quarta-feira, 18 de março de 2009

Texto Intratável de Hoje - "Quarta Carta ao Anjo"

Quarta Carta ao Anjo


Os olhares desses teus olhos, ai, ai. Há tempos vieram perguntar-me porque é que tu eras tão tímido a olhar para mim. Pronto, mais uma cena para eu desmontar, desmentir, aldrabar, ignorar e tudo mais. Claro que eu disse que não era nada, era impressão. Já me perguntaram se havia alguma coisa entre nós, eu respondi pronta e calmamente que não. Perguntei porque achava isso. “É que parece que há um clima...” Eu não gosto deste tipo de boquinhas, não gostaria mesmo que houvesse algo, e muito menos porque não há. Se te chega alguma destas aos ouvidos tu ainda pensas que fui eu que as inventei. E chove para cima de mim outra vez.
Eu realmente sabia que não namoravas. Eu não fui perguntar à M. por duvidar de ti. Eu precisava de ver a cara dela. Nós as duas éramos mais ou menos amigas. Quando apareceste, a coisa mudou de figura. Também foi na altura da doença da mãe dela. Mas há coincidências que, quando são a mais, cheiram mal às mulheres. Ela até pode achar que és muito querido, saber que não queres nada com ela, mas no fundo ela até gostava. Era isso que eu desconfiava. Não é crime, eu também gosto. Achas que ela só te contou por achar piada à minha estupidez? Que foi só para te informar que eu andava a cuscar? Pode ter sido. Mas também lhe deu jeito para ver a tua reacção ou resposta. Tu és muito observador, excepto quando andas irritado. E tens andado um bocado. Continua a ter cuidado com os amigos que se riem muito para ti. Tu sabes ver muito bem, mas não te distraias. Eu, que não tenho nada a ver com a tua vida, tenho observado muita gente que precisa sempre de ti para alguma coisa. E tu, tens pedido ajuda a alguém? Quem te tem oferecido ajuda?
Ando com um pressentimento estranho. Chama-me bruxa se quiseres. Francamente, se me considerasses mesmo amiga, não ficavas tão irritado com a pergunta que eu fiz. Os amigos acabam por meter o nariz na vida uns dos outros. Grave seria eu perguntar à moça quanto mede o teu... ACHAS?! ACHAS QUE EU SOU ASSIM TÃO ESTÚPIDA? Eu não sou. Também não fui nada simpática na resposta que te dei quando gritaste comigo, mas foi pelo choque da tua reacção. Achei enorme, exagerada. É que eu também me irrito, sabes? Fui atropelada por um comboio. Fiquei sem saber o que fazer. Afinal não podia confiar na M. (mais um balde de água fria). Isto tudo porque tu andavas a escapar muito. Quando te perguntei, porque estava sinceramente preocupada, do que te tinha dito o médico, e do resto quando fiz muitas perguntas, acabaste por me enxotar. Passou-se alguma coisa parva contigo outra vez, que eu não sei, mas que te enervou valentemente. Eu acertei a fazer merda no dia errado, não foi? Outras razões? Bem... Todos ganhamos mal. Escusas de ser orgulhoso, porque podes magoar-te. Não é por não seres o Bill Gates que vais perder os teus amigos. Não precisas ser forte todos os dias, não és o super-homem, esse gajo é um desenho animado. Tu és de carne e osso (e de que carne), como todos os outros. Tens sonhos e projectos que te distinguem dos demais, tens o teu doce coração, mas não te esqueças que “é fácil ser difícil”. É natural que alguém goste de ti e queira estar próximo de ti. Isso implica brincarem contigo, contarem-te os seus problemas e alegrias, esperar que tu faças o mesmo. Os amigos são os amigos, os outros são conhecidos. Então parece que era só nesta última prateleira que eu tinha lugar. Não fiz por mal. Tentei defender-me de mais bocas, tirar dúvidas e calar um dos megafones da escola que é amigo da M. Acredito que não entendas esta lógica. Não admito é que não acredites em mim.
Uma vez disseste-me que eras muito influenciável. Recorda-te disso.
Por vezes estamos tão ocupados com um pormenor, que nos esquecemos de tudo o resto, que é bem melhor e nos cerca, esperando que nós reparemos. Por vezes, quando acordamos é tarde.
Tenho de aguentar o pouco que tenho, pois vou ter de sobreviver de algum modo, sozinha, quando me faltarem os meus pais. Tenho medo desses dias e não gosto dos que vivo. Estou em constante repressão, vivendo dia após dia. Não faço planos para nada. Não sei se vai haver guerra ou não. Não sei se vale a pena criar condições para ter os meus sonhados três filhotes. Nem sequer tenho a certeza se os posso ter. Mas neste momento, nem sequer quero saber. Sinto-me inútil muitas vezes ao acordar e ao deitar. Nos intervalos tento ser feliz. Se não o sei fazer sozinha, peço ajuda. Nem sempre a tenho. Sabes porquê? Porque tive demasiadas neuras antes. Os amigos fartaram-se de mim. Dizes tu, “Arranjam-se outros.” Será mesmo? Uma vez tive uma depressão, mas não gosto do nome. Demorei muito tempo a voltar a confiar. Vê lá só em quem fui confiar. Em ti. Tens sempre provado silenciosamente que acabas por ter razão. Experimenta a confiar um pouco em mim, vê com atenção o que vou fazendo, empurrando, provocando e compara. Os métodos são diferentes, a ideia é semelhante, mas o raio do choque, YES é muito igual. O problema é que tenho ar de sonsa, forte, organizada. Não sou nada disso. Por favor, quem precisa de mimo sou eu.
Agora, perante tudo o que se passou, gostar de ti é algo que tenho de esconder, até porque me deixas atarantada e só faço asneiras. A sério que acho que entretanto também já achaste que reagiste demais. Toma em consideração o meu nível de inteligência. Eu não penso como tu. E só penso às vezes. Normalmente sinto. É por isso que não somos clones. Não estou nem a brincar, nem a armar-me em maternalista e muito menos em vítima. Tu intimidas-me. Odeio deixar coisas meias ditas. Estou a escrever porque não me queres ouvir. Assim podes sempre ter a satisfação de rasgar e deitar fora. Entretanto, já devo ter feito alguma daquelas minhas trombas-tipo-cerca-electrificada. Mas tenho medo de falar para ti, a sério. Parece um enorme incómodo. Adorava acordar agora e descobrir que estava a ter um pesadelo.
Isto mexeu muito comigo. E as coisas vão ser diferentes a partir de hoje. Só me meto em coisas complicadas, não é?
E também li uma coisa bonita:
“Muita gente tem medo da felicidade. Para essas pessoas, esta palavra significa mudar uma série de hábitos ¾ e perder a sua própria identidade. Muitas vezes julgamo-nos indignos das coisas boas que acontecem connosco. Não aceitamos, porque aceitá-las dá-nos a sensação de que ficamos a dever alguma coisa a Deus.
Pensamos: “É melhor não provar o cálice da alegria porque, quando este nos faltar, iremos sofrer muito.” Por medo de diminuir, deixamos de crescer. Por medo de chorar, deixamos de rir.”
Há uma data que me diz muito. Sobre ela nunca escreverei. Tenho uma recordação tua, que ficou esquecida num cantinho. É ridícula para ti, não compromete porque não identifica nada nem ninguém, só me recorda um momento. Anda sempre comigo. É uma memória só minha, só minha.
Deve ser a única que vai ficar de ti. Lamento imenso.

P.S.: Juro que estou a seguir a medicação à risca. Estou bastante mais calma. Eu andava em “slide” porque não conseguia controlar algumas coisas e porque me armei em forte. Como não sou, dei o braço a torcer e agora não mordo em ninguém. Não digas nada, porque ainda me despedem.
Beijos da Joana


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terça-feira, 17 de março de 2009

Aqui vai a informação.


Sei que há conteúdos que não são adequados a crianças e pessoas sensíveis. Pode não ser politicamente correcto transcrever para aqui o texto que se segue. Vou permitir-me ser egoísta e vou fazê-lo.

Esta semana perguntei ao meu médico porque nunca me falava em "marcadores", sendo eu "de letras" se me podia explicar. "Minha querida, nos sarcomas não há marcadores"...no caminho para casa pensei: não há marcadores porque não há um padrão ainda identificado, porque não há estudos suficientemente extensos no tempo, porque a incidência é baixa, porque há muita variedade, porque se desconfia que terá a ver com o cromossoma 13, porque não se sabe ao certo qual/ quais as causas...


Eu tinha de ser peculiar ao ponto de escolher um dos esquisitos: sarcoma sinovial monofásico fusicelular (ou fusiforme). Deu notícias da sua existência no pulmão esquerdo, o que nem costuma acontecer. Depois deu em passear.


Espero que alguém estude mais e mais rápido.

Espero contrariar os números que vão aparecer aqui no artigo que retirei da net, cujo link refiro.


Tudo isto porque tenho os branquitos em baixo, mas só tenho de ter cuidado, não é preciso para já mais nada. Espero estar em forma na próxima segunda-feira...para levar outra sova de ifosfamida.


Aqui fica a informação algo extensa, mas nunca ninguém fala do sarcoma de tecidos moles, bah!





Sarcomas dos adultos


O que é? Sarcomas são tumores malignos de células derivadas de uma estrutura embrionária chamada mesoderme. Os sarcomas desenvolvem-se nos tecidos conectivos de suporte extra-esqueléticos: músculos, tendões, tecidos sinoviais peri-articulares, gordura, endotélio dos vasos sanguíneos e canais linfáticos, e o mesotélio dos órgãos viscerais.

Estes tumores de origem mesenquimatosa podem ocorrer em qualquer sítio anatómico, mas aparecem com mais frequência nas extremidades (60%).

Embora os sarcomas dos tecidos moles sejam heterogéneos, devido à sua origem em diferentes tecidos, partilham certas características comuns patológicas, clínicas e de evolução: (1) alargamento de uma forma centrífuga; (2) presença de uma pseudocápsula mesenquimatosa; (3) disseminação metastática hematogénea, com o pulmão como sítio mais comum; (4) metástases linfáticas pouco frequentes; e (5) extensão directa de um compartimento anatómico para outro.

Quem é mais atingido? Os sarcomas dos tecidos moles compreendem cerca de 0.7% de todas as doenças malignas, mas compreendem 6.5% de todas as doenças malignas em crianças com idades abaixo dos 15 anos. A idade média de doentes com sarcomas é de 45 anos. Estes tumores são, pois, predominantes em crianças e adultos jovens, e isto tem óbvias implicações terapêuticas em termos de agressividade da terapêutica curativa. Não hà predilecção sexual. A célula de origem determina a classificação dos sarcomas dos tecidos moles. Técnicas especializadas como a imunohistoquímica, microscopia electrónica, análise citogenética e imunofenótipo, ajudam a categorizar os sarcomas, especialmente quando o diagnóstico morfológico ao microscópio de luz não é claro.

Dum ponto de vista patológico, existem dezenas de variedades de sarcomas, mas essa heterogeneidade não prediz o comportamento biológico e, geralmente, não influencia a terapêutica. Os sarcomas são nomeados pelo tecido de origem. Os mais frequentes são os fibrosarcomas, liposarcomas, histiocitomas fibrosos malignos e os sinoviosarcomas. Juntos compreendem cerca de 74% de todos os sarcomas. A seguir, em frequência, surgem os sarcomas dos nervos periféricos, rabdomiosarcomas pleomórficos (mais frequentes em crianças) e o leiomiosarcoma. Existem muitos outros tipos que são raros. O grau de diferenciação celular e a quantidade de necrose no interior do tumor são os factores mais importantes na previsão do comportamento biológico do tumor e na determinação das modalidades terapêuticas.

Quais são as causas? Em animais de laboratório, os sarcomas podem ser causados por agentes víricos e químicos. Nos humanos, os dados etiológicos não são tão claros. Causas putativas incluem herbicidas e conservantes usados na indústria da madeira. Dióxido de tório (Thorotrast), usado antigamente como agente de contraste radiográfico, e cloreto de vinil aumentam a incidência de angiosarcomas hepáticos, e asbestos aumentam a incidência de mesoteliomas. Complicações tardias da radioterapia incluem sarcomas dos ossos e, em menor extensão, sarcomas dos tecidos moles. Os factores genéticos são importantes.

Certas doenças hereditárias aumentam o risco de sarcomas dos tecidos moles, incluindo a neurofibromatose, esclerose tuberosa, síndroma de Gardener, e o síndroma de Li-Fraumeni. Numerosas anormalidades cromossómicas têm sido identificadas. A mais importante é a presença de mutações no gene do retinoblastoma, no cromossoma 13, que é um gene supressor de tumores. Quando anormal, predispõe os doentes para o desenvolvimento de certos tumores, incluindo retinoblastomas, osteosarcomas e sarcomas dos tecidos moles.

Como prevenir? O médico deve suspeitar e biopsar: (1) todas as massas nos tecidos moles; (2) anormalidades ósseas “de novo”; e (3) elevações do periósteo com uma lesão óssea aparente. Isto pode permitir o diagnóstico nos estádios precoces I/II, e aumentar as hipóteses de cura.

Como se manifestam? Geralmente, sarcomas são tumores que aparecem “de novo”, e não de tumores benignos pré-existentes. Contudo, ocasionalmente, os sarcomas provêm de formas benignas que degeneram em lesões malignas através de um processo de “de diferenciação”. Os sarcomas são, em regra, muito vasculares e crescem rapidamente, infiltrando-se sem interrupção ao longo dos planos tecidulares. Os sarcomas invadem fibras nervosas locais, músculos e vasos sanguíneos. O grau histológico prediz o seu comportamento biológico.Tumores de baixo grau histológico, que representam cerca de 15% de todos os sarcomas, tendem a manter-se localizados, enquanto que tumores de alto grau histológico (especialmente aqueles com evidente necrose) compreendem os restantes 85% e metastizam precocemente para pontos distantes. O pulmão é o sítio mais frequente de metástases para todos os sarcomas. Em regra, as metástases são múltiplas e bilaterais. Outras estruturas como o fígado, ossos, tecido celular subcutâneo, são afectados muito menos frequentemente. Os gânglios linfáticos regionais só muito raramente são afectados. Certos sarcomas sintetizam certas substâncias que exercem determinados efeitos metabólicos e definem síndromas paraneoplásticos.

Muitas vezes, mas nem sempre, a terapêutica do sarcoma é suficiente para controlar estes síndromas. Exemplos destes síndromas associados a sarcomas incluem a hipoglicemia (baixa dos níveis de açúcar no sangue), hipocalcemia (níveis reduzidos de cálcio) e a osteoartropatia hipertrófica. As manifestações clínicas dependem da localização anatómica dos sarcomas. Sarcomas das extremidades (membros superiores e inferiores) apresentam-se como um inchaço indolor e progressivo nas extremidades. Sarcomas da cabeça e pescoço manifestam-se como massas, anormalidades neurológicas e proptose. Sarcomas retroperitoneais originam dores nas costas (dorso e região lombar), edema das extremidades inferiores e massas abdominais. Sarcomas dos ossos resultam em alargamento visível do osso e fracturas patológicas. Metástases pulmonares são, em fase inicial, assintomáticas. Em casos avançados, podem-se acompanhar de desconforto torácico e tosse sêca.

Como é feito o diagnóstico? O exame diagnóstico crítico é a biópsia. É necessária uma amostra extensa do tecido maligno, já que estes tumores são morfologicamente heterogéneos. A técnica cirúrgica apropriada para qualquer suspeita de sarcoma dos tecidos moles é a biópsia incisional. A simples aspiração através de uma agulha é totalmente inadequada. Um tratamento óptimo de um sarcoma implica o conhecimento pormenorizado da extensão do tumor, pelo que os exames diagnósticos devem permitir essa avaliação, que indicará o estado de evolução do tumor e ajudará o cirurgião e o radioterapeuta a planear os seus tratamentos. A avaliação deve incluir uma história clínica e um exame físico pormenorizados, Rx da parte afectada, tomografia axial computorizada (TAC) ou, de preferência, ressonância nuclear magnética (MRI) da região anatómica, e Rx e TAC do tórax, para excluir metástases pulmonares. Um arteriograma é, frequentemente, útil em delinear as estruturas vasculares da zona, o que pode facilitar o trabalho do cirurgião. Um scan radioisotópico ósseo pode ser útil em sarcomas que invadem os ossos ou o periósteo e podem necessitar de abordagem cirúrgica especial.

Qual o tratamento?

1. Cirurgia

A ressecção cirúrgica completa e alargada dos sarcomas dos tecidos moles com margens microscópicas livres de tumor é absolutamente essencial. Nas extremidades, a ressecção completa pode ser obtida sem o recurso à amputação em 60-80% dos casos. A dissecção dos gânglios linfáticos regionais não é, em geral, necessária. A cirurgia continua a ser o único tratamento curativo nos sarcomas dos adultos.

2. Radioterapia

O racional para o uso de radiações é a eliminação de extensões microscópicas do tumor não removidas pela cirurgia. A radioterapia pode ser administrada no pré - operatório ou no pós - operatório. Com esta terapêutica combinada, 75-85% dos doentes com lesões distais abaixo do cotovelo ou joelho não necessitam de amputação, e retêm um membro útil, sem dor ou edema. Tumores das extremidades mais proximais mostram taxas de controlo local inferiores. A radioterapia sem cirurgia é usada em doentes com doença inoperável ou que recusam cirurgia. Taxas de recorrência local são mais altas do que com o tratamento combinado mas uma pequena percentagem de doentes pode ser curada. Os sarcomas de baixo grau histológico, bem diferenciados, e de pequenas dimensões, são tratados apenas com cirurgia, já que o prognóstico é excelente.

3. Quimioterapia adjuvante

Com combinações de cirurgia e radioterapia, as taxas de controlo local para os sarcomas das extremidades são » 90%, para sarcomas do tronco são 50-75% e para sarcomas retroperitoneais são 30-50%. No entanto, apesar do controlo local, a taxa de sobrevivência ao fim de 5 anos para sarcomas de alto grau histológico é de apenas 40-60%. Virtualmente todas as mortes são devidas a doença metastática. Estes dados constituiriam o racional para o uso de quimioterapia sistémica adjuvante (pós-cirurgia), numa tentativa de controlar a doença a distância e evitar o desenvolvimento de metástases clínicas. Vários ensaios clínicos randomizados e comparativos não confirmaram esta hipótese, no entanto. Os estudos não demonstraram melhoria estatísticamente significativa na sobrevivência de doentes com sarcomas tratados com quimioterapia adjuvante em comparação com doentes que apenas foram tratados com cirurgia. Em face disto, a quimioterapia adjuvante continua a ser apenas uma técnica de investigação e não é considerada tratamento “standard” dos sarcomas dos adultos.

4. Quimioterapia para doença avançada

10% dos doentes com sarcomas apresentam-se com doença disseminada e outros 40-50% desenvolvem metástases distantes nos 5 anos a seguir ao diagnóstico inicial. Hà vários agentes anti-neoplásticos activos nesta doença. O agente isolado mais activo é a doxorubicina (adriamicina), com uma taxa de resposta de 30%. Outras drogas activas incluem a dacarbazina (DTIC), com uma taxa de resposta de 15%, e a ifosfamida, com uma taxa de resposta de 30%, que deve ser administrada com o agente uroprotector Mesna para prevenir a cistite hemorrágica. Outras drogas têm actividade muito limitada, como o metotrexato, actinomicina D, topotecan. A combinação de drogas não é mais eficaz que a doxorubicina isolada. Embora produza taxas de resposta superiores, é mais tóxica e a sobrevivência do doente, em última análise, não é afectada. Um dos protocolos de combinação é o MAID (mesna, adriamicina, ifosfamida, dacarbazina). Hà evidência que a intensidade da dose do agente quimioterapêutico é importante, e correlaciona-se com a taxa de resposta e a sobrevivência. No entanto, a toxicidade destes regimes intensivos é marcada, especialmente a mielosupressão, com o desenvolvimento de severa aplasia medular. Em doentes resistentes à adriamicina e dacarbazina, o uso de doses bastante altas de ifosfamida (14-18 gramas por m2 de superfície corporal e por ciclo terapêutico) administradas durante vários dias com adequada hidratação e o uso de mesna para prevenir, respectivamente, a nefrotoxicidade e a urotoxicidade, tem sido associado com uma taxa de resposta superior às doses convencionais.

5. Cirurgia para doença metastática

A excisão cirúrgica repetida e agressiva de recorrências locais e sítios metastáticos acessíveis pode melhorar a sobrevida do doente, com ou sem uso concomitante de quimioterapia. A ressecção de metástases pulmonares é uma medida razoável em doentes seleccionados, com metástases pulmonares ressectáveis, e sem evidência de doença noutros sítios.

Qual o prognóstico?

O prognóstico de doentes com sarcomas dos tecidos moles varia com o grau histológico, tamanho do tumor, localização do tumor primário, envolvimento dos gânglios linfáticos e metástases viscerais. A idade e o sexo dos doentes e o subtipo histológico específico não são muito importantes. 50% das mortes ocorre em doentes com sarcomas retroperitoneais, que representam apenas 8% de todos os sarcomas. A sobrevivência ao fim de 5 anos varia entre os 80% em tumores no estádio I, bem diferenciados, sem invasão linfática ou metástases, e os 10% em tumores no estádio IV, com metástases viscerais a distância ou invasão de gânglios linfáticos. Cerca de 80% de todos os sarcomas que recorrem fazem-no durante os dois primeiros anos após o tratamento inicial.

Antonio Fontelonga, M.D

Internista, Oncologista, Hematologista
27 de Abril de 2001


http://www.alert-online.com

terça-feira, 10 de março de 2009

Texto Intratável de Hoje - "Terceira Carta ao Anjo"


Terceira Carta ao Anjo

15 de Janeiro de 2003

Nem sempre o que parece negro é assim na realidade. Estou a aprender que o que dizes é verdade. Tens sempre boas razões para agir como ages. Eu devia ter crescido mais. Pareces-me tão lúcido. Eu não consigo ser assim. Exagero sempre na minha perspectiva e só depois de um grande esforço consigo ver as coisas como os outros as vêem. Nesse tempo que medeia as duas partes, sofro sempre muito. É uma estupidez. Já houve ocasiões na minha vida em que aprendi a pensar e a acalmar com as pessoas que me estavam mais próximas. Foi bom ser assim e fui melhor em tudo e para todos. Essa influência perdeu-se, por razões práticas. Cada um segue o seu rumo. Tenho de aprender a estar junto de quem é como eu gosto, para serem a minha âncora, para me educarem.
Tudo passou desde o último dia em que te escrevi. Consegui ver, infelizmente não compreendi logo, mas lá cheguei - realmente estavas ocupado. Não posso ser egoísta ao ponto de pensar que lá por este ano eu ter um trabalho mais leve, os meus amigos estejam para aí virados, não é? Tu podes não estar disponível, e mais importante que tudo, podes não querer estar disponível. Quem manda nesse assunto és tu. Não te rejeitei, nunca, mas acho que ainda não te convenceste disso, não compreendeste também o peso que os meus contratempos tinham. Vais compreender e reaparecer com os teus mimos a meio da noite? (abençoado telemóvel). Só tenho medo que aquilo que sofreste em tão pouco tempo te azede. Também penso que há tanta gente que te rodeia, que não tens razão nenhuma para te interessares por alguém que te parece ser tão oco quanto eu. Pelo menos é o que tu conheces.
Eu realmente ainda não fiz nada do que tinha sonhado fazer na vida. Mas há sonhos que não se alcançam sozinha. Dos meus sonhos fazem parte pessoas com quem partilhe o que vejo, o que ouço, o que sinto, o que aprendo e o que não sei. Só assim a vida tem valor para mim. O que ando a fazer é desperdiçar oxigénio.

Não pretendo ser rica, pois se o pretendesse não teria seguido o rumo que segui. Quero ser eu, cuidar de quem amo e ser feliz. Só isso. Mas esta é uma ninharia tão difícil de atingir! Preciso de ajuda para a alcançar. E não me sinto feliz por ser feliz sozinha. Pareço uma muralha por fora, parece estar sempre tudo bem, não é? Pois, são anos de treino e educação para manter uma certa postura. É uma máscara que me asfixia. Pareço uma gelatina dentro de um saco de plástico hermeticamente fechado. Moldo-me, desde que não escape lá de dentro. Não tenho ar, todos me vêem, todos observam, todos julgam, mas ninguém sabe se é doce ou não. Por acaso também gostava de saber escrever. Estas confusões egoístas estão na moda. Se as pusesse no papel ainda ganhava uns cobres... sei lá! Mas sou preguiçosa de mais para o executar e... tenho pavor de dar a conhecer o que sinto... ou julgo sentir. Ninguém tem nada a ver com isso. É só meu. (Tu podes saber, tal como me deste a conhecer alguns dos teus medos e solidões das madrugadas, que já tinham passado no dia seguinte, quando eu tentava dar-te um mimo). Mas sou vaidosa do pouco que vou atingindo. Como eu gostava de dizer como te vi e senti, como és lindo, como o teu corpo é belo e como... é boa altura para me calar.

E calar-me é o que faço mais, o que se torna uma violência. Tantas mensagens que te mando e que são um miserável e atrapalhado resumo de horas de conversa que gostaria de ter contigo. Há sempre tanta coisa que queria dizer e ouvir. Coisas do dia-a-dia. Lembras-te das conversas que tínhamos? Duravam sempre horas. Atrapalhávamo-nos e sobrepúnhamos histórias sobre histórias e “sabes que” e “já viste” e “eu penso” e “uma vez aconteceu-me...” Sinto tantas saudades dessas conversas. Sou culpada de ter tido mau sentido de oportunidade, mas tu também não podes exigir que toda a gente siga a tua agenda, pois não?

Sabes... gostava que tivesses ido ver o mar comigo. Não se via ninguém com pressa em redor. Não havia barulho, parecia estar toda a gente de férias, mas noutro sítio. Era tudo meu! E nada meu! Podia ter sido tudo nosso, podíamos ter conversado tanto. E se isso tivesse acontecido, depressa teria chegado o pôr-do-sol. Aquele que é cor de laranja sobre o mar. Aquele que só às vezes se vê na cidade. Aquele que gostava de ter visto reflectido nos teus olhos verdes. Os mesmos olhos que me olharam, e me espreitaram quando fechei os meus, mas que logo corriam a esconder-se quando eu te olhava. O gato e o rato.
Gostava de saber como sentes a tua história, esse teu amor perdido. Não por curiosidade. É que pode ser que chegues à mesma conclusão que eu, mas não demores quatro anos, por favor. Isso far-te-ia muito mal. Podes estar agarrado a uma imagem que conservaste, podes nem saber o que ela pensa de ti exactamente. Nunca sabemos o que vai na cabeça dos outros, não é? Comigo foi assim. E só quando enfrentei as coisas, não à força, mas de livre vontade, cansada de não as resolver, só aí é que vi claramente que tinha estado enganada. Escusava de ter chorado, sofrido, de ter tido saudades. Afinal, era tudo uma ficção construída por duas pessoas, que só serviu para as magoar e maltratar. Resultado? Ele ficou mais frio, eu fiquei mais lúcida. Ao menos, aprendi alguma coisa. E sei exactamente o que não quero e quem não quero.

Pode até ser coincidência, mas passámos por coisas muito semelhantes, não foi? Pode ser que desistas dela. Mas como és teimoso, vais afastar-te de imensas coisas e pessoas, sem o admitir sequer. Como não queres magoar-te de novo, não dás brecha nenhuma a ninguém. E eu estou parva para aqui a sonhar. Mas também por que não? Tenho esse direito. Sabes qual é um dos meus pequenos sonhos? É o de partilhar a minha vida, sonhos, medos e alegrias com um homem em quem acredito, com uma conduta que seja íntegra, que seja o meu ponto de referência, que me devolva à Terra sempre que me deixo levar pelas minhas teorias exacerbadas. Se me dizem para fazer as coisas de determinado modo, é meio caminho andado para eu fazer exactamente o oposto. Se me indicam o caminho, eu vou. Tu indicas. E desesperas. Eu percebo as tuas meias frases, mas gosto tanto delas que me faço desentendida só pelo prazer de ouvir mais. Eu sei exactamente o que quero e onde quero chegar. Não estou é a ver nadinha do caminho. Nem sei para que ponto cardeal me hei-de virar. O que é um ponto cardeal?

“Seja sempre igual a si mesma.”, Disseram-me uma vez a propósito de coisas ligeiras que já passaram. Se eu for igual a mim mesma, dou-me a conhecer, não é? Mas sentirei? Bolas, preciso que me ajudes a pensar. E só quero essa ajuda de ti, pronto. E tenho razões para isso. Escusas de refilar, porque teimosa também eu sou. E insistente...passivamente insistente, quase ao jeito do Gandhi. Não incomodo, mas estou lá sentadita e vais saber porquê, porque tu é que começaste e agora não me convences dizendo “É só isto!”. Até pode ser... agora. No entanto não me esqueço do que querias que tivesse sido e não foi por minha culpa. Lá por seres um verdadeiro macho latino (no melhor sentido) escusas de teimar tanto. Já percebi, obrigada. Tinhas razão e tens, mas não me massacres mais. Sabes muito bem que não somos horrorosos um para o outro. Tu adoras traseiros e joelhos, ficas especado a olhar. É giro. Sabes que se começássemos mesmo alguma coisa era difícil parar, não sabes? Só mesmo à força, com alguma situação esquisita. Tens medo de te magoar de novo? Também eu.
E isso aplica-se a uma simples amizade? Por isso me disseste “Não tenho medo de cair, tenho é medo de me magoar”. Lá por já te teres magoado alguma vez, não quer dizer que se repita. E não estou a falar de mim. Isto não é publicidade à minha pessoa. Não te ocupes com coisas e vivências ligeiras a mais, porque tu não sabes viver assim muito tempo, nem aguentas. Porque isso não te enche as medidas. Eu meti-me em várias coisas ao mesmo tempo. Parecia tudo engraçado. Deixei essas actividades e sabes que mais? Não me fazem falta nenhuma. Então não me eram assim tão importantes.
Porque continuo com as minhas ideias fixas, as mesmas de sempre. Tudo o que faça para encher tempo é aldrabice. E tu, não voltes a fechar-te no quarto a fugir do mundo, porque quando saíres está tudo na mesma ou pior. Se temos algo a decidir, ninguém o faz por nós. Só nós temos esse poder e direito. E somos criminosos se não aproveitarmos. Não podemos queixar-nos se não usarmos o que temos ao nosso alcance. Tens alguém que te adora, mesmo sendo teimosão como és, que, caso não te lembres, sou eu, moi, ich, yo - e que teimas em manter ao largo. Não tenhas medo, que eu não te magoo. Pelo menos não pretendo fazê-lo. Eu só te quero, isso não é crime, pois não?

Beijinhos fofinhos da Joana
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