava da ideia, mas assustei-me com ela, com o facto de ter notado algo que não devia, por ainda não ter feito 30 anos sequer, por ter tudo por fazer ainda. A minha mente saltou de fotograma em fotograma, calculando o pior.



Estava a ser seguida pela sua médica, e iria fazer uma mamografia, mas faltavam duas semanas, o que para mim era uma eternidade. Da mamografia passou para biópsia com agulha, que foi um pouco difícil. A massa a “espetar” era bastante dura. As notícias vieram e…era maligno.





A R. tinha acompanhado tudo o que se passara comigo até àquela altura. Disse-me um dia: “Agora é que começo a perceber algumas das coisas que tu dizias.” Eu preferia que ela não tivesse percebido. Passou imenso tempo a fazer isto tudo.



Fez ainda TACs e uma PET, que acompanhei, para evitar a seca dos pais ou da irmã. Eles iam ter muito trabalho depois. A R. Mantinha-se serena, de uma força enorme, que muitas vezes me levantou do chão, com um optimismo, como se tivesse marcado na agenda ter um cancro, curá-lo e voltar á vida normal.



Fez mastectomia direita em Outubro de 2008, radioterapia com muitas dores e pele queimada, quimioterapia, transfusões, antibiótico por causa do cateter semi-implantável, febre, enjoos, vómitos, bolhas na língua e boca. Tudo o que fosse doloroso tinha de a atacar pelo menos um ou dois dias!



Ligou-me na quarta-feira passada, desconfiada que lhe iam tirar o cateter. Tinha dado entrada por fazer febre de novo, e estava a fazer uma mistura bombástica de antibiótico (Tanto que ela tomou!). Passou uma semana inteirinha no hospital. (Ela frequenta outro).
Tiraram o cateter, sim.



O médico conversou com ela e … disse-lhe para ir trabalhar.


Está livre.


A minha R. querida está livre, não há mais tratamentos, há revisões, há médico ginecologista onde deve ser seguida, mas pode ir á vida dela.





Afinal deu certo. Entretanto fez 30 anos, que não foi uma fase famosa. E fez recentemente 31. Teve uma semana linda.





Foi ontem para casa, espero que tenha dormido bem esta primeira noite de uma vida limpinha de fresco.
Os pais estão eléctricos, tal como a irmã e o namorado. Poderá continuar o rumo dela.
E eu, pelo menos, e sei que vós também, mesmo sem a conhecer estarão a torcer por ela.

Obrigada R. por me teres feito olhar as estrelas quando precisei. Há poucas pessoas como tu.














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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Pingou uma lágrima quando finei a actividade profissional




Ontem fui transportada pelo meu pai á Segurança Social para dar baixa da actividade de trabalhadora independente. Tinha feito o mesmo no site das Finanças, no dia anterior, e tinha já a declaração comigo, em formato pdf. Óptimo para quem está limitada como eu. Mas, na Segurança Social tinha de ser presencialmente. Liguei para a linha de apoio deles e perguntei se era necessário levar alguma documentação além do normal BI, NIF, e cartão da SS. Do outro lado disseram-me que não, não era preciso mais nada.


Ora, como sou picuinhas, levei o documento de início de actividade (de 1993), uma carta que servia de identificação de beneficiário (nas vezes do cartão), uma listagem das minhas contribuições todas que é possível descarregar do site da SS, e o documento das finanças declarando que eu cessara actividade na segunda-feira.


E não é que foi preciso exactamente esse? Lá contei a história á senhora que me atendeu, que evidentemente ficou espantada. Entreguei os documentos (cópia que a senhora tirou), fiquei com um recibo do que entreguei e a sensação que falta alguma coisa, mas depois se vê.


Não tinha cessado actividade porque tinha sempre a esperança de ter um intervalinho em que me sentisse melhor e pudesse dar uma formaçãozita de algumas horas, para não perder o jeito.
A única coisa que consegui até domingo, foi receber 360 dos 365 dias de baixa a que os trabalhadores independentes têm direito se contribuírem no regime alargado. No primeiro ano que fiz quimioterapia, só apresentava baixa dos dias de tratamento ou da semana que ficava grogue. Os outros dias, contava-os e pagava-os. Á noite, via alegremente aquelas pessoas que exigem, aos berros, habitação social e têm TV cabo, carros bons e fazem do parir um filho uma maneira de ter mais um subsídio. Este ano, com os internamentos de 5 dias, e só com duas semanas de intervalo (que foi um meio ano horrível sem resultado bom nenhum) optei e pedi ao médico para ter baixa contínua. Lá me convenci que não conseguiria trabalhar coisa nenhuma. Aprendi então que primeiro vai um CIT de 15 dias, e depois são mensais. Desde 09 de Dezembro até meados de Junho fui chamada a 3 juntas médicas. Gostei do optimismo da SS. Quase parecia que eu ficava boa de uma junta para a seguinte e ia a correr trabalhar. Como aliás acontecia a todos os outros utentes do IPO que vi por lá.


O resultado foi receber 300 euros por mês (de acordo com as contribuições que tinha feito, claro, disso não me queixo, foi opção minha). Agora acabou, não tenho mais nada. Vou começar a tratar da pensão por invalidez, mas como já fiz a simulação, também não vou saltar de alegria por aí. Tenho quase 15 anos de trabalho, lamento mas não consegui ser mais rápida (foi mesmo a escolinha toda seguida, férias de duas semanas e comecei a dar aulinhas). O 1º ano é de isenção na SS, logo não conta para nada. Depois houve uns ajustes na legislação das pensões. Tem de se ter mais de 15 anos de descontos, aproveitam-se os melhores 10 e mesmo sendo doente oncológica, o que descontei vai para o tecto.


Prometo que se acontecer ao contrário eu aviso. Acho que pedir o outro apoio de dependente, que efectivamente sou (se não forem os meus pais a mudar-me de sítio, fazer-me tudo, pagar-me a comida e medicamentos, morro na miséria) não dá em nada. Não tenho propriedades, mas os meus pais foram funcionários públicos e passam o limite aceitável neste país.
Quem poupa é castigado. Quem estoira recebe presentes.

Mas por falar em presentes, fui bem atendida. Fiquei com umas dores horríveis nas pernas (teimo em não tomar um dos prescritos que é morfina de sos). Dantes costumava andar por ali quase a correr, até porque ficava perto do lugar onde a minha mãe trabalhou. É estranho e dói cá dentro passar nos sítios onde sempre passei e vivi, e não me conseguir mexer. Neste momento olhei para o chão, e está lá uma melga morta, a quem dei um chapadão ontem á noite, e não consigo apanhá-la. Vai ter de ser a minha mãe…outra vez.

Bem, mas o que aconteceu mais…a caminho de casa, o meu pai parou no café de um amigo meu, onde eu ainda não tinha ido, apesar de ele já ter aberto o estaminé há meses. É o meu tal Amigo, com quem tenho tantas saudades de conversar. Ele e os meus pais conhecem-se das visitas que ele me fez desde que fiquei doente (ou soube que estava). Ele reparou que o meu cabelo já cresceu um pouco, ficou espantado com o inchaço dos meus pés, e sei lá o que lhe passou pela cabeça. Conhecemo-nos há cerca de 10 anos. Ele lembra-se de mim mais nova, mais magra, mais jeitosa, de saltos altos e saia gira, correndo e saltitando e dançando. Lembro-me de o desafiar a irmos para as danças de salão, mas ele não quis. Jogámos ténis, e conversámos sempre muito. Conhecemo-nos no trabalho, mas foi uma ligação que perdurou além disso. Ele teve juízo e saiu daquela escola no ano em que começou a apodrecer. Ele deve ter ficado triste de me ver tão diferente, mas um dia destes temos de por a conversa em dia. Não sei quando ou como, mas preciso disso, e ele também.

No momento em que me chegou a declaração em pdf das finanças a fechar a actividade, caiu-me uma lágrima. Lembro-me de ter preenchido os triplicados ou duplicados nas finanças. Curiosamente o meu pai foi comigo, porque eu não percebia nada daquilo e ele tinha lá um colega que pelo menos me faria preencher os formulários correctos, né? Naquela altura, os trabalhadores a recibo verde ainda eram um pouco raros, eh eh. Agora percebo mais eu, ahahahaha.
Fiquei triste com aquele clique. Foi-se, acabou.

E, mais uma vez preciso do meu Amigo, preciso do ombro dele, do mundo dele, da normalidade dele, da simplicidade dele.
Acho que as minhas amigas foram de férias e esqueceram-se de quem não pode ir. Vamos ver como reajo á próxima sms ou contacto. Parece que só os homens e muito poucas mulheres são normais.

O mundo continua torto, e eu também.


Beijinhos e abraços a gosto.



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sábado, 22 de agosto de 2009

Mulheres Fenomenais

Apesar do título, dedico-o também aos homens fenomenais, que cuidam das "suas" mulheres fenomenais. Hoje estive imersa em escritos que hão-de aparecer. Daqueles que escrevo e deixo fermentar. Estou com a neura, claro está. Tenho um mau pressentimento quanto á tac que fiz, até é mais uma certeza, só não sei qual será a escolha do médico. Acho que isto não está a progredir o que devia. Sei que o processo é lento e delicado, e estou a ser parva, pois para quem deixou de andar até estou bem. Mas queria um pouquito mais.




Que mundo tão torto este.



Só espero não me ter enganado e já ter publicado este texto. Beijinhos e abraços a gosto.





“Só para mulheres fenomenais”

Tem sempre presente que a pele se enruga, o cabelo embranquece, os dias convertem-se em anos…
Mas o que é mais importante não muda; a tua força e convicção não têm idade.
O teu espírito é como qualquer teia de aranha.
Atrás de cada conquista vem um novo desafio.
Enquanto estiveres viva, sente-te viva.
Se sentes saudades do que fazias, volta a fazê-lo.
Não vivas de fotografias amarelecidas.
Continua quando todos esperam que desistas.
Não deixes que enferruje o ferro que existe em ti.
Faz com que em vez de pena, te tenham respeito.
Quando não conseguires correr através dos anos, trota.
Quando não conseguires trotar, caminha.
Quando não conseguires caminhar, usa uma bengala.
Mas nunca te detenhas!!!

(Madre Teresa de Calcutá)

Recebido via e-mail da amiga Lucita-Sempre-Presente





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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Texto Intratável de Hoje - "Carta de Anjo a Joana"

Carta de Anjo a Joana

12 de Agosto de 2004


Joana,

Passei uma semana com o Daniel e acho que ele ainda não acredita que a Bela desapareceu de vez da vida dele. Parece um doido. Mal dorme, fuma cigarro atrás de cigarro, e acho que anda a beber um bocado de mais. Enfim…

Ele falou-me de um assunto que eu desconhecia, mas que tu deves saber. A Bela tinha pensado que estava grávida e fez um teste que deu negativo. Ela só lhe disse depois e ele ficou desfeito. Ele continua a martelar na mesma ideia. Não entende por que a Bela não lhe diria nada se estivesse grávida mesmo. Ele sabia que era dele. Ele não entende. Eu perguntei-lhe se alguma vez falara disso com ela. Ele respondeu-me que não.

Penso que ele não quer acreditar que foi um parvalhão, que perdeu a Bela de vez. Não sabe lidar com isso. Eu também não saberia.

Estas coisas fazem-nos pensar, amiga. É o que tenho feito. E acredita que tenho motivo para isso. Tenho que te contar uma coisa. Soube há dias que vou ser pai. Eu e a M. voltámos, sabes? Eu sei que não atinas nada com ela. Mas não posso fugir às minhas obrigações, não é? Os meus pais matavam-me, e tenho vergonha na cara. Quem anda à chuva molha-se. E…pronto, sabes que não gosto de falar da minha vida.

Estamos a pensar em ir ter com os meus pais, e vamos trabalhar lá na empresa. A bebé vai nascer em Janeiro, num continente mais ameno. O meu mês preferido. Partimos em Março.

Parece que vou arrumar a minha vida, apesar de não ser do modo que sonhei. Imagino que não fiques nada contente, mas agora tem de ser assim. Só não te peço perdão porque sei que não me perdoas.

Por favor, quando eu for, mantenham o Daniel debaixo de olho, sim?

Grande xi e beijinhos molhados,
José



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domingo, 16 de agosto de 2009

Texto Intratável de Hoje - "Carta de M. a António"



Carta de M. a António

1 de Agosto de 2004

Viva António.

Parabéns pelo nascimento do teu bebé. A tua mulher está bem? Espero que sim.
Eu vou bem. A gravidez está a correr normalmente. Estou a meio do tempo. Já falei com o José acerca do assunto. Ele ficou de gatas. Apanhou um susto que nem imaginas. Agora acho bem que a parva da Joana se ponha a milhas. Ela é tão infantil, pensa que o amor existe. Que disparate.
O José só quer cama. Então, está bem. Por mim, óptimo. Aquele tolo fartou-se de andar às voltas dela e levou sempre para trás. E insistiu! Eu topei que ali havia coisa. Uma bela noite, “encontrei-o” no bar do costume, e eu tinha combinado com o Gonçalo que ele me deixava lá sem boleia, para me pendurar no José, estás a ver? E não é que a Joana entra bar dentro, porque ele afinal a tinha convidado? Fiquei tão danada que acabei por sair porta fora com o Gonçalo, com uma desculpa qualquer. O José nem reparou em mim. Ficou lá e sei que acabaram por sair juntos. Fiquei capaz de matá-la.

Mas acabei por ganhar, António. São vantagens de viver fora da família. Sempre que o José precisava de alguma coisa, lá estava eu. Claro que a Joana nunca conseguia fazer o mesmo. Depois foi uma questão de me armar em coitadinha, coisa que ele adora, porque o faz sentir-se melhor. E a Joana foi ficando para trás. O problema é que ela topou que eu andava a mostrar a minha conquista. E deu umas pistas ao José. Ele ainda discutiu comigo, mas consegui tirar-lhe a ideia de que estava a ser usado da cabeça. Acabou por se zangar com ela. Se ela pensava que me ganhava, estava muito enganada. O José é meu, vou ter um filho dele.

O negócio dos pais dele está a correr bem. O José e eu vamos ter com eles em Março e ficamos a trabalhar lá na empresa. Vou ter uma vida boa.

A minha filha vai nascer em meados de Janeiro.
Vai tudo correr bem. Logo que possa, devolvo-te o dinheiro que me emprestaste.

Beijos à Luísa.
M.
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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Parece que estou bem e a ética dos blogues


Olá, voltei do 2º ciclo, sinto-me inchada mal bebo um copo de água, mas isto passa. Não sei se estará a curar alguma coisa, mas acho que já nem ligo. Um dia será o dia. É mesmo assim.


Descobri hoje (ah, vou ser politicamente incorrecta) que um grupo que estava a fazer um trabalho sobre a auto-estima em doentes com diagnóstico de cancro nunca publicou o comentário que lhes enviei.

Fizeram bem, eu avisei que este tema era pesado para jovens daquela idade, e remeti-as para outros blogues.


Fizeram mal num aspecto. Caso não se saiba existe ética nos blogues. Não se apagam comentários a não ser que sejam ostensivamente abusadores dos bons costumes. Um blogue, a partir do momento que é público, está sujeito a isso mesmo: a receber informação não esperada. Por isso há possibilidade de contactar o "blogger" via e-mail. Para resolução de casos diferentes ou inesperados.


Não fico nada zangada pelo facto das meninas que estão já de férias não terem publicado o meu comentário. Se calhar o blogue delas nem os aceita, mas para isso deviam avisar, e não foi o caso.


Fico triste, enquanto ex-educadora, que tenham possivelmente sido mal orientadas na feitura deste projecto, ou que não tenham ligado ás orientações.


E agradeço-lhes por me terem relembrado que a sociedade a que estamos entregues não aguenta compromissos, nem respeita o espaço e os sentimentos alheios. Por trás de um blogue existem pessoas. Reservo-me o direito de as escolher melhor, decerto não estarei disponível para este blogue que retirei há minutos da lista dos que sigo.


Lamento ...mas pouco.


Deixo um beijinho para os crescidos que por aqui vagueiam e sabem pensar. (Mas porque raio é que eu era obrigada a pensar só com 16 anitos? Agora só se pensa aos 30?) Mas que mistério.



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domingo, 9 de agosto de 2009

"Cantiga dos Ais"

Eu costumava sentar-me no chão da sala da minha Avó, e via atentamente, a preto e branco, a poesia e a música clássica que passava pelo caixote...então de madeira.

Era tão raro obter informação, que bebíamos tudo, eu teria perto de 7 ou 8 anos. Passei assim pela vida. Hoje, nem sei para onde me virar com tantos dados novos a cada instante, hi hi. Mudanças.

Mas, algo continua igual. As pessoas queixam-se do mesmo modo, e eu pretendo refilar e queixar-me enquanto puder,sim?

Voltem sempre, meus amores. Apreciem, espero que este meu 1º upload de vídeo não encrave.

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Texto Intratável de Hoje - "Nona Carta de Joana ao Anjo"


Nona Carta de Joana ao Anjo

30 de Julho de 2004

Olá Anjo.
Lembras-te da Bela? A amiga do Daniel, teu amigo das serenatas? Pois, ela morreu, Anjo. No dia 19. Foi atropelada por um fulano que se despistou, ou viu três faixas de rodagem em vez de uma, já que estava bêbedo como um cacho. Estou tão zangada, Anjo.

A Bela ia ser operada e estava muito triste. Ela tinha o sonho de ser mãe e acabou por saber que tinha cancro no útero. Queria ainda fazer uma viagem na qual não embarcou. A viagem dela terminou quando aquela besta a esborrachou em cima do passeio, contra o muro junto ao edifício do Turismo. Ainda não tive coragem de passar lá.

Ela escreveu-me antes de viajar, e também à Ana e à Clara. Uma carta muito bonita, cheia de coisas lindas e pensamentos positivos.
No ano passado tinha morrido um amigo da Clara, num acidente de viação. Eram da mesma idade. Foi bastante duro. Mas a Bela era a nossa Bela. Bem disposta e brincalhona nos dias bons e um autêntico vulcão nos dias maus.

Isto faz-me pensar mais fundo, além de causar uma enorme tristeza. A Bela faz-me falta e sempre fará. Preciso das ideias dela, da opinião, do refilar, das alergias e até do maldito fumo do tabaco que ela não largava. Vou ficar com o cão dela. Ele até se entende comigo. Quando ela ia para fora, o Faísca ficava sempre comigo. Ele também está triste. Aquele pastor alemão parece saber que a dona já não volta.

Isto faz-me pensar, Anjo, nos momentos que as pessoas desperdiçam com detalhes mesquinhos ou por causa dos próprios detalhes. Que importa o orgulho, a teimosia, se não temos aqueles que amamos junto a nós, ou pelo menos de boa saúde?

Pensa nisto, Anjo. Preciso da tua ajuda. Neste momento não tenho força, e nem quero ser teimosa. Só quero viver.

Beijos da Joana


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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Dispensa de uma secção



Hoje tive consulta de rotina na secção de Radioterapia. Não foi a médica usual que me viu, mas também parece que nem é costume fazer este tipo de consulta um mês depois, para controlo, segundo me disse a médica de hoje.
Deve ser por também não ser costume fazer rádio de urgência para “safar” umas vértebras. Fui oficialmente dispensada da Radioterapia, por agora pelo menos.
Eu, com as minhas pressas queria ficar já mais operacional, porque me irrito de deixar cair coisas e depois não conseguir apanhá-las. Até parece que deixo cair muita coisa, não deixo, mas agora presto mais atenção a isso.

Bem, em conjunto com a informação da Neurologia, na comparação das duas TAC, é visível o progresso na calcificação da L5 e D3 (pretende-se que calcifique dado que o tumor andou a comer o meu material ósseo).
Tenho de ter muito cuidado durante os próximos 3 meses, e dentro de seis é possível que consiga chegar com os dedos das mãos mais perto dos pés, e talvez consiga dobrar as pernas como fazia antes. Não posso conduzir nem pegar em pesos.
Sei que é muito bom para quem deixou de andar.
Mas não me chega.

Tal como me enervei porque hoje tive de comprar umas roupas e o meu pai insistiu em pagá-las (nem para isso sirvo? Sei que ele não fez por mal, mas esquece-se muito de se colocar na minha situação); já chega eu não poder trabalhar em lado nenhum porque não era do quadro e tive de me despedir para me tratar. Tudo parece deitar abaixo.
Isto depois de ter notado que o meu carro (finalmente o meu pai lá ia conduzir “a carroça” que não circula desde Junho, no dia em que foi á inspecção) morreu. Bateria pifada por falta de uso, pois é quase nova.
E ainda por cima descobri que engordei, pois lá tive coragem de me pesar. Passei a fasquia que tinha estabelecido como limite máximo do pânico, a qual nem vos digo.

Como sopinha e fruta, pouca carne, pouco pão, nada de fritos, nada de bolos, frutos secos são os amendoins (mas em pouquíssima quantidade), o chocolate é amargo…e afins. Não sei que mais hei-de cortar na alimentação. Realmente aumentei a ingestão de fruta, será disso? Mais açúcar que eu quase não comia? O queijo é tipo flamengo, já que costumava comer da Serra. E será também de toda a medicação para a dor e corticóides, mas é demais.

Hoje, apesar de ter cruzado com uma senhora bastante despachada portadora de uma prótese (perna esquerda) que ia de calções, e me fez pensar;… mesmo assim hoje foi um daqueles dias que começou a rir e vai acabar com nuvens. Acho-me no direito de estar chateada e triste hoje.

Caramba, esta coisa representa cerca de 1% dos tumores malignos estudados e conhecidos no mundo, porque raio havia eu de acertar num?
Quero a minha vida de volta.

Amanhã estarei mais bem disposta, mas quando me chateio fico assim, e vocês também podem saber disso, não vos faz mal. Deixai lá a preocupação comigo, que isto passa.

Estou, entretanto a ver quem me responde a SMS que enviei a alguns amigos e amigas a perguntar como iam. Houve quem ligasse, houve quem enviasse SMS. Houve quem ainda não disse nada. Logo vejo. Talvez a próxima SMS seja assim algo: “Olá caro amigo/a, só enviei SMS para dizer que morri, e chegaste atrasado/a ao funeral. Já não precisas responder, tá? Bjs”
Era bué giro, não?

Beijinhos mas é para vocês, que esta coisa de andar tudo a perguntar como estamos a terceiras pessoas sem nos dizer que ainda sabem onde vivemos não tem graça, porra. Perguntem a quem está doente, gostamos de ouvir as pessoas, excepto se estivermos enjoados. A dada altura parece que se escondeu toda a gente, e não estou a falar do facto de ser o “querido mês de Agosto”. As pessoas olham-se de frente, tal como tudo na vida, o bom e o mau. Se assim não for, pode ir andando.
Fiquei mesmo zangada com algumas pessoas das minhas relações. Mas isso é porque eu tenho outras prioridades agora: não tenho filhos nem marido, logo a minha rotina é diferente. Uma saia gira é para mim um pedaço de tecido, nada mais, não encontro beleza em lado nenhum. Fico é preocupada se não consigo voltar a baixar-me para meter a louça na máquina, isso sim preocupa-me. Ou mesmo se isto de deixar de andar volta a acontecer. E não entendo porque é que várias pessoas que souberam nem reagiram??????

Graças aos deuses tenho amigas que mesmo longe me deram e continuam a dar apoio, porque algumas das que estão perto ou ficaram surdas, ou tolas, ou com medo. Devo ser eu que funciono mal e pronto. Mas que deste lado parecem parvas, parecem , peço desculpa pela frontalidade.

Caramba, que dia mau para o meu neurónio.





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