sexta-feira, 30 de julho de 2010

RESUMO (10)

Olá, cá estou de novo.

A pedido de várias familias,... vou continuar as publicações. Sei que estão de fim-de-semana e não vos queria incomodar, mas só lêm quando poderem, Está bem?

Hoje está-se muito melhor na praia. Imaginem que até me molhei até ao pescoço, coisa que não fazia há anos, sabem porquê...

Então, sem mais, aqui vai mais um bocado de RESUMO

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Entretanto fui pensar no assunto para a praia, com os meus pais. Pobres pais, cada vez mais preocupações. Apesar de nos terem “posto na rua” fiz o serviço de exames, que não era pago, já que éramos todos recibos verdes, pagos á hora, sem este serviço contratado.

Muni-me de imensa legislação e documentos que tenho com o meu nome, com ordens, enfim, o caso não estava perdido de todo. Exigiria dinheiro que eu não tinha, força que me faltava. Consultei um advogado, em conjunto com algumas outras colegas. Quem tinha os documentos todos era eu, com a mania de ser picuinhas e de guardar tudo. Documentos que provavam que eu não era trabalhadora independente, mas sim que recebia ordens de superiores, cumpria um horário e calendário que me eram comunicados, enfim. Houve uma fuga de informação qualquer e sofri represálias. Quem levou o recadinho continua a trabalhar lá.

Lá fiz as contas de novo. Com 6 horas perto de casa, subtraindo a Segurança Social a pagar mensalmente durante nove meses, poderia fazer uma vida faustosa com 272 euros por mês. Estava feito e aceite. Comecei a enviar currículos para todo o lado. No final dessa semana ligaram-me a dizer que a senhora coordenadora pedagógica M.A.P. tinha mandado pedir os resultados dos exames que eu graciosamente tinha acedido realizar aos ex-alunos. Repare-se no requinte. Não ligou para não me dar confiança de falar comigo pessoalmente, mandou uma subalterna fazê-lo, tentando reduzir-me a um lugar ainda mais baixo na hierarquia. Ai, desculpem, com recibos verdes não há hierarquia, esqueci-me! Esqueceu-se porém, de que estas provas não estavam contratualizadas, oops! “Graciosamente” quer mesmo dizer isso, fi-lo de borla. Foi a 1ª vez que tal aconteceu. Contei os dias úteis, consultei novamente o regulamento e enviei-os via mail, no limite do tempo, com conhecimento á senhora directora A.P.P. referindo o telefonema. Que chata eu. Ora esta.

Arrancou o ano lectivo, mas os professores que deviam ter sido enviados por um determinado ministério não apareceram. Ah, e esqueci-me de fazer os livros de ponto também. Alguém fez noitada para que eles aparecessem. Apareceram sim, mas só para a 1ª semana.

Aquele problema que eu tivera quando fui operada (o de repor em devido tempo as faltas) parecia não importar agora.

A festa continuou de tal modo que fui contactada às seis da tarde de um sábado para assumir mais umas turmas na segunda-feira seguinte, dia 1 de Outubro.

Mas, no dia 2, tinha já marcado um exame de revisão, uma PET. Lá faltei eu de novo. Este exame é semelhante a uma TAC, mas o produto do contraste injectado agarra-se às células malignas, permitindo saber onde elas andam no organismo todo. Cada vez se faz menos, pelo seu preço, especialmente desde que os hospitais passaram a EPEs.

O trabalho lá foi andando, num ambiente nunca antes visto, onde só me apetecia esconder, calar e passar despercebida. E assim foi. Entrava, dava as aulas, saía. Nada de visitas ao bar, levava qualquer coisa de casa, nada de almocinhos com ninguém. A minha escola morrera mesmo.

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Nota cá do velho: mais uma vez cá o rapaz chamou à atenção: se queres ir para Tribunal, não vás por aí, eu arranjo um advogado meu amigo, dos melhores da Praça. Parecia que estava a adivinhar… O escolhido era amigo de uma colega que ainda hoje lá estará. Não quero dizer que o senhor fosse incompetente, nada disso, mas conhecido, do conhecido, do conhecido…nâ…

Mas a facada veio de outro lado: de uma menina de que eu, até certa altura, desconfiei dada a sua origem (não étnica ou de cor)... Houve, contudo, uma altura em que a mesma fez de conta que queria comprar um apartamento perto do nosso. Vejam lá que o parvo, nas suas caminhadas, ainda andou a ver apartamentos… para ela.

A tal menina, que ainda lá continua, chegava lá a casa, esparralhava-se no MEU sofá (no meu sitio) e ali ficava até às tantas… Cá o rapaz… ia para o escritório jogar às cartas...

Pois essa “amiga” foi a primeira a espetar a faca… e levar a informação, mas continua lá. Não sei se já tem cartão…

Com amigas destas …

E claro o Sr. Advogado declinou o patrocínio, como era de esperar…

Por hoje é só

O pai Bártolo

quinta-feira, 29 de julho de 2010

NOVA EQUIPA

Do "Quintal"

Pois andava eu nas minhas arrumações e encontrei este vídeo, realizado pela Susana. Desconhecia-lhe esta faceta, mas como ela passava muito tempo no computador... No final não correu muito bem...

Por isso, para descontrair um pouco, e conheceram um bocadinho do "quintal" aqui fica para vós.

Da equipa resta o pai e uma filha. Do resto sobraram três das patinhas que por lá já andavam antes. É que durante a nossa ausência, apesar dos muros, entrou ali um bicharoco que deu cabo de tudo...

Olhem hoje, ontem e anteontem esteve um calor enorme. Passamos o tempo na adega... sem beber... Só à noite é que íamos para o terraço e aí punha a escrita em dia, com muito pouco "sinal", sendo impossível carregar, por exemplo, este vídeo... Mas hoje viemos para a praia e está um pouco melhor... pelo menos tem vento.

Um quaqua para todos...

O pai Bártolo

quarta-feira, 28 de julho de 2010

RESUMO (9)

Caros amigos deste Blogue:

Estive a remoer, a pensar, a cogitar e sei lá que mais... Apeteceu-me terminar por aqui as transcrições do “RESUMO”, mas por respeito a algumas pessoas, que sei estarem a passar por dificuldades… vou continuar.

Também devo avisar que isto agora vai aquecer e aqueles que, andam a cuscar, eu sei, sem nada dizerem… será melhor não ler por que também eu vou “falar” de coisas que sei e do mal que fizeram à Susana.

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DESPEDIDOS

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Em inícios de Setembro, como sempre, lá vou eu solícita para a anual tarefa de construção de horários lá na escola. Fico a saber que, de acordo com ordens dos serviços centrais em Lisboa, os formadores externos (da área de formação ligada a línguas e outras disciplinas existentes no ensino regular) vão ser dispensados. Isto quer dizer que ao fim de quinze anos a trabalhar para um instituto público, depois de ter passado pelo problema de saúde que passei, fico sem trabalho. Assim, num piscar de olhos. O erro foi meu, que apostei tudo no mesmo sítio, mas o pior que fiz foi confiar nas pessoas.

Fomos informados numa reunião de urgência que teríamos menos horas semanais para leccionar, nem sequer suficientes para os descontos obrigatórios da Segurança Social. A “culpa” era apresentada como se fosse de Lisboa, dos serviços centrais, como se cá na província ninguém tivesse sabido de nada, e tivesse a hombridade de falar com os formadores mais antigos, que eram alguns. Grande lata. Ninguém dos cargos de coordenação foi afectado, só na formação, seria coincidência?

Pedi uma reunião com a directora, e exprimi o meu desagrado, abrindo o meu coração. Sendo uma das formadoras mais antigas, quis saber porque razão nunca mais chegava a prometida realidade dos contratos por conta de outrem. Nós só parávamos a actividade porque a escola parava.

Se o assunto fosse bem espremido no tribunal de trabalho, se calhar a coisa não seria bem como estava a correr até ao momento. Acerca desta parte não disse nada, mas começámos a tratar do assunto.

Exprimi, sim, o meu desagrado acerca das horas que sobravam do meu grupo disciplinar. Essas estavam a ser divididas entre mim e outra colega. Mas essa colega tinha habilitações para dar formação técnica em alojamento hoteleiro, aliás a sua formação de base. A formação de línguas adquiriu-a depois, já eu lá leccionava havia anos. Lembrei-me nesse momento que a diferença talvez estivesse no facto de ir levar e buscar crianças á escola, e de lamber muitas botas até altas horas da noite. Lembro-me de uma das últimas vezes que fui á discoteca com amigas, e que encontrei metade da direcção da escola e essa tal colega. Lembro-me que fugiram de mim e nem consegui dizer-lhes “olá”.

Pois perguntei á senhora directora porque não ficava cada uma com sua especialidade: ela no alojamento hoteleiro e eu no inglês. Sempre se repartia o mal pelas aldeias. Mas ela tem coisas para pagar (eu nunca me meti a comprar uma casa, evidentemente, não tendo um rendimento estável) e tu és filha única. Desculpe? O que tem a minha vida privada a ver com isto? É critério de selecção desde quando? Porque razão o facto de eu ser filha única determina que eu só trabalhe seis horas por semana? Por acaso sabem se os meus pais me vão sustentar? Que palhaçada é esta? Porque é que houve contratos para cargos de coordenação oferecidos a pessoas com a quarta classe, e os mais antigos continuam a ficar para trás?

Disse-me a senhora e distinta directora A.P.P., mãe, educadora, talvez cuspindo para o ar, e juro que isto foi mesmo assim. Eu sentadinha do outro lado da secretária, aquele “lado da secretária” que muda a vida das pessoas, dominado pela criatura que domina o outro. Então, disse-me a senhora: “Sabes, nós fomos extremamente compreensivos contigo quando foste operada. Nós devíamos e podíamos ter-te substituído.” Eu não acreditei no que estava a ouvir, depois de tantos anos a ajudar a construir aquela escola, em que aquela senhora não estava sequer lá. Andava pela política trepando, tratando do seu mealheiro. Aquela senhora que só levara ideias pedagógicas completamente desviadas do plano de formação necessário na indústria hoteleira. Que tentava transformar uma escola de formação num liceuzinho de passear livros. Que destruíra os exemplos de luta através do trabalho, e fomentara a promoção através da falsidade e da adulação. Que constituíra um grupelho de pseudo-formadores informadores qual antigo regime, e os encarregara de liderar as turmas para determinadas funções que nada tinham a ver com a formação específica de cada turma/curso. Os meninos alunos eram agora veículo de informação, não podiam ser contrariados, passavam de qualquer modo, os critérios eram cada vez mais rebaixados, a exigência tinha ido às urtigas. O profissionalismo já não era transmitido nem exigido. Eu, enquanto formadora de línguas, sabia mais de cortes de batata do que um aluno de um segundo ano do curso de cozinha?! Decadência. E insónia.

Dois dias depois fizeram-me uma proposta para dar mais umas seis horas a 120km de distância, num pólo de formação recém-aberto e ainda não equipado. Achei graça. Agradeci e declinei, obviamente.

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Nota do pai Bártolo:- A “escola” a que a Susana se refere situa-se ou situava-se em Óbidos à entrada do Castelo, em frente à G.N.R.. Na nossa saída de Junho, passei lá, de propósito, e vi-a fechada. Mas isso estava mesmo a ver-me… Há outra nas Caldas…

Agora pensem lá um bocadinho: as duas senhoras "decisoras" conheciam perfeitamente bem o estado da Susana, numa recuperação aparente e temporária… E já viram o pai Bártolo a deixar a sua filha doente fazer sozinha aquela viagem? Ou dava-lhe a importância que iria “ganhar” ou ia todos os dias com ela…

Por outro lado quando soube do “despedimento” telefonei à coordenadora pedagógica, "pessoa que julgava" conhecer, a pedir-lhe que ocupassem a Susana. Era só o que queria, não era o dinheiro que interessava. Mas não, aquelas coisas parecidas com gente, maltrataram-na ainda mais, senão verão. É que a Susana não tinha o tal cartão… Embora pense que sei qual foi o caminho que levou certas pessoas ao lugar que detêm, não o vou dizer…

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Este é o primeiro desabafo

Obrigado por me aturarem

O pai Bártolo

terça-feira, 27 de julho de 2010

AMIGA DO PEITO

Tal como tinha prometido aqui estou a dar noticias de uma "pré-reformada" daquele tal clube a que se refere o GIORGIO.

É uma amiga do peito e foi a única que acompanhou, de muito perto a Susana, visitando-a, pelo menos de quinze em quinze dias e telefonando a miúde, sendo certo que ela própria estava a passar por idêntico problema, uma verdadeira amiga.

Parece estar estacionário e lá para Setembro vai fazer novos exames. Esperamos que tudo corra bem.

Entretanto casou e hoje veio visitar-nos com o marido que também já conheciamos. Pareceu-nos bem, embora diga que está viver um dia, um mês, um ano de cada vez...

Almoçaram connosco e passaram o resto da tarde aqui, diga-se, com muito calor.Ficamos muito contentes por vê-la assim.

Obrigados, Raquel, por ter apoiado e acompanhado a Susana nas horas mais dificeis, sabendo que também, nessa altura, não estava a passar bem.

Estas são as verdadeiras AMIGAS.
Muitos beijinhos
O pai Bártolo

domingo, 25 de julho de 2010

HÁ MUITOS ANOS...














Olhem, estava para aqui sem fazer nada e resolvi ir às antiguidades. "In illo tempore", como diria o outro, era eu uma criança, exactamente da idade do miúdo que está atraz das vacas, no "trilho", ainda se "trilhava" o trigo no Nordeste Transmontano das duas maneiras. Uma com os animais e outra com debulhadoras. Agora para aquelas bandas já nada se cultiva. Pagaram para o não fazerem. Deve dar mais lucro a alguém importá-lo... Aquela máquina e mais duas eram propriedade de meu pai.
O "tecnico" que esta "escarranchado" em cima da máquina e a senhora, também em cima, virados para a foto, são meus irmãos.
Tudo se foi...
Deixo-vos aqui estas antiguidades, com alguma saudade...
Isto foi só para descontrair um pouco.
Um abraço
O pai Bártolo

RESUMO (8)

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.Antes de mais devo dizer o seguinte: andei a ler os comentários no blogue IPPONforLIFE, do Tiago Alves que era meu vizinho. Lamento o que aconteceu, como é óbvio, mas fiquei deveras irritado com alguma das coisas que por lá foram escritas: " ai se fosse mais cedo"; "se , se, se". Deixem-se disso "P". Os pais fizeram tudo o que sabiam e poderam. Não sabem o que estão a dizer. Limitem-se a deixar os pêsames ou apenas um olá. É quanto chega. Desculpem.

Tinha escrito um chorrilho de asneiras, mas depois achei por bem apagar..., não era o meu sitio.

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Mas vamos ao que interessa. Hoje era para não publicar nada, pois julgo que todos queiram passar um calmo fim de semana, mas está muito calor lá fora ... e, por isso, aqui está vai mais um bocado de RESUMO, da Susana

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8 – PET/CORAÇÃO À ESQUERDA

25 de Julho de 2007, segunda-feira. Na consulta com o meu querido doutor F.B., de acordo com PET efectuada, todo o meu corpito aparecia limpo do sarcoma, e o pulmão direito bem expandido. O que se notava ainda era as sequelas de uma sutura tão grande. Tenho o coração do lado esquerdo, o rim ligeiramente subido, os intestinos mais á larga, enfim, o corpo adapta-se. Mas ainda havia que melhorar e ganhar mais força.

Fiquei, tal como esperava e era lógico, proibida de engravidar. Mas esse sonho já lá vai há muito tempo. Na minha opinião, há coisas que têm mesmo uma altura certa para acontecer, por muito que estiquemos a realidade para um lado ou para o outro.

Nesta altura do ano, não arranjei formação para dar, até porque apesar de ser trabalhadora independente, tinha a rotina e cumpria o calendário da escola de um instituto do estado que me recrutava em regime de prestação de serviços desde 1993. Tinha dado nove meses de formação e trabalho (fora as outras aventuras), precisava de uma pausa. Sendo assim, inscrevi-me numa formação acerca de novas tecnologias utilizadas na formação. Calhou muito bem, porque o grupo era todo conhecido, o que facilitava a parte dos trabalhos de grupos e apresentações. O formador? Tratámo-lo muito bem, e como pessoa simpática que era, acabou por ser tudo bastante agradável, apesar de ser pleno Verão, estar calor e eu precisar de me abanar de vez em quando com o meu leque.

Ainda tinha hidroginástica até ao final de Julho, o que me agradou bastante, e me fez muito bem.

Fiquei também muito feliz e realizada por conseguir depositar uns euritos na minha conta poupança. Fruto do meu trabalho, claro, e do facto de ter reduzido as despesas, quando os meus pais tomaram conta da cozinha e despensa!

Começámos a ir á praia. Não posso apanhar sol na sutura, pois pode ficar escura. Ainda não fiz quimioterapia nem radioterapia por não haver vestígios de células tumorais do meu sarcoma sinovial monofásico fusicelular.

A minha bicicleta velhinha, que o meu falecido avô materno (que me criou) me ofereceu, foi posta a arranjar no início de Agosto de 2008. (Ora ai está outra coisa que já não consigo fazer: subir para uma bicicleta e pedalar. Ok, só subir para a bicla mesmo seria milagre em Agosto de 2009). A bicla levou pneus e câmaras novos e foi afinada. Neste momento, Agosto de 2008 não sei se consigo pedalar em plano só com um pulmão, mas nada como experimentar. Quando experimentei foi muito cansativo, o coração acelerou muito rápido, e todos os putos me ultrapassavam na boa! Se calhar a bicla ficava melhor lá na aldeia, em casa dos meus pais. Aqui na praia há muitos automóveis e eu pedalo pouco demais. Quase que é preciso fazer btt para escapar aos aceleras de Agosto, com CDs pendurados no retrovisor.

Uma destas manhãs, em passeio com a minha mãe pela borda da praia fora, quando regressávamos a casa (o calor das 10:30 começava a aparecer), deu-me uma maluqueira, tirei a camisola e calções (tinha biquíni, ok?) e disse: “Espera um pouco”.

E mergulhei numa onda fresca, fofa, que me pareceu a melhor do mundo, com o som da água a entrar pelos ouvidos, a água a bater nos ombros, no peito, nas coxas e a elevar-me depois para a tona de água.

Acho que foi a última vez que fiz tal coisa. Se calhar não vou ter outra oportunidade assim. (Não posso mergulhar agora por causa das duas vértebras fragilizadas.)

Acabei por regressar á base em meados de Agosto, por haver demasiado vento.

Chegando inícios de Setembro, lá vou eu de novo ás revisões no centro de saúde, pedir para fazer análises. O meu médico de família (o oficial sempre ausente) lembrou-se de pedir um raio-X. Um raio-X? Porquê? Queria ver como era ter um só pulmão? Podia pedir relatórios aos colegas do hospital, não? Se se interessasse mesmo. Fiquei danada, mas claro que o fiz. Não o fui buscar, dava demasiado trabalho e despesa para estacionar e ir buscar o exame com o calor que havia na cidade. Enviá-lo-iam por correio. Mas o melhor seria depois conseguir consulta com o senhor. O médico que estava na equipa e me tinha acompanhado cerca de três anos, tinha sido transferido ao atingir determinado tempo naquela especialidade. Tinha obrigatoriamente de ir para outro sítio. Ou ocupar uma das vagas existentes no centro de saúde, desde que o chefe (o meu médico oficial) o justificasse. Mas guardou as poucas “influências”que tinha para manter o seu próprio cargo de direcção. Sei que é grave o que estou a dizer, mas estou a contar o que aconteceu, sem nomes. Esse médico-anjo era adorado por imensos utentes. Porquê? Muito simples: estava lá para dar consultas, só isso.

A minha consulta foi sendo adiada, e acabou por não ter lugar em tempo lógico e útil. Este meu médico super director também é perito em juntar feriados a dias de férias. Eu continuava no regime de recibos verdes e não podia abusar a faltar manhãs inteiras, e fazer colecção de vírus na sala de espera do centro de saúde.

A minha mãe teima em afirmar que o senhor doutor se preocupou em saber como eu estava. Até pode ser. Agradeço. Tal como teria agradecido ter uma consulta quando precisasse.

Por hoje é tudo

Um abraço

O pai Bártolo

sexta-feira, 23 de julho de 2010

RESUMO (7)

Como não sei faltar a promessas, aqui vai mais um bocado de RESUMO, ainda escrito pela Susana

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7 – ALTA

Eu tive alta no dia seguinte, quinta-feira, já com os agrafos todos tirados pela senhora enfermeira com nome que me era bastante familiar. O centro de saúde, cujo director é o meu médico de família, não tem sequer alicate adequado para agrafos de cirurgia. A verba é escassa, bem sabemos, mas talvez os senhores dos laboratórios consigam algumas coisas interessantes para os centros de saúde, se houver desse lado quem saiba conversar e fazer acordos com eles. O meu médico de família é concerteza uma excelente pessoa. Falou comigo uma vez, desde que fui operada até hoje. Confidenciou-me que não sabe lidar com a situação. Acredito. Mas também acho que faz parte da profissão, mesmo que a especialidade seja “saúde familiar”. Ainda bem que os meus pais mudaram a residência para outro concelho. Que rico apoio teriam tido com este senhor doutor. Confesso que pelo andar da carruagem, fui progressivamente “desgostando” deste médico. Uma vez deixou o meu pai sem receitas de medicamentos da área de cardiologia, e nunca tem tempo para mais do que duas ou três consultas, nas quais passa o tempo a queixar-se. Tenho de ter uma consulta um dia destes, e faço questão que seja com ele. Se se queixar pretendo ficar calada e perguntar se devo sair para ir chamar alguém que o ajude.

Eu sei que isto não é boa educação. Mas não acho que seja ético deixar doentes crónicos e terminais numa sala de espera cheia de vírus toda a manhã para saber se afinal há ou não consulta. Ainda lhe digo umas boas antes de morrer. Ai digo, digo.

Voltando á terra, o penso que me faziam no hospital era em spray, que, adivinhai, também não havia no centro de saúde. Havia, vá lá, vá lá, pensos impermeáveis do tamanho certo, yes! Pelo menos poderia tomar duche, mesmo que meio de lado.

Soube que no dia seguinte, o senhor dos Açores teve alta. Ele continua bem. Mantemos o contacto e realmente parece estar a levar uma vida agradável, com a esposa, as duas filhas, o genro, a netinha. Pelo menos isso. Ele sim, está a conseguir ser normal.

Eu, apesar de ter ido para casa, que era quase “do outro lado da rua”, todas as tardes ia ao hospital. Fazia a minha higiene de manhã, uma tarefa que parecia interminável e longa demais. Almoçava e o meu pai levava-me de carro ao hospital, pois o caminho pela rua era inclinado e eu ainda não conseguia andar aqueles…meio quilómetro? Assim, de tarde, fazia a cinesioterapia orientada pelas enfermeiras especialistas.

O progresso foi notório: cada dia que passava eu recuperava os movimentos, a força, a mobilidade, enfim, tudo o que eu julgava impossível considerando as várias camadas musculares (acho que sete) que tinham sido cortadas para chegar ao pulmão.

Também foi regressando a sensibilidade, um pouco mais devagar, e a minha mamoca esquerda continua a ser rebelde, ah ah. Dá-lhe para inchar e aí vai ela, fica maior do que a direita. Mas como nunca mais fui a mesma, não importa.

Muito exercício depois e algumas consultas, voltei ao trabalho na semana do Carnaval de 2007. O meu horário foi adaptado. Passei a ter mais horas lectivas semanais para compensar as seis semanas que tinha faltado. Sendo contratada pelo Estado a recibo verde dá nisto. Ou saía, ou compensava. Optei pelo caminho mais complicado. De 21 horas passei para 34 a 36. Mais uma vez, nas primeiras semanas, o meu pai levava-me á escola. As minhas colegas-amigas (porque há de outro tipo) levavam-me a almoçar, pois raramente fazíamos uso do refeitório da escola. Pela tarde, lá ia o meu pai buscar-me. Por vezes, os meus alunos ajudavam a transportar a mala, ou o portátil, ou o leitor de Cds, visto não haver pessoal auxiliar nesta escola, e não haver equipamento suficiente lá. Daí eu ter de levar quase tudo de casa. As salas de aula continuaram, obviamente no mesmo lugar, umas na cave, outras no piso de entrada, e as demais no 1º andar…de dois blocos…sem elevador…com pátio exterior pelo meio. Mas pronto, lá toleraram a minha ausência e regresso. Tratar-me como recém-operada, e como acontece noutras escolas, facilitando o acesso, isso seria pedir demais. Mas aguentei-me á bronca. O exercício de subir escadas até acabou por ajudar-me a recuperar.

O meu pulmão direito expandiu bem, recuperei daquela dose infernal de analgésicos e voltei a ter o peso correcto para manter a minha “saúde”.

No segundo trimestre de 2007 consegui finalmente ir para a hidroginástica, num grupo de pessoas com várias condições especiais. Fazíamos sempre sessões muito boas em termos cardiovasculares, com equilíbrio e ritmo adequado. O monitor, o Eurico que nunca mais encontrei, gostava especialmente de reabilitação. Espero que tenha seguido o sonho dele e tenha continuado a estudar essa vertente. Onde quer que estejas, muito obrigada Eurico. Tudo de bom para ti.

Entretanto consegui recuperar todas as horas daquelas “seis semanas” de aulas, e cumprir horários, calendários, reuniões, ginástica, consultas de rotina. Devo ter perdido a medalha de cortiça, pois não a consigo encontrar.

Por hoje chega

Um abraço

O pai Bártolo

quinta-feira, 22 de julho de 2010

RESUMO (6)

No seguimento do anteriormente publicado, deixo aqui mais um bocadinho

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6 – SONAMBULO

Estávamos três, nos Cuidados Intensivos: não havia divisão por géneros, pois estávamos todos imóveis e algaliados. Havia um biombo que era utilizado quando necessário. Quem conseguia andar podia tentar chegar ao WC mesmo á saída da sala de Cuidados Intensivos. Um dos meus colegas (o que entretanto já faleceu) era sonâmbulo. Uma bela noite acordei e vi-o em pé, prontinho a começar a andar dali para fora, levando atrás de si os frascos dos drenos, grandes, agarrados aos tubinhos. Pensei que ele ia cair para o meu lado, apesar de haver bastante espaço, e lembrei-me que poderia arrancar os drenos do sítio, o que seria complicado e incluiria uma viagem de ida e volta ao bloco operatório. Bem, única opção. Falei alto: “Senhor A. Sente-se!” e ele sentou-se como um boneco. Chamei e vieram os enfermeiros, que entretanto tinham ouvido, e o colocaram na sua respectiva caminha, com grades para cima. No dia seguinte e nos seguintes, fartou-se de rir e contava á sua esposa o que se tinha passado. E eu envergonhada por ter praticamente berrado com um senhor com idade para ser quase meu avô!

Pois o meu duche de Dia de Reis foi muito doloroso. O caminho de cerca de três metros pareceu-me uma caminhada de cerca de meia hora. A auxiliar muito divertida que me ajudou teve uma pachorra imensa. A ideia principal não era tomar duche, era levantar-me e testar o meu equilíbrio. Mas cada vez que pousava um pé no chão via estrelas e galáxias inteiras. Quase todo o trabalho do duche ficou para a auxiliar (exímia condutora de cadeiras de rodas, devo acrescentar), pois o que ensaboei e esfreguei foi pouco, visto que não conseguia esticar-me ou encolher-me, ou dobrar-me, ou esticar os braços. Irra, que tijolo eu era. A partir desse dia, foi-se repetindo o ritual, e fui sendo capaz de fazer sempre um pouco mais, progressivamente. Lá tive coragem de ver o caminho-de-ferro que formavam os agrafos no meu flanco esquerdo. Vendo hoje, dois anos depois, o aspecto da sutura, nunca pensei que o corpo humano fosse capaz de tal recuperação. Pena que eu tenha engordado, porque a sutura já esteve bonitinha, no sítio, parecia só um fiozinho que passava por ali. Agora, com a gordura, nota-se uma dobra, tenho de me esforçar mais para voltar aos quilinhos que tinha, mas penso que isto não depende só de mim.

Voltando atrás. Lá passou o domingo, e chegou segunda-feira, dia 8. Comecei a cinesioterapia. Isto obrigava-nos, a mim e aos meus “colegas” de cirurgia, a caminhar por duas enfermarias, descer um piso, atravessar outras duas enfermarias e chegar ao ginásio.

Aí tínhamos cerca de quarenta minutos de exercícios com os braços, para movimentar e expandir a caixa torácica. Fazíamos também exercícios de extensão com bastão e roldanas.

Exercitávamos o diafragma com sacos de areia, cada vez mais pesados (dos 500gr aos 2kgs). Ainda hoje os faço, de tempos a tempos. Aprendi que a maior parte das pessoas respira com a parte superior dos pulmões, e seria melhor utilizar também a parte inferior, e tratar do diafragma. Há contudo um problema: esta coisa de usar o diafragma não liga muito bem com cinturas fininhas e umbigo á mostra, hi hi.

Bem, o senhor A. Sonâmbulo teve alta na quarta-feira dia 10. Nunca quis fazer cinesioterapia. Disse que não ia durar muito tempo, e não estava para fazer sacrifícios enquanto cá andasse. Ele sabia que não tinha sido possível retirar todo o tumor dele, que estava no mediastino.

Soube, mais tarde, que continuou a fumar, a ir passear para o centro comercial lá perto de sua casa, e ainda fez quimioterapia. O cancro dele acabou por metastizar para o cérebro e faleceu pouco mais de um ano depois da operação.

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Por hoje é tudo

O pai Bártolo

quarta-feira, 21 de julho de 2010

RESUMO (5)

Antes de continuar esta publicação da quarta parte de RESUMO, ”passei” pelos vários blogues que a Susana estava a seguir e dois sentimentos contraditórios me assolaram: fiquei contente por a MAGUIE estar a reagir muito melhor e vai-lhe correr tudo bem. Por outro lado ao GIORGIO peço que não desanime, vai correr tudo muito bem, vai ver. É que nós habituamo-nos a estes nossos amigos e não gostamos de passar

sem eles.

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5 – CUIDADOS INTENSIVOS

Na quinta-feira seguinte, chegaram mais dois operados: um senhor dos Açores e outro de Vila Real (este já falecido no momento em que escrevo).

Nesse mesmo dia vi entrar o padre com um livro na mão e a morfina falou por mim: “Se é para me dar a extrema-unção pode ir andando”. Soube mais tarde que, além de ser o capelão daquele hospital, é agora o padre da freguesia onde “vivem” os meus pais, nasceu no mesmo dia que eu e é refilão quanto baste para ser um dos meus amigos. Claro que, depois, já em estado normal, conversei com o senhor padre e tudo ficou bem. Devo dizer também que por acaso ele achou graça.

Tive também direito a visita do médico que me assistia na equipa do médico de família. Ele acha ainda hoje que foi o mensageiro triste da notícia, como se tivesse culpa. Eu acho que se não fosse ele, eu não teria continuado os exames depois da TAC. Se ele não me tivesse explicado o que explicou, de modo que eu entendi, eu não teria durado o que durei. Pelo menos até agora, certo?

Ao quarto dia, sábado, 6 de Janeiro, os senhores enfermeiros convidaram-me a levantar-me para tomar duche. Ora bem, até esse dia já me tinham dado banho na cama, porque eu tinha uma sutura com direito a quarenta e tal agrafos, do lado esquerdo, no torso, desde a mama até á margem da coluna. O braço não levantava, a mão mexia e apertava o tal comando da “morfina”. Eu não conseguia erguer-me da cama, ou fazer qualquer movimento de torção. O cirurgião, não me recordo bem em que dia, mas provavelmente muito perto antes deste sábado, chegou até mim, começou a conversar e vai daí puxa o tubinho do dreno. Acho que foi o maior “Ah” que gritei na vida. Fiquei a falar melhor. Estava desconfiada da presença de dois enfermeiros, mas percebi logo tudo. A enfermeira voou para o armário dos medicamentos e de volta em direcção á minha coxa. O cirurgião bem que apertava o comando, mas não havia morfina para ninguém: a máquina tinha encravado! Mas a abençoada “petidina” já lá estava. O outro enfermeiro estava já a fechar a laçada do ponto do dreno. Tinham tentado fazer a coisa pelas calmas, mas a maluca da bomba estragou o plano. Foi caricato, o cirurgião apanhou-me distraída. É claro que, lá bem no fundo lhe chamei um chorrilho de nomes feios que já nem me lembro.

O melhor banho da minha vida, porque foi o mais agradável e sereno, foi a enfermeira A.B. e um estagiário que mo deram. Com direito a champozinho e tudo! Tudo doía se mudasse de posição, lá me iam dando a medicação: antibiótico e analgésico. Mas lá que doía, doía.

Por hoje é tudo

Beijinhos e abraços

O pai Bártolo

terça-feira, 20 de julho de 2010

RESUMO (4)

Continando,conforme o prometido, aqui vai mais um bocado de RESUMO:

4 - A PRIMEIRA CIRURGIA

...

No dia 1 de Janeiro de 2007, dei entrada pelas urgências, de saco feito. A minha médica A.F. estava de serviço e orientou todos os exames lá dentro: o raio-X, o electrocardiograma, a bioquímica, e tudo o mais. Passei o resto da tarde a ver como funcionam as urgências, mas que movimento.

Não esqueço um homem deitado numa maca, perfeitamente desorientado a insultar todo o pessoal médico. Acalmou com um bendito soro, e provavelmente um calmantezito lá dentro. Mas ele gritava que queria tinto.

Os meus pais tinham ficado lá fora, e depois tiveram de ir embora, pois não estavam a fazer nada ali.

Eu fiquei muito aliviada, pois a seguir á broncofibroscopia fiquei a respirar cada vez pior. O meu estado era realmente urgente. Eu só queria que me tirassem o “podre” para voltar a trabalhar e pronto.

A minha casa (apartamento dos meus pais) era em frente às urgências do hospital. Soube mais tarde que eles não fechavam o estore da janela do escritório. Assim, a qualquer hora do dia ou da noite, olhavam e viam…a entrada por onde eu tida ido.

Achei estranho quando soube, mas hoje em dia, abro o estore e olho sempre para lá. Por vezes tenho dúvidas se esta luta valeu a pena. Ou se teria sido melhor não ter acordado da operação.

Lá dormi a primeira noite da minha vida numa enfermaria. O enfermeiro C.F. instruiu-me quanto á preparação para a cirurgia, que seria às 08:00 da manhã seguinte, dia do meu 37º aniversário.

Na manhã seguinte fui levada na cama para o bloco. Detestei passar no “transfer”. Uma espécie de passadeira destinada a transferir as pessoas em posição deitada. Dava vontade de me levantar e ir á volta, a pé, mas tinha de ser assim. Senti-me uma peça de carne. Tenho a visão de haver muito inox e azulejos. Ambiente com ar de …esterilidade.

Mas as pessoas eram impecáveis, muito gentis e cheias de miminhos para dar.

Explicaram-me como funcionaria a bomba de morfinóides cujo comando ficaria preso ao meu pulso esquerdo. Deixei de estar nervosa e pensei: “Pode ser que eu não acorde e tudo fica mais fácil para todos” Pensei que tinha deixado tudo arrumado na escola; em casa mais ou menos. Pensei muito que não voltaria a ver o meu querido amigo, que tinha ido trabalhar para Angola. Ainda hoje não entendo porque pensei tanto nele nos dias antes da operação. Não era paixão, nada disso. Era um amigo que estava a fazer-me muita falta.

Adormeci com os anestesistas a falarem comigo.Lembro-me de sentir que me mudara de cama.

Lembro-me de ouvir os “bips” dos monitores e lembro-me de ter dito, ou sonhei que disse: “Desliguem-me esses apitos que me enervam”. Ao que alguém terá respondido “Eh pá, vamos lá desligar então os alarmes, ela tem uns valores óptimos, mas ficas aqui a olhar”.

Passado um bocado de tempo, tentaram pôr-me ao telefone, e eu a dormir, com os meus pais, mas a anestesia ainda estava mais forte do que eu. Eu tentava falar, mas não conseguia. Tinha sido entubada, e isso depois demora um pouquinho mais a voltar a funcionar. Pensamos que falamos e não sai som nenhum.

Lá fiquei nos Cuidados Intensivos, com as máquinas todas ligadas, apesar de “mudas”, e lá comecei a conhecer o pessoal de enfermagem e auxiliares, que teimaram em cantar-me os parabéns umas dez vezes quando descobriram que era o meu aniversário.

Num dos dias seguintes, penso que no terceiro, o médico cirurgião passou por lá para me ver. Já o tinha feito antes, mas eu andava no mundo de Morfeu, e eu não o tinha visto, só soube porque me disseram. Disse-me que me tinha tirado o pulmão todo. Eu respondi: ”Ok.” Para a minha mãe foi uma bomba. Eu achei que era mais prático e única opção. Se tinha o brônquio afectado, não havia hipótese de safar o lobo inferior.

Por hoje é só

Cumprimentos

O pai Bártolo

domingo, 18 de julho de 2010

RESUMO (3)

Para não se tornar ainda mais pesado, hoje deixo-vos só um bocadinho de RESUMO

VEREDICTO

...

Entretanto o meu pai tivera nova consulta de cardiologia, em que afinal tudo se revelava normal. O processo de adaptação a uma máquina que tem um eléctrodo enfiado no fundo do ventrículo não é coisa para cinco minutos. Mas era só uma questão de tempo. Hoje em dia faz praticamente tudo, mais devagar, e provou aguentar choques valentes.

E entramos em Dezembro. E eu sem conseguir ir para a hidroginástica! E vou esperando pelos resultados da biopsia.

Sou convocada para uma consulta no hospital. Dia 12 de Dezembro, a doutora A.F., com um ar muito querido e simpática, disse as palavras que mudaram oficialmente tudo.

O resultado da biopsia indicava que era maligno e difícil de identificar. Não era de pequenas células, aparentava ser de dois tipos, mas a patologia continuava a tentar identificar. Mais tarde vim a saber que era bastante raro, ocorria em cerca de 1%, e raramente no pulmão como origem. O meu caminho poderia passar por fazer quimioterapia ou radioterapia para reduzir o tumor. O problema era a localização dele e a velocidade a que ia e estava a avançar depois de “atacado” por uma biopsia de lâminas na broncofibroscopia.

A doutora A.F. explicou-nos que o melhor seria avançar rapidamente para a cirurgia, até porque o tipo de tumor identificado até àquele momento não reagia assim muito bem á radioterapia. Basicamente, não havia tempo para isso.

A minha mãe esperava que o resultado fosse aquele. O meu pai saiu porta fora a chorar, revoltado com o mundo, e quando voltou pediu desculpas, obviamente. Mas os médicos estão mais que habituados a isso.

Fiquei de rastos, embora já andasse a convencer-me do diagnóstico.

No dia anterior, segunda-feira, era hábito almoçar com a minha amiga Teresa. O seu filhote fazia oito anos nesse dia. Todas as segundas-feiras íamos almoçar piza. E fomos. A dada altura falámos do assunto e eu disse á Teresa que estava a contar que fosse má notícia. Ela não queria que fosse, e disse-me que não, que era eu a matutar no assunto. Mas lá que estava preocupada estava sim. E a notícia foi mesmo má.

Nessa segunda-feira chovia bastante á tarde. Ainda passei pela Loja do Cidadão. Tinha de renovar o Bilhete de Identidade, valia mais fazê-lo o mais rápido possível, no dia seguinte podia ter notícias que me virassem a vida de pantanas. Tirei umas fotos magníficas numa máquina expresso, tratei da papelada e renovei o meu BI, sem alterações, com dois pulmões e cabelo comprido, imagine-se. Já fiz cópias daquela foto tipo passe, pois são as mais decentes que tenho para algo mais oficial.

Bem, regressando ao dia do veredicto. A seguir á reunião com os meus queridos médicos A.F. e F.B., fui logo encaminhada para tratar de todos os exames relacionados com a capacidade cardíaca e pulmonar. Picadelas para um lado, sopradelas para o outro. O processo foi avançando. Tudo o que devia fazer para a equipa de cirurgia avaliar mesmo á séria, foi feito logo. Fiquei impressionada. E eles também. Tinham á frente uma pequena mulher de 36 anos. Também não era fácil para eles.

Acabei por ser considerada urgência, dado o estado do meu brônquio esquerdo e crescimento do tumor que estava “mesmo a passar das marcas”. Foi por pouco que fui aceite pela equipa para cirurgia, pois estava muito próxima dos limites. A cirurgia seria em breve.

Entretanto fui trabalhar mais uns dias, e deixar tudo orientado para a minha ausência.

...

Hoje é só isto

Um ABRAÇO

O pai Bártolo

quarta-feira, 14 de julho de 2010

RESUMO



Nota: como já antes referi, a divisão do texto numa espécie de capítulos, foi uma tentativa minha de o tornar menos pesado.

Por isso aqui está mais um bocado.

O pai Bártolo



RESUMO 2 (contituando...)

2 (Exames-Micro)

...

Volta a rotina de fazer exames aos alunos que andaram na mó-de-baixo durante um ano lectivo inteiro. Volta também a feitura dos horários, tarefa na qual colaboro há uns cinco ou seis anos com a coordenadora pedagógica, a título gracioso, entenda-se.

A semana de 4 a 8 de Setembro foi de loucos, com todas as tardes dedicadas aos horários, num dos dias até á uma e meia da manhã! Fazer isso para uma escola com poucas salas e muitas turmas não é fácil. Acrescente-se a isso formadores que o são em regime de acumulação, e lá vem a confusão de acertar nas vagas dos profes.Trabalho para esta escola de formação (de uma cadeia fundada ainda no tempo do Sr. Salazar) a tempo inteiro e mais algum. É um instituto público, mas estou lá desde 1993 a recibo verde. Porque continuo? Porque gostei sempre de ver as pessoas a sair com uma formação que lhes permite trabalhar com as mãos, fazer coisas realmente, e melhor que tudo: arranjar emprego. Só mesmo os baldas é que não conseguem. Mas desde 2001, o ambiente é diferente, chegou a política, a minha escola morreu. Vou começar o meu luto, este tempo todo depois. Houve algo que me abanou e me fez ter mesmo a certeza que a minha escolinha não volta.

Entretanto, devo disponibilizar uma manhã para revisões aos meninos que vão fazer exame; além da continuação da tarefa dos horários. O que os meninos querem é saber que perguntas eu vou fazer nos exames e quais as respostas que devem lá colocar. Para eles uma matriz de exame tem de ser uma lista “das coisas que vão sair”. Não há pachorra, mas a pressão para os passar é muita. Aliás, dar uma nota negativa num exame destes é mais uma marca no meu caderninho de mal comportada. Tenho esta mania de avaliar os conhecimentos de acordo com objectivos e critérios, veja-se lá que raio de coisa.

E chega mais um sábado com mais aulinhas de pós-graduação.


No dia 12 de Setembro, terça-feira, lá tenho uma consulta com o meu médico, ou melhor, com o médico que me conhece melhor, que trabalha na equipa do meu médico de família. Digo-lhe o que tem acontecido, pois não era com ele que tinha as consultas. Pretendo, mais uma vez, ir para a piscina. É obrigatório passar por vários exames de modo a que o médico de família ateste da nossa saúde para frequentarmos esse espaço em segurança. Lá me entrega as credenciais para os diversos exames que devo fazer. Pela tarde tenho de fazer os livros de ponto lá da escola. Devem estar a pensar que só lá trabalham duas pessoas, neste momento, não? Desenganem-se: tem uma secretaria normal, mas o pessoal administrativo do sector que se chama Gabinete do Aluno (três pessoas) não pode fazer livros de ponto: “enganam-se muito e deviam ser os directores de turma a fazer”.


Na quarta-feira, 13, o meu pai tem um exame marcado na cardiologia, mas felizmente está tudo bem.

Às 15 horas tenho reunião de grupo disciplinar, às 17 tenho reunião geral de formadores. Ando um bocado cansada, mas mantenho os meus 57 kgs.

Quinta-feira, 14, pai tem consulta de otorrino. Um dos ouvidos anda um bocado estranho. Poderá ter a ver com aquela história do equilíbrio, ou as tonturas poderão ter a ver com o coração, pressão arterial. Daí estes exames todos, para despistagem.

Chega sábado, mais um bocado do seminário da pós-graduação e mais 100 km.

Segunda-feira, 18, começam as aulas e a correria do costume. Os senhores formadores chegam e começam á procura dos livros de ponto que fiz, alguns colocam defeitos nas opções deste ano, outros nas etiquetas das chaves, enfim, mas hoje apareceram, ao contrário dos outros dias. Mas são verdadeiramente inteligentes: são pagos para dar formação, não para fazer outras tarefas, tal como eu. Eu é que escolhi mal e fiz mal.

Quanto aos alunos, vamos lá colocar na ordem os que já conheço, e tratar de conhecer os novos. É um pouco difícil para pessoas despistadas como eu. Todos usam uniforme, ficam todos parecidos e tenho de decorar nomes, idades, origens, e tudo o que me ajudar a compreender a pessoa que tenho á frente. De um modo geral não gostam da disciplina que lecciono, poucos sabem o que é um livro, ou mesmo o que é ler enquanto actividade. Também me assusta ter de ensinar por vezes as meninas a sentar-se decentemente se usam a saia do uniforme. Os meninos nem sempre sabem usar uma gravata, ou o próprio casaco do uniforme. Tenho de explicar que não é para arrastar pelo chão, ou usá-lo como um bicho morto estendido pelas costas. Não sei o que os pais lhes ensinam. Se têm tempo para ensina, se sabem ensinar, se acham que devem ensinar. Parece que agora é a escola que deve ensinar tudo. Prefiro pensar que no caminho para a escola, eles esquecem tudo o que diz respeito aos bons costumes caseiros. Podia ficar aqui a enumerar situações intermináveis, mas nem eu própria me aguento nesse aspecto.


Durante o mês de Outubro, a micro radiografia necessária para ingressar na piscina mostrou algo que não estava normal. Ligaram-me do BCG para passar lá e repetir. “Pode ser defeito da película, acontece por vezes”, disseram-me do outro lado da linha. E eu aflita para conseguir fazer tudo e não faltar a aula nenhuma.

Fui então ao BCG, e fiz um raio-X. Disseram-me para esperar, pois iria ser vista por um médico. Assim foi. Ele falava pouco ou nada. Fiz perguntas, obviamente. Não me deu respostas. Parece que é conhecido por ser muito bom médico. Para mim não foi, naquele momento, comunicou muito mal. Mandou-me fazer uma TAC, num laboratório conhecido cá na terra. Fui fazê-la á noite, acompanhada de uma minha amiga. Assim, não faltava a nenhuma hora de formação. É que se faltasse, teria de a repor noutro dia e hora, de modo que conviesse a todos, houvesse sala disponível, a turma coubesse. Era assim, tudo muito fácil.

Mais tarde, a TAC apareceu e fui convocada no BCG para nova consulta. Esta vez pedi a uma outra amiga que fosse comigo, porque pretendia fazer novas perguntas. Na consulta, tive a notícia pura e simples que teria de ver melhor “uma coisa que aparecia na TAC”. Iria fazer uma broncofibroscopia: “um tubinho que vai pelo nariz, com uma câmara vídeo, até ao brônquio.” Essa parte de ter um cano, mesmo que fosse fininho, a ir por aqui dentro, até ao brônquio, assustou-me. Fiz perguntas novamente, aconteceu o mesmo, para espanto da minha amiga. A única informação que consegui arrancar foi que não era tuberculose. Marcou a broncofibroscopia para o hospital mais próximo de minha casa. Disse-me para ir a um outro laboratório, pois teria de levar os resultados de um outro exame, que tinha a ver com a velocidade de coagulação ou algo do género.

Foi aquele médico, que nunca mais vi, que num telefonema e numa consulta de cinco minutos, traçou a meu rumo para os anos seguintes.

Numa quinta-feira, 16 de Novembro, lá fui. Não fiz o exame. Entrei e falei com a médica, que me explicou muito bem como era o exame, em que situações era usado, e quais os riscos associados. A coisa tomou um ar mais grave. Eu podia ter uma massa estranha dentro do pulmão esquerdo, e era isso que se queria ver. A palavra e o conceito de “tumor” instalaram-se na minha cabeça e comecei a funcionar mal. Não tive coragem de fazer o exame e tinha ido sozinha, o que não era nada aconselhável. Assinei um termo de responsabilidade, expliquei os meus motivos á médica e vim embora com a TAC na mão.

Fui logo a correr tentar apanhar o meu médico-anjo (do centro de saúde). Ele viu a TAC e explicou-me o que sabia. Eu teria um tumor, que poderia ser benigno ou não. Conversámos bastante acerca dos sintomas que tinha tido durante o Verão e acerca do caminho a seguir.

Por sorte, ele conhecia a médica que fazia os exames, aquele que eu não fizera. Falou com ela e conseguiu marcar outro, no dia 30 de Novembro, ao qual fui acompanhada de meus pais, de quem andava a tentar ocultar tudo, dado o estado do meu pai (a recuperar da operação e com alguns problemas de adaptação ao CDI).

Aqui tudo mudou. Passou a ser real na minha cabeça. Ficou feio e mau.

Havia jantar de aniversário da escola nessa noite, mas não fui. O exame é muito doloroso, tenho o nariz estreito, vê-se na câmara, e também se enfiam lâminas para colher tecidos para biopsia. Mas foi complicado, apesar de todos os cuidados da doutora T. É um exame que nos estraga por dentro, ficamos a sangrar. O nariz ficou massacrado, as cordas vocais também. Eu continuava, nesta altura, com a tal tosse seca, pelo que o endoscópio andava aos saltos. Mesmo com duas doses de anestesia (aquela igual á dos dentistas) comecei a sentir tudo, mas já nem me queixava.

Como a colheita não foi suficiente por causa da tosse toda, fiz uma outra broncofibroscopia duas semanas depois. Mas o cenário foi pouco diferente. O doutor J.P. já me fazia festinhas na cabeça e na cara. Vi pela cara dele, apesar de ter sido rápido a tentar disfarçar, vi que o que eu tinha era mau. Lá foram as lâminas para tirar tecido para análise, lá foi o lavado brônquico (sensação linda de afogamento). Depois mostrou-me uma parte do exame que tinha gravado. Afinal os nossos “canos” são cor-de-rosa. Depois disso vi o aglomerado de bolinhas que era o meu tumor. Havia tecido necrótico, que era branco. Azar dos azares, tudo isto estava alegremente colado no brônquio esquerdo, na primeira ramificação, no lobo superior. Se fosse mais abaixo, dava para tirar só aquela parte na cirurgia. Naquele momento não pensei nisso. Apesar de ninguém falar em maligno, ou nada que se assemelhasse a diagnóstico, eu olhava para aquelas bolinhas rosa com mau pressentimento. Não percebia nada do assunto, mas ia começar a pesquisar.

Só queria que me aliviassem do desconforto de ter tido um cano enfiado no nariz, sangrando, tossindo, cuspindo – uma verdadeira porcaria.

Estiveram a vigiar-me para ver da minha capacidade de coagulação. Fui para casa com uma esponja especial para enfiar no nariz; e com recomendações para não beber nem comer nada durante umas horas, devido á anestesia. Podia morder-me, e fazer coisas piores, pois a anestesia está lá, mas nós não notamos.

Tinha também de ter cuidado com as cordas vocais, até porque tinha de trabalhar no dia seguinte. Quanto às aulas que não tinha dado nestas duas quintas-feiras…bem, estavam sujeitas a negociação com as turmas e sua boa vontade.

Quanto a isso não me posso queixar, aqueles jovens a quem dei aulas, com idades entre os quinze e os vinte e cinco, revelaram ter muito mais apreço pela condição humana do que alguns elementos da direcção daquela escola, dos quais ouvi coisas inimagináveis, que mais tarde talvez relate.


Aqui fica mais um bocado. Depois volto...

Vejam se descansam.

O pai Bártolo

domingo, 11 de julho de 2010

RESUMO

Passam hoje quatro meses...

NOTA

Antes de começar a publicação do RESUMO escrito pela Susana, devo esclarecer: trata-se do resumo de uma vida, muito cedo truncada. O texto foi apenas revisto, pois verifiquei que o não tinha sido. Foram apenas corrigidas algumas falhas ortográficas, pois, ao que me parece, a Susana já não estava nos seus melhores dias para escrever e rever tudo.

Falta parte que anda por uns caderninhos que encontrei dispersos e que ainda terei de transcrever.

Tentei dividi-lo numa espécie de capítulos, dada a sua extensão.

O Pai Bártolo

RESUMO

Para já acho que isto é um acto egoísta. Despejar tudo, ou quase, porque há coisas que esqueci deliberadamente ou não, para fora da minha cabeça, sem atentar ao efeito nocivo que poderá ter nos outros, isso não é ético.

Mas também não acho que o Universo tenha sido muito ético comigo. Tenho cancro. Mudou a minha vida toda desde o último trimestre de 2006.

Vivia sozinha, num apartamento T3 duplex, dos pais. Fazia a minha vida toda de arrumações, limpeza e manutenção da casa, dava aulas a tempo inteiro na formação técnica e profissional.

Nós, mamíferos humanos, só temos os pais, não os progenitores, mas os que nos criaram.

O que transcrevo a seguir é uma pobre arrumação de factos encontrados em agendas e em estreitos locais da minha memória de tudo o que aconteceu. Enquanto fui escrevendo, reparei que há factos e pormenores que esqueci mesmo. Penso que o fiz deliberadamente, ou por não ter gostado, ou porque me magoou, ou …não sei. O que se segue é o que recordo em Agosto de 2009.

Será longo e aborrecido, cru, e feio muitas vezes. Talvez arrepiante. Aviso desde já por isso. Não é próprio para quem é sensível. Cheguei a um ponto em que não ligo se tenho um fígado aberto á minha frente ou não. A qualquer momento o meu sarcoma sinovial pode invadir qualquer órgão ou parte do corpo que me atrapalhe muito ou não. Da última vez deixei de andar. Recuperei um pouco e esse processo ainda se desenrola. Mas também notei um alto no trapézio esquerdo. Talvez encolha com a quimioterapia, senão, lá vou eu para o bloco, com toda esta medicação da dor e tudo. É concerteza um caso complexo. Penso que os meus pais ainda não se aperceberam desta última novidade. Deixá-los descansar um pouco. O meu médico percebeu a minha indirecta e não fez alarido, dentro do possível, quando vão os dois a todas as consultas e depois de eu ter de fazer mais um TAC. (não deixamos pereceber, mas apercebemo-nos)

E é assim que passo os dias. Vamos ver se chega ao fim, de refeição em refeição (onde dominam os comprimidos), sem nada útil que se faça, com medo de partir algum osso dos fragilizados, com medo da gripe H1N1, com medo de tudo, respirando e arrastando-me como um caracol por estes dias que passam, pois a isto não se chama vida.

Não passo os dias a chorar, só tenho tendência para chorar de manhã, estou serena, tento ser agradável e optimista para os outros porque não têm que aguentar com depressões todo o tempo, mas por dentro é assim um pouco escuro. Estou a perder o gás. Vou na terceira tentativa, sei o que significa, conheço as estatísticas. Espero que tudo saia errado e eu seja uma excepção, já que tenho sido em tantas situações. Sei que o meu médico sabe que eu sei disto (de repente soou-me a política, hein?)

A minha mãe descobriu com este processo todo, e através do que lhe contaram de mim, que eu tinha um óptimo sentido de humor pregava partidas a toda a gente, e punha tudo a mexer. Pois era. Pena que não tivesse cumprido os meus sonhos melhor, em vez de me preocupar com os problemas dos outros. Mas assim não deixo filhos por criar. Ainda não concluí grande coisa acerca do assunto, mas penso que deve ser melhor assim. Como costuma dizer o Frei capelão do IPO, “coitadinha daquela senhora da cama y, que tem filhinhos”, e eu a olhar, né?

Aqui fica aquilo de que me lembro.

2006

Segunda-feira, 19 de Junho: o meu pai vai a consulta de cardiologia. Ficou a saber que o coração estava bastante fraco e precisa de uma ajuda. O enfarte foi em Outubro de 2005. No dia 13 de Julho dá entrada no bloco para colocar um cardioversor desfribilhador implantável, isto quer dizer que é um pacemaker capaz de dar choques para nivelar o ritmo do coração, quando necessário. Além disso, também grava qualquer anomalia que se passe para que na consulta seguinte se possa saber se há algo errado. Foi numa quinta-feira.

Na segunda-feira seguinte foi feita a prova de candidatos lá da escola onde eu dava formação a tempo inteiro. Fazia parte das minhas tarefas corrigir a parte de Inglês. No sábado terei ainda de entregar o trabalho de História da Educação a Pós-graduação em Ciências da Educação em que me meti este ano. Tinha intenções de seguir para mestrado pela via clássica, antes desta confusão de Bolonhas e que tais. Todos os sábados faço 100 km para um dia de aulas e para trazer pesquisas e trabalhos ou apresentações para fazer. Por vezes são em grupo. Tenho mais três colegas daqui perto. Mas conjugar horários não é fácil. Sobram os serões.

Esta semana lá consegui ir ver o meu pai ao hospital. Está a recuperar bem, mas não come nada. A comida do hospital é horrível segundo ele diz, e desenvolveu uma verdadeira rejeição a brócolos.

Está um tempo exageradamente quente e seco, e a zona do hospital é um monte de cimento, sem árvores, só calor. Tenho tosse, sinto imensa expectoração que parece estar colada e não quer sair.

Para estar mais disponível para transportadora lá de casa, só vou às consultas do SAP (fora de horas). Consigo ir á aldeia com a minha mãe, levando o meu pai com a premissa de ficar quietinho enquanto nós mudamos a água aos patos, galinhas e gansos. É preciso também dar-lhes ração. O meu carrito quase fica no fundo com dois sacos de ração, mas quando é preciso arranjamos força para tudo.

Continuo com muita tosse de noite. É uma tosse seca, que incomoda o prédio todo. Parece que toda a gente se habituou e não me dizem nada, excepto a minha mãe. Os médicos que tenho apanhado no SAP receitam-me xarope e dizem-me para aumentar a ingestão de líquidos.

Naquele dia que tive o ataque mais forte durante a visita ao meu pai, pensei: “se entrar nestas urgências, já não saio”. Consegui chegar ao meu carro. Pelo caminho, ia tossindo, de forma violenta, chegando a chamar a atenção de pessoas por quem ia passando. Uma das vezes que tossi, com um lenço á frente, saiu uma bola escura de expectoração, do tamanho de duas tâmaras. Não tinha sangue vivo, pelo que não liguei muito. E aliviou-me. Podia ser da amigdalite, podia ser esforço da garganta devido ao calor e á tosse seca. Fui directa ao SAP, contei á médica que me disse para beber mais líquidos. Ainda tive tempo de voltar á visita, para o meu pai me ver bem e fresquinha.

Foram correrias loucas e quase impossíveis que fiz para chegar a todos os compromissos. Só foi possível porque sou louca, o meu carro cabe em todo o lado e há menos gente em Julho cá na terra.

Finais de Agosto, pai a recuperar os movimentos do braço e da sutura fresquita. De novo na casa deles, a apanhar ar fresco, convencido que já poderia conduzir se necessário.

Por hoje é só isto

Um abraço

O pai Bártolo