quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O rosa desta vez brilha mais


A minha amiga foi operada na passada segunda-feira. Correu bem, acordou bem disposta e lá voltou a adormecer sob o efeito dos morfinóides.


Já a visitei, mas o ritmo dois dias depois ainda era ditado pelos analgésicos, antibióticos e anti-inflamatórios. A comida pairava levemente no estômago e por vezes, cheia de marotice, lá vem de corrida boca fora.




A minha amiga livrou-se agora do seu bicharoco. Tem pela frente a luta da fisioterapia, do tratamento, da recuperação física e psicológica. Uma vontade de voltar a trabalhar, de se mexer, mesmo quando diz "falta-me aqui um peso deste lado", e sorri.




Tenho uma amiga muito forte, e ainda bem que é teimosa. E vai ganhar a guerra.

sábado, 11 de outubro de 2008

“Pois…olha, chegou a minha vez.”



Na passada quarta-feira a minha amiga ligou-me a uma hora que eu não esperava, supostamente ela estaria a trabalhar. Mas não estava. Tinha vindo a correr do sul do país para uma consulta urgente no hospital. Tinha feito uma biópsia por agulha ao peito direito. O resultado era aquele que ninguém queria ouvir: maligno.

A minha amiga acompanhou o meu trajecto nestas coisas de “cancro e companhia” desde o início, que para mim foi em Outubro de 2006. Há um ano atrás, conversei com ela que tinha notado um caroço no meu ombro (a minha recaída). Ela tinha encontrado “qualquer coisita no peito” e ia a uma consulta. Eu fui andando por nova ronda de exames e novas instruções, e avancei para cirurgia e quimio. A minha amiga também foi fazendo exames, mas nada se via, nada era motivo de preocupação, eram “placas”…mas as placas foram crescendo.
Acompanhou os meus acessos de raiva e choro, depois a minha calma, as minhas piadas, os meus enjoos, foi-me visitando em minha casa, em casa dos meus pais… e íamos trocando informações. Foi colocada este ano na 2ª cíclica, estava felicíssima. Tem 30 anos feitos este verão.
Esta sexta-feira passei o dia com ela, pois ia fazer uma PET, o que acaba por ser uma longa seca. Insisti em ir com ela, dado que a família vai ter muito que ajudar noutros dias mais difíceis. Eu, como já fiz 3 daquelas… acampei na sala de espera com um livro, garrafa de água e bolachas em que não consegui tocar. Tudo se atrasou por causa do produto de contraste que chegou mais tarde. Acabei na conversa com uma filha e uma mãe, ambas esperando também por notícias boas dentro de uma realidade que já começa a não correr bem. Claro que encontrámos muito motivo de conversa.
A minha amiga saiu do exame com boa cara, à primeira vista parece estar localizado. Saiu cheia de gás e fome, e lá fomos nós almoçar quase à hora do lanche.

A minha amiga em início de guerra, e eu já depois de duas batalhas. Duas raparigas a passear pela rua, apanhando ar, como se fôssemos ás compras. Na próxima semana saberá algo mais. Com a minha guerra eu vou aguentando, mas a minha amiga não merece isto, é nova demais, tem muito a fazer, mas é forte e vai continuar a ser.

“Já viste a nossa vida? Olha que duas, caramba”, disse-me por cima do prato do almoço, e sorriu.