segunda-feira, 30 de agosto de 2010

RESUMO (20 - Último)

Este é último dos "capítulos" de RESUMO, tal como o encontrei, no qual fiz apenas a verificação ortográfica, com correcção de algumas falhas.

Segundo me parece terá sido escrito, directamente no portátil, para além de Agosto de 2009 e quando este pifou, já com dificuldades de locomoção.

Os escritos que encontrei estão nos caderninhos, sobre os quais irei "ruminar" como diz o Jorge e depois, talvez, publicar.

Então aqui vai o último:

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JUNTA-MEDICA


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No dia 30 de Junho sou chamada á junta médica da Administração Regional de Saúde. Ninguém me informara – talvez seja tabu ou grande segredo— que os doentes oncológicos podem ter benefícios fiscais. Fui então contar a minha história perante um simpático médico. Apesar de esta lei estar pensada, e seja positiva somente a sua existência, devia ser talvez revista. O que pude aproveitar até ao momento foi o facto de não pagar o imposto de circulação do meu veículo automóvel, e a devolução de um ano de IRS, já que tendo sido trabalhadora independente, acabei por perder o trabalho, os contactos, e não tenho rendimentos que me permitam a sobrevivência. Vivo literalmente às custas de meus pais.

Mas esta entrevista correu bem, cheia de informação, com muito civismo e continuo a dizer, com um profissional médico á altura do cargo que exercia: uma pessoa, boa, sensível e útil.

E nesta mesma semana recebo o maravilhoso apoio da baixa: 68,32€. Na cega e estúpida tentativa de atingir o mínimo de 15 anos de descontos (nesta altura tinha somente 13 anos a caminhar para 14) eu continuava a pagar as minhas contribuições para a Segurança Social, excepto os dias do tratamento. No momento em que escrevo, já fechei actividade, de tão caro me estava começar a sair da bolsa, e estou a tentar pedir a pensão por invalidez. Isto esperando que o meu hospital e a supra citada entidade se entendam quanto ao modelo de relatório clínico que devo entregar. Espero conseguir tratar disto antes de morrer, ufa!

Entre estadias na cidade e no campo, tenho uma consulta marcada em 22 de Julho, com direito a análises e TAC de rotina.

Uma ínfima réstia de liberdade aproxima-se de mim.

Por enquanto não faço mais quimioterapia. A minha alegria multiplicava-se á do meu médico. Ele dizia-me isto, mas continuava com a cara séria. Eu tinha dois nódulos no pulmão, mas a ifosfamida estava a fazer estragos. Iria ficar em observação. Isso equivalia a ficar em stand-by até perto de Novembro.

Durante o vai-não vai, acabei por encontrar varias amigas e conhecidos naquelas voltinhas de shopping. Fiquei super feliz por não ter de ficar lá novamente, naquela enfermaria. Mas logo fui remetida ao quintal. Nesta altura, faleceu Randy Pausch, que conseguiu lutar além do mês que lhe deram. Randy, professor universitário americano, decidiu incluir nos seus dias “The Lecture”. A lição que se calhar foi a mais valiosa da sua vida, pelo menos na minha opinião. Explicou tudo o que se passava consigo aos seus alunos, de modo científico, mas acessível. De acordo com a medicina, era suposto ele ter sucumbido ao cancro seis meses antes. No tempo que teve a mais, graças á sua força e árduas sessões de tratamentos que ele narrava no seu diário, optou por deixar o relato para os seus filhotes praticamente bebés, e para todos os outros que quisessem saber. Já tive o link neste blogue, mas entretanto, como sou uma “expert” no assunto, a coisa correu mal. Mas penso que procurando o nome dele seja possível obter informação, embora em inglês. Randy faleceu em 26 de Julho de 2008, na semana em que fui libertada parcialmente do IPO.

Na semana seguinte passou a entrevista do nosso Salvador Vaz da Silva na SICMulher.

Tive a minha junta médica para efeitos de benefícios fiscais, que correu muito bem, dando continuação a tudo o que escrevi antes: simpatia, civismo e respeito das pessoas que estavam a trabalhar, e não a maldita pena!

Mas voltei para o quintal. Ora o que se faz com um quintal em Agosto? Mandam-se candidaturas on-line para voltar a trabalhar. Eu recomeçara a enviar currículos por correio normal desde fins de Abril, sem saber porquê, na tentativa de afastar a doença, deixando que vingasse a parte sã do meu metabolismo. Agora, sem recursos alguns além de um portátil com acesso á internet por placa com pouca rede, ia tentando tratar da minha vida. O ano lectivo iria recomeçar em Setembro. Nessa altura do ano é um verdadeiro corrupio de caça aos formadores e, sabendo eu disso, não podia ficar de braços cruzados. Os meus pais só me queriam ver a descansar, se bem que o meu pai se mostrava mais consciente da minha pequenina e inglória luta em recuperar trabalho.

Na primeira semana de Agosto recebi, por correio normal, o meu Atestado Multi-Usos, com incapacidade de 80%. Por um lado, pode dar jeito, por outro, é novamente um daqueles momentos em que nos reportamos á legislação e…fazendo o cruzamento, descobrimos que estamos mais para lá do que para cá. Mas arranjei que fazer, pois foi necessário voltar a entregar declarações antigas do IRS (a do ano anterior). Isso fez-me ir á Repartição de Finanças três vezes, e pobres senhores funcionários sempre a pedir desculpa. É assim que resulta. Toda a alteração foi canalizada para o sistema central em Lisboa, pelo que ia tendo várias coisas para provar, uma de cada vez, na Repartição. Mas tudo se arranjou, pelo menos no meu caso. Imagino, agora que escrevo e pouco consigo movimentar-me, que não teria achado graça nenhuma ao assunto se isso se passasse agora.

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É tudo por agora. Depois da "ruminações", talvez volte com outros escritos.

O pai Bártolo

domingo, 29 de agosto de 2010

RESUMO (19)

Pois já estou como o Jorge: hoje apeteceu-me publicar mais um "capitulo" de RESUMO, apeser de ser domingo. Por isso aqui vai:

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KARMA

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Se me disserem que o que se passa de mau na minha vida é karma ou dharma ou lá o que é, até já acredito! Sou mazita, sou.

Entretanto passei por uns achaques da minha velha rinite, que me causa problemas, sendo que não me adianta tomar a medicação normal. É mesmo esperar que passe. O problema é quando a infecção passa para a garganta, e se pode transformar em amigdalite ou faringite. Isso é que me assusta, pois incha e respiro pior. E tusso. Mas recuperei a tempo de comer umas sardinhitas assadas lá no quintal dos meus pais no dia 13 de Junho.

Mas a história da cama 25 não me saía da cabeça, e acho que ainda hoje não saiu. E para incomodar um pouco mais, dos restantes internamentos que fiz, acabei por ir ter àquela sala. Enfim, histórias de enfermaria. E garanto-vos que ainda vos estou a poupar a pormenores menos delicados, que ninguém refere, e por vezes dava um jeitão que alguém explicasse, antes de nos estatelarmos neles.

Entretanto lá vem o quinto ciclo. Nova e imensa alegria para mim. Isto é dúbio. É uma maçada fazer tratamentos em internamento, pelo menos para mim, que odeio partilhar casas de banho, ainda mais sendo do tipo em que as pessoas que as utilizam estão debilitadas e por vezes as coisas não correm como seria normal. Ao falar disto refiro-me ao facto de fazer xixi para o chão, porque a mobilidade é reduzida. Ter diarreia e daí advirem todos os problemas de rapidez que a mesma exige. Ter vómitos e não chegar a tempo de alcançar o vomitório ou a sanita. Ter obstipação e hemorróidas causadas ou agravadas pela quimioterapia. E por vezes há pequenos truques que nos ajudam, mas só porque o assunto envolve higiene íntima, é preferível não falar.

Um dia destes, conto-vos. Não sei bem como o farei sem recorrer a marcas…mas vamos tentar.

Olhai, neste momento estou a fazer quimioterapia. Fiz um ciclo de gemtacibina, fiquei com obstipação, que já era crónica no meu ser. Lá fui tomando um comprimido que aumenta os movimentos peristálticos, juntamente com lactulose, muita sopa e fruta (como sempre). Semana seguinte, veio o tratamento um pouco mais longo, depois de ter recebido duas unidades de sangue (penso que seria da região de Borba, pois gostei muito do resultado). Claro que a obstipação se agravou novamente, e pior que isso, como as mucosas ficam mais frágeis, lá vem a maldita hemorróida. Os xaropes do costume para o entupimento. E gelo, ou melhor, aqueles saquinhos de gel que servem para arrefecer e aquecer. Pegar num, por a congelar, arranjar um turco pequeno e velhinho (porque é mais fofo) e depois passar o máximo de 20 minutos com o dito embrulho entre as nádegas. É a única maneira de dizer isto. Assim, a maldita vai encolhendo, fazendo isto pelo menos á noite. Além deste método, ainda utilizo um creme que tem um pouco de anestesia (não convém abusar) para lubrificar e tentar encolher ainda mais a parvalhona da hemorróida. Convém referir que esta é uma batalha difícil. Quando julgamos que tudo está encaminhado, pois lá surge a necessidade da Natureza de evacuar, seja por via normal ou forçada e estraga tudo novamente. Para a via forçada, depois de vários testes no laboratório cá de casa, o mais inócuo é mesmo a vaselina. Existem no mercado microclisteres só de vaselina, que não vão interferir com a demais medicação, existem também em forma de supositórios, mas penso que no caso de um adulto, com o adicional problema de hemorróidas, penso que seja mais fácil orientar o produto que queremos que faça efeito de modo a tornar a evacuação mais fácil. Existem também grânulos e gotas. Os que têm derivados de sene (planta) fazem-me cólicas. Há outros grânulos que interferem com a medicação, há gotas que ajudam. Tenham cuidado e façam aquilo que os senhores doutores não gostam muito: ler as bulas. Ah, para quem usar o microclister, convém ter uma caminha por perto. Coloco o microclister, e vou deitar-me de barriga para cima, depois rodo para a esquerda e para a direita, devagar e sempre massajando o abdómen. Há quem defenda que caminhar é melhor. Descobri que não, no meu caso, dado ter o problema adicional das hemorróidas. Deste modo a vaselina pode subir um pouco no cólon, e facilitar mais a evacuação. Agora, se me permitem, em bom português, mas que conversa de merda!

Esta manhã e aliás, ontem á noite, não sei porque razão, tudo parece estar a normalizar. Estou a terminar a semana de sete injecções de factores de crescimento, assim sendo, quase a passar uma semana desde o último tratamento. Tudo parece funcionar em ciclos de semanas. Espero que os meus intestinos se portem bem. Isto incomoda. Ficamos quase dependentes de casas de banho, toalhetes para desinfectar, toalhetes para o rabinho, creminhos e afins. Quase uma mala de parto?! Livra, quase fiquei maníaca com isto. A minha pior fase até agora foi com o tratamento de cinco dias de ifosfamida de altas doses. Desculpem se assusto alguém, mas podem aproveitar para se preparar para isto.

Bem, depois de uma semana de tratamento e uma pequena pausa para ver se tudo se mantinha em ordem, lá retorno eu ao quintal.

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E pronto, por hoje é tudo

O pai Bártolo

sábado, 28 de agosto de 2010

RESUMO(18)

Hoje, 28 de Agosto, para variar, aí vão duas publicações:

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5º INTERNAMENTO

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No dia 16 de Abril, segunda-feira, começo o quinto tratamento, com enjôos e noites mal dormidas. Penso não me enganar, mas penso que foi neste que faleceu uma das senhoras da sala/enfermaria.

A sala era de cinco pessoas. Ela estava em frente a mim, um pouco ao lado. Entrou um dia, já eu estava enjoada, de maca, trazida por bombeiros. Vim a saber mais tarde que tinha sido enviada para lá de outro hospital de Coimbra. Já tinha ficha no IPO, estava mal, portanto…toca a despachá-la, que as estatísticas ficam melhor. Bem, a senhora chegou e estava a oxigénio, “a 3” como eu ouvi, embora não saiba o que isso quer dizer.

Os enfermeiros andavam numa lufa-lufa, com cara séria. Deu-me a impressão que não estavam nada contentes e estavam até um pouco aflitos. Pensei que tivesse a ver com o facto de não haver cuidados intensivos naquele internamento. Pouco tempo depois aquele ruído próprio do oxigénio, que ninguém esquece e não se consegue explicar, passou de três para seis. A noite aproximava-se. O ruído continuava. A filha da senhora esteve lá e chamava por ela, sem obter mais resposta do que um apertar das mãos. O vaivém de enfermeiros e médicos continuava. Não havia cama livre nos Cuidados Continuados. Não havia mais nenhuma sem ser aquela, depois de procurarem uma cama que tivesse oxigénio e outras coisas que pudessem vir a ser precisas.

A noite chegou com a ronda dos medicamentos das onze. O oxigénio passou para nove. Meti na boca um calmante e nos ouvidos uns tampões. Pobre senhora. Eu estava a ficar aflita com a aflição dela. Decerto não conseguia respirar. As auxiliares daquele turno não tinham deixado a senhora bem posicionada e os enfermeiros não repararam nisso também. Assim, claro que respirava mal. Sentir-se-ia concerteza incomodada com um tubo no nariz. Por vezes acordava e dizia algo. Tirava o oxigénio várias vezes. Claro que era eu e a senhora que estava ao meu lado quem dava o alarme. Estávamos as duas aflitas com aquilo que se passava. Sabíamos o que se aproximava, mas eu sou peculiarmente ligada a faltas de oxigénio, tendo apenas um pulmão. Tenho pavor que isto me aconteça. Ainda lá foram enfermeiros que aumentaram o oxigénio de nove para doze. Mas o ruído continuava forte, de cadência pesada, o sono da senhora seria sono, sonho ou pesadelo? Que pensaria ela? Não dissera nada a quem lhe perguntara algo. Tive tanto medo. O que se passaria na cabeça dela. Será que quando estamos assim pensamos? Será que sonhamos? Será que começamos a ver coisas que nunca antes vimos? Será isto a que chamam o “reino dos céus”? Horas mais tarde, vi que se passava algo naquele cubículo. Vi tirarem a cama, mas não consegui ver mais nada com atenção. Todo o pessoal envolvido tratou da situação com extremo cuidado e silêncio. Pena que não tenham conseguido fazer com que a senhora não morresse. Numa das rondas seguintes, poucos minutos depois, perguntei ao enfermeiro que me foi ver, o que se passava. A resposta, bem providencial, foi: “Não se preocupe, agora está tudo bem. Faça por descansar, sim?” E penso que terá sido assim. Finalmente aquele sofrimento terminara para aquela senhora. Os filhos tiveram dois dias para se habituar á ideia, praticamente. No domingo, a senhora tomara o seu duche sozinha e bem. Sentiu-se mal ao final do dia, e foi às urgências. Lá ficou…até descobrirem que ela tinha processo no IPO, e sendo doente oncológica poderia ser reencaminhada. Imagino que isto tenha dado imenso jeito às estatísticas, tão torcidas e retorcidas surgem elas pelo nosso país. Lembro-me que a senhora chegou perto da hora de jantar de segunda-feira. Terça e quarta-feira foram dias de agonia, em cada um dos quais um dos dois filhos a visitou. A filha, teria concerteza mais capacidade de estar presente e apareceu todos os dias. Deve ser terrível, embora pense nisto e recorde o que me aconteceu aquando do enfarte do meu pai, deve ser horrível ver o nosso pai / mãe cair numa cama do hospital e de repente tudo vira do avesso, não fizemos tudo, não dissemos tudo, e …depois esperamos que corra bem. Aqui não correu. Na madrugada de quarta para quinta-feira, a senhora finou-se. A senhora auxiliar que chamei disse “Esta senhora é para estar assim!”. E até seria, mas não o devia ter dito como disse, nem sequer em voz alta, em plena noite, numa enfermaria, em que é fácil ouvir tudo. Continuo a pensar hoje, no momento em que escrevo, na quantidade de nódulos que tenho no único pulmão sobrevivente, no que me vai suceder, no sofrimento que terei ou não. Só espero que seja rápido, sinceramente. Perdoem-me a frontalidade e crueza da afirmação. Pelo que vi, quero que seja rápido se for por aí. Essa senhora auxiliar andou em conversas com uma amiga minha, que não sabia da história. Resumo: conhecia-me por fazer lá os internamentos de cinco dias (posso adiantar que a sua secção quase não tem contacto com doentes enjoadas como eu), e gostava muito de mim. Como podem ver, está atestado que tenho aura de anjinho brilhando por todo o lado, incluindo sítios com os quais não contacto, ah ah ah. Bem, disse que gostava muito de mim. Eu, depois de me certificar de que estávamos a falar da pessoa correcta só consegui dizer: “Não gosto dessa senhora porque grita de manhã para nos acordar, não tem cuidado nenhum connosco e aconteceu a seguinte história…”

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Comentários para quê...

Desculpem se vos incomoda este tipo de texto ao fim-de-semana, mas está quase a acabar.

O pai Bártolo

SAIR DA ROTINA

Estamos já há alguns dias na praia da claridade. O ir à praia todos os dias cria um hábito e uma rotina de que, francamente, não gostamos. Por isso hoje fomos até à Praia da Tocha dar uma volta. Almoçamos e demos um passeiozito. Era a nossa praia até há uns anos a traz. Passamos dezenas de vezes por esta placa, situada numa das ruas. Nunca tinha atentado nela. Hoje li-a. Achei-a interessante e fotografei-a para os amigos e amigas escritoras, e... para os outros também. Espero que consigam lê-la.

Aqui fica para vós com abraços e beijinhos

O pai Bártolo

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

RESUMO(17)

Prometido é devido, mesmo para quem está de férias, ou....mais ou menos

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DONDOCAS (17)

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Conseguimos organizar mais um “café das dondocas” na segunda-feira, porque na terça fui de novo para a aldeia, para regressar na sexta-feira. Bom, é um padrão diferente. Deve ter alguma lógica, eu é que não a entendo.

Quarto ciclo de tratamento. Vários amigos a fazer anos e eu sem apetite para bolos, ai ai. Entretanto vou aproveitando promoções para comprar uns livros mais baratos.

Semana seguinte, adivinhem…aldeia, até sábado. Pois deve ter acontecido alguma coisa na cidade, sei lá. Faz-me impressão. Estava habituada a andar pelo meio de 200 pessoas todo o dia. Isto é tudo muito estranho para mim. Mas, presente do Universo – consigo ir ao “café das dondocas” e tratar de vários assuntos fiscais e afins, até consegui ir fazer a inspecção ao carro.

Tenho uma TAC marcada para dia 5 de Junho, pelas 14:30 fora do IPO. Por vezes funciona assim, depende da pressa em obter resultados, depende se as máquinas estão frescas ou já estão cansadas, enfim, depende de muitos factores.

Mas, no sábado regresso á aldeia, onde não faço nada, não vejo ninguém e não aprendo grande coisa. Não há ocupação para alguém da minha idade, e não vou para o café passar a tarde, certo? E pensando melhor, a aldeia é um dormitório, nem sequer faz muito bem aos meus pais passar lá muito tempo. Era bom antes de sabermos do meu cancro. Eles faziam várias viagens de cerca de uma semana. Iam beber cultura fora e depois digeriam e descansavam lá. Agora viver mesmo todos os dias na aldeia? Livra, aprende-se um sotaque esquisito e mais nada.

Desta vez ficamos oito dias, por votação não sei de quem. Sendo assim falto de propósito a um baptizado de um bebé cujos pais os meus conhecem, e a 3 aniversários. Clausura é clausura. Quando não estou em minha casa, considero que não estou disponível.

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Não se trata de clausura, nem com isto pretendo justificar-me do que quer que seja. O estado debilitado em que a Susana já se encontrava não aconselhava a ida a Shopings ou coisa parecida. O simples contacto com estranhos poderia deitar tudo a perder… sobretudo numa altura em que se falava tanto de gripes, mas nada nos disse acerca dos baptizados. Soube-o mais tarde, e penso que nada se perdeu, pois ninguém, depois, perguntou nada…

Até o conduzir tinha sido desaconselhado. Só eu sei o que me disse a Neurologista, "de caras"... Talvez um dia eu conte...


Eu sei que é apenas um desabafo, e é, quanto a mim, um sinal da degradação a que já estava a chegar, senão vejam este pequeno apontamento que encontrei num dos caderninhos:









Beijos e abraços

O pai Bártolo

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

RESUMO (16)

Então, cumprindo o prometido aqui vai mais um bocadito de RESUMO

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ANOS DA MÃE

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A minha mãe fez anos. Ainda consegui ir buscar, na semana anterior, um presente, um perfume. Neste momento que penso nisso, acho que foi a última prenda que escolhi como tal. A minha amiga Teresa ia comigo. Nunca mais consegui fazer isso para mais ninguém. Engraçado é que a minha mãe ainda o tem, ainda não o terminou.

Há tantas coisas que deixei de fazer…e saber fazer…e gostar de sentir fazer. Não me deixam ir às compras, nem de comida, nem ao talho, nem á peixaria, nem sequer á padaria. Não posso gastar dinheiro nenhum das minhas poupanças. A dado momento reparei que o meu pai tinha creditado dinheiro na minha conta “porque estás a pagar a água, gás e luz e nós não tínhamos contribuído com nada”. Fiquei furiosa. Eles sustentam-me, eles mudaram de casa para cuidar de mim e depois fazem isto? Há, no entanto uma coisa que não espero fazer: mudar a minha residência fiscal para a deles, que é de outro concelho. Não o vou fazer. Não vou perder aquele hospital de referência, nem vou dar oportunidade a ninguém de me correr do IPO, mesmo que eu viva poucos meses. Isto dos hospitais passarem a EP tem muito que se lhe diga.

Não posso sair de casa a conduzir sozinha sem que isso faça os sobrolhos franzir. Não posso arrumar a casa como era costume, não posso limpar o pó dos móveis, lavar o chão, as varandas, varrer as garagens, enjoei a tal ponto que tenho de fugir da cozinha. Não posso fazer o meu tapete de Arraiolos porque faz tanto cotão que a minha mãe fica louca. Estou reduzida a computador, croché e livros.

Acho engraçado quando dizem que o cancro tem cura e se pode levar uma vida normal.

Quanto á primeira parte ok, concordo porque já vi. Quanto á segunda…não se pode levar uma vida normal fazendo os tratamentos em internamento. Levamos dias a recuperar da comida, dos intestinos, dos odores que aguentamos, do equilíbrio, dos glóbulos brancos que baixam e nos deixam sem defesas, do não caber naquela roupa e oops, afinal era a única coisa que tinha comprado com o último dinheiro que tinha recebido de trabalho feito. Ficamos fracos, a cabeça não pensa como estávamos habituados e não avisa. De repente parece que temos ataques de Alzheimer. Perguntamos estas coisas ao médico e do outro lado temos aquele silêncio profissional de largos anos, que espera que nós façamos outra pergunta mais fácil para se safarem daquela.

Sei que pareço uma queixinhas, mas passei do oito ao oitenta. De quem quase só ia a casa jantar e dormir a correr, passei a sapo, impedido por forças superiores (que nem me perguntaram nada) passei a não poder fazer quase nada. E não me venham com a ideia das artes aplicadas e colares e brincos, porque isso fazia eu ainda quando trabalhava, ok?

Bem, mas tive mais uma segunda-feira de vida “normal”. De manhã visitei o meu querido médico F.B. que me enviou para o IPO. Mantenho-o informado do que vou fazendo e ele lá vai tentando perceber o que se passa na minha cabecita. Pela tarde vou ao shopping com uma amiga. A Cláudia é perita em ver tudo nas lojas e não comprar nada, até faz impressão.

Com esperança no futuro, continuo a enviar o meu currículo para várias empresas da área em que trabalhei, mas é difícil. Há um tratamento, já não posso precisar qual, em que me telefonaram a oferecer horas de formação, mas eram á noite e o calendário não era compatível. A senhora do outro lado do fio ficou triste, e desejou-me tudo de bom.

Lá volto ao quintal mais três dias. Regresso na sexta-feira. Lógico que todas as pessoas normais arranjam que fazer no fim-de-semana, especialmente tendo filhos. Ao fim de semana não tenho amigas para ir ao shopping, logo fico no sofá da sala, numa espécie de limbo, esperando que passe e que aconteça alguma coisa diferente. Sei que os meus pais só querem cuidar de mim o melhor que sabem e podem, mas estão a asfixiar-me um pouco. Isto não se parece em nada com vida. Parece sim que estou continuamente á espera que passe. Entretanto, vai passando, mas e se o que vier no fim for mesmo e somente o fim? Desperdicei tudo. Desperdiçámos tudo.

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Para todos quantos se dignaram visitar-nos, um grande abraço

O pai Bártolo

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

RESUMO (15)

Mesmo nas férias aqui vai mais uma espécie de capítulo:

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MUNDO DAS BAIXAS

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Comecei a entrar no mundo das baixas, no termina e recomeça, recebe, não recebe.

No dia 17 de Março de 2008 tive então a 2ª consulta de Oncologia Médica, depois de fazer as análises. Comecei a quimioterapia em ciclos de três dias: doxorrubicina, ifosfamida e mesna, com direito a enjoos durante dois ou três dias. Fiz o 1º ciclo mesmo antes da Páscoa.

Depois fomos uns dias para a aldeia. É bom, os meus pais sentem-se melhor lá, é a casa deles.

Eu vou deixar de ter vontade. Tenho de aprender a desligar isto, apercebo-me neste momento.

Pelo início de Abril, começa a cair o meu pelo. O cabelo começa a soltar-se no dia 3 de Abril. Regresso de casa dos meus pais, onde continuo a sensação de exílio e, no dia 4, sexta-feira, vou como meu pai ao barbeiro dele para cortar o cabelo a máquina zero. Começo em pente 4. Eu disse-lhe: “Á vontade, é mesmo zero.” Mas ele ainda tentou pente 3, 2 e ok, pente zero. Que maravilha de higiene. Lenço por cima, com um nó de lado e toca a andar, evitando o sol, claro. Em brincadeiras de internet, soube que domingo, dia 6 era o meu 13609º dia no planeta. Lembro-me de pensar quantos mais haveria.

Nos três dias seguintes a mesma rotina: análises, consulta e internamento para o 2º ciclo de tratamento.

Quando voltei para casa precisei de anti-eméticos, ou seja, comprimidos que evitam enjoos e vómitos. Os enjoos ameaçam, mas nunca chego a vomitar. É que se começo, a coisa torna-se violenta e dolorosa. Vomitar cansa-me muito. Não sei se acontece com as outras pessoas. Acho que isto não costuma ser tema de conversa habitualmente.

O meu organismo lá melhorou na quinta e na sexta-feira. No domingo deu-me na cabeça de limpar o pó em casa. Sempre é uma coisa mais leve que posso fazer. Neste momento os remendos ainda não incomodam muito. Lá vou de novo três dias para a aldeia. Depois disso, o meu pai teve de rapar os 4mm que o meu cabelo cresceu, deve ter sido reacção á máquina hi hi. Mas doía na almofada. Agora tenho um “melão macio”. Sou mesmo cabeçuda.

Na segunda-feira seguinte consigo reunir-me com um grupinho de amigas para tomar um cafezinho de manhã. Chamamos-lhe o “café das dondocas”. Ficámos sem trabalho quase ao mesmo tempo, se bem que a minha razão foi diferente, para bem delas. Depois disso, novo exílio de três dias. Nada de cinema, exposições, compras, visitas a amigas, passeios. Nada. Casa e quintal. Abençoada internet móvel. Acho que se isto continuar fico meio louca, ou três quartos?

No fim-de-semana voltamos á cidade. Parece que a minha mãe não tem paciência para os comboios de pessoas que vão oferecer bolinho sortido aos doentes, como manda a tradição lá da terra. Eu cá gosto do bolinho sortido, só não entendo porque é que as pessoas ficam todas com um ar muito sério e a olhar para a decoração. Mas, em geral, gosto do bolinho sortido.

Segunda, terça e quarta-feira: novo ciclo de tratamento. Nos intervalos vou pagando os dias da Segurança Social que “sobram”. Só estou a pedir baixa dos dias de tratamento mesmo. Desconfio que o meu esforço é escusado. Não pertencia a quadro nenhum, portanto, não tenho protecção na doença além desta baixa que vai durando. O seguro de acidentes de trabalho é disso mesmo, logo não é para aqui chamado. Não consigo arranjar formação para dar nos dias em que me dá jeito, nenhuma empresa quer aturar isso. Preferem ter os formadores prontinhos a saltar uns quilómetros, em vez de dar algum tipo de incentivo a pessoas com necessidades especiais. Entretanto, mais uma coisa que ninguém conversa. Na primeira semana que passo em casa, juntamente com quinta-feira e afins…passo esse tempo todo para me pôr em ordem novamente. Fico inchada, tenho de vestir dois nºs acima. Fico obstipada, problema que já tinha, mas agora agravou-se devido aos cito tóxicos que me administram (os medicamentos que matam as células), e fico dependente da minha casa de banho. Pode parecer ridículo, mas se não evacuar todos os dias começo a ficar em pânico. Este tratamento fez-me surgir uma coisa linda e agradável de seu nome hemorróidas. Mesmo à saída, é de chorar quando vou á casa de banho. É um assunto aparentemente parvo, mas não de tão fácil resolução quanto possa parecer. Acho giríssimo quando alguém, lá do topo da sua infinita sabedoria diz: “Ah, tome lactulose que fica logo bem”. Sim, as pessoas normais ficam logo bem, as que estão a fazer quimio nem por isso. Tomo 3 saquetas e nada. E vão os grânulos, e a sopa, e as saladas, e os legumes cozidos, e o requeijão, e a fruta, e os kiwis em jejum, já não sei que mais faça. Bem, esperamos que funcione, senão vai como diz um amigo que conheci no IPO, e já anda nestas vidas desde os 19 anos (tem agora 30), “se não sai a bem, sai a mal”. E vai de microclister. Lá dentro é que não pode ficar todo o lixo que é suposto expulsar. É caso para dizer “que conversa de merda”.

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Um abraço

O pai Bártolo

domingo, 22 de agosto de 2010

NOVAMENTE DO QUINTAL

Nas minhas buscas, encontrei mais esta foto da
"piscina" dos patos, mais ou menos povoada, com
parte dos mesmos. A maior parte já não existe...
Vê Manuela como têm piscina? Só falta a prancha... mas têm rampa de saída...
Beijinhos e abraços
O pai Bártolo

RESUMO (14)

Só mais um bocadinho para o vosso regresso de fim-de-semana, hoje sem comentários:

IPO / DESPEDIDA

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Entretanto, no dia 13 de Fevereiro, às 08:30, lá estava eu no IPO para fazer análises, raio-X, e para ter a minha primeira consulta de Oncologia Médica com o doutor E.J.

Na radioterapia concluíram que o risco era demasiado elevado. Entretanto eu tinha desenvolvido dois nódulos, e por isso, no dia seguinte fiz uma ressonância magnética. Fiquei triste, por não conseguir dormir durante o exame. Já me estava a habituar a dormitar nas TACs, para não pensar muito. Mas neste não dava.

Mais uma vez, aterrei numa coisa parecida com uma passadeira da caixa do supermercado. E fui de emergência novamente.

Pelo meio ia dando as aulas que conseguia, nos intervalos da minha nova vida de doente crónica, aliás oncológica com recidiva.

No dia 14 de Fevereiro apareceu o meu cartão do SNS com um “T”. Mais de um ano depois da minha pneumectomia, o cartão apareceu. Que vergonha, por acaso ainda não tinha morrido.

No dia 15 houve duas coisas que me abanaram um pouco mais.

A cara do meu pai a assinar o documento do banco que o transformava em titular das minhas contas. Eu teimava, de um modo muito ligeiro que depois podia ser preciso algo e estar com pontos e tal… mas ele sabia porque razão eu queria que ele fosse titular. Via nisso um fim de algo, de que eu me apercebia e em que ele não queria pensar.

A outra foi que terminei o meu trabalho na escola pelas 15:30. A direcção sabia que seria assim. Estavam todos disponíveis. Esperei meia hora para me despedir da directora da escola. Estava no seu gabinete com a coordenadora pedagógica, de porta aberta, e viam as pessoas que vagueavam na sala de espera. Era aí que eu estava, depois de me fazer anunciar, e ser informada que “seria já recebida”. Sentei-me junto á máquina da água. Só me faltava uma senha com número na mão, para ficar semelhante ao centro de saúde.

Sexta-feira á tarde. O tempo a passar…meia hora. Desisti. Despedi-me da recepcionista e saí. Nunca mais lá voltei. Enviei um mail dizendo que tinha estado á espera. Não tive resposta. Assim sendo, tudo o resto, documentos e cópias autenticadas que me eram devidas, foi tudo tratado por correio registado, com aviso de recepção.

Desde Outubro de 1993, em que fui bem recebida, até 15 de Fevereiro de 2008, esquecida numa cadeira de uma sala de espera. Que o Universo corrija isto, por favor, e dê uma lição de tamanho adequado àquelas duas criaturas.

No dia 21, quinta-feira, tive consulta de Cirurgia no IPO, com direito a passagem por várias secções, para fazer todos os exames necessários á cirurgia.

Entretanto, além disto tudo, era necessário tratar dos animais na aldeia e lá fomos. Para ajudar, as hérnias discais do meu pai também atacaram nestes dias, levando-o à cama, sem poder andar. Ficou a chorar por não poder levar-me ao IPO, na preparação para a cirurgia.

Essa parte foi fácil. Dei entrada às 09:00 da manhã de terça-feira, dia 26, fui operada no dia seguinte e tive alta na sexta-feira, 29, indo para casa com uns analgésicos. Com pensos para fazer pelo meio de visitas, nasce a filhota de uma amiga minha, que mais tarde havia de visitar.

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Um abraço

O pai Bártolo

domingo, 15 de agosto de 2010

SERENATA A NOSSA SENHORA




















Parece estranho... Eu também achei quando vi, no programa das actividades culturais da Praia da Claridade, "uma Serenta a Nossa Senhora". Já há anos que vimos para aqui. Ou por falta de atenção ou por outro motivo qualquer, nunca nos tinhamos apercebido. É interessantissimo. Durante cerca de três horas foram vários os temas abordados, sob o titulo "Da rua ao altar. Da Senhora dos caminhos ... à Senhora dos Anjos". Houve guitarradas e cânticos diversos, entoados pelo mangifico coro, solistas e acompanhados pela assembleia.
A imagem que vos deixo "pedi-a emprestada" ao blogue "PARÓQUIA DE BUARCOS".
Numa coisa parece termos sorte: o Padre Pedro, de Lamas, é um espectáculo. As suas intervenções não deixam ninguém indiferente. O Sr. Padre Carlos, de Buarcos, é, parece-me, mais profundo e um óptimo cantor.
Um Abraço
O pai Bártolo

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

NOTICIAS DO "QUINTAL"



Os de asas abertas eram o Sebastião e Miquelina, com alguma da maralha, a sairem dos seus aposentos. Depois de várias buscas, encontrei, mas há uma ainda melhor que não sei onde pára.

A que se vê a traz do Sebastião era a "mãos nos bolsos", pois andava sempre em pé. Foi batizada por um vizinho.

Ficam aqui para vós, com um Abraço

O pai Bártolo

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

COISAS QUE NÃO SE DIZEM

OS “SES”

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Hoje acordei mal disposto e apetece-me desopilar… Se não quiserem não leiam.

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Aqui vai:

Se há coisa que me irrita solenemente é o dizer-se “ai se tivesse ido mais cedo”, “ai se”… isto e aquilo…

Irrita-me ainda mais quando esses “ses” são directamente dirigidos a pessoas gravemente doentes e debilitadas…

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Antes de vos contar o aconteceu gostaria que soubessem que o cancro da Susana foi diagnosticado quando tinha um diâmetro de cerca de meio a um centímetro: uma manchinha.

Quando tive o enfarte agudo do miocárdio tinha acabado de fazer os diversos exames e analises tidas por convenientes e nada se notou…

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Agora atentem:

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Na freguesia onde nós morávamos, habita também e ainda uma senhora que conhece a São, minha mulher, desde a primária. A mim, viu-me várias vezes… Não me conhece nem sabe, ao que penso, quem sou, nem de onde vim.

Num dos intervalos dos tratamentos da Susana e por que ela estava um pouco melhor depois de passar a “ressaca” a seguir ao tratamento, fomos os três à missa do sétimo dia por alma da mãe da nossa comadre que ocorreu na igreja do Convento da Rainha Santa. Não tínhamos ido ao funeral, por ter ocorrido numa das fases piores que a nossa comadre sabia e acompanhava e por que esta fez tudo por tudo para que ninguém nos informasse.

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Pois no final da missa essa senhora, vira-se directamente para a Susana e diz-lhe: “se tu tivesses dinheiro ias a Pamplona fazer tratamentos”. “O A. (individuo muito conhecido, pelo seu feitio, em Coimbra) foi lá fazer tratamento”.

Claro que a Susana reagiu mal, bloqueou o número de telefone dela e nunca mais a quis atender. Eu fiz mais ou menos a mesma coisa. O Sr. A.., faleceu, lamento, pouco tempo depois.

Claro que no dia seguinte, lá estávamos nós a falar com o Dr.”Rezinga”.

Contamos o que se passara e não foram precisos muitos pormenores: “ É fulano. Já fez fita aqui e nos HUC. Deixem-no ir. Quando acabar o dinheiro da MÉDIS ele volta.”

“Mas vale a pena ou não?”. “Eu acho que não, mas se quiserem podem ir. Os tratamentos que fazem lá são exactamente iguais aos que fazemos aqui. Nisto não há quintinhas. As informações são disponibilizadas para todo o mundo.”

Claro que seguimos o conselho do nosso amigo médico. O único tratamento que não estava disponível, ele conseguiu-o, e não resultou (Yondelis).

É um produto que resultou do trabalho de investigação de precisamente dois espanhóis, efectuado há cerca de 20 a 25 anos. Não foi feito mais nenhum, pelo menos não o encontramos.

Note-se que o cancro da Susana, tem uma incidência de menos de 2% (dois) a nível mundial. Com esta percentagem não dá lucro…

Mas, “se tivesse dinheiro” ter-se-ia tratado em Espanha…

E o paizito não o arranjava? …

Não digo mais nada. Tirem a ilações…

Um Abraço

O pai Bártolo

RESUMO (13)

BOYS

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Nesta altura decorriam as reuniões de avaliação do 1º semestre. Nesta sexta-feira, um grande anormal (não tem mesmo outra designação) formador lá da escola atreveu-se a fazer o seguinte: no final do dia de reuniões de avaliação, na sala de professores, sem mais ninguém presente, pôs em causa a minha conduta profissional no que concerne á capacidade de avaliação dos alunos. Acusou-me de deixar de lado um aluno, propositadamente. Este fulano, o formador, era orientador de turma e só recentemente fizera as cadeiras chamadas “psico-pedagógicas”. São disciplinas integradas nos cursos, quando se segue a via ensino. Talvez pelo deslumbramento da novidade que o assunto tinha sido para ele, decidiu aplicá-lo a quem já fizera essas cadeiras antes de 1993, e dava formação desde essa altura, a pequenos e grandes. Noutra situação teria graça. Ele herdara esta orientação de turma de uma outra formadora que saíra da escola. Só trabalhava com eles havia uns meses. Eu conhecia o aluno havia três anos: preguiçoso, não usava manuais obrigatórios, não executava as tarefas em aula, muito menos fora de aula. Foi com a conversa do coitadinho rejeitado para o orientador, que eu o assustava e estava sempre a embirrar com ele, e depois o deixava de parte. Claro, que havia eu de fazer com uma criatura que não quer participar nas actividades? Espera aí sentado até que a aulita acabe. Outra alternativa, prevista no regulamento interno, levas falta de material e reprovas em dez dias.

Mas esse truque nem me irrita muito, era uma tentativa de um adolescente, a ver se colava.

Agora a conversa do senhor formador comigo, e os termos em que aconteceu, só provavam que ele é uma pessoa sem bases nenhumas, mal-educada e burro. Fiquei estarrecida que um engenheiro de 30 anos de repente tivesse qualificações para avaliar o trabalho pedagógico de uma formadora de humanidades, com 15 anos de experiência e formação mais do que necessária da área pedagógica, e ainda com uma pós-graduação em Ciências da Educação?! Mas que raio era aquilo? Quem lhe deu esse poder? Que ratazana era aquela? Quem lhe encomendou a tarefa? Nem sequer era do mesmo grupo disciplinar, por favor.

Perante as acusações do lambe-botas em questão (era o seu passatempo favorito em relação á direcção da escola) respondi-lhe que, apesar de não lhe reconhecer competências para o que estava a fazer, e achar que era muitíssimo mal-educado, ultrapassando todos os limites da ética profissional…o problema dele iria ter resolução rápida.

Eu teria de rescindir contrato e concerteza quem viesse lhe faria a vontade, pois iria ser enrolada/o em três tempos, ao contrário de mim. Sempre avaliei todos os alunos pelos mesmos critérios, expostos no início do ano lectivo aos alunos e aos orientadores, bem como á direcção, como manda a bíblia do assunto. Nunca fui atrás de graxas nem de interesses. Sempre abri a boca para expor as incongruências. Fui seleccionada para trabalhar ali por via normal: concurso no jornal, entrevista e avaliação anual do trabalho, pelo menos com o director anterior. Este fora dentro do saquinho dos “boys” que viajara da Aguieira, de Poiares e afins.

Quanto ao aluno, mais tarde, na última aula que tive com essa turma, em que todos sabiam o que se passava (com o devido cuidado sempre os informei do evoluir da doença) contei muito por alto que o menino se sentia desprezado por mim, pedi-lhe desculpa e ofereci-lhe uma gramática com exercícios, já que ele não tinha ainda adquirido o manual obrigatório, para o qual tinha subsídio. Claro que as feições foram variadíssimas, e pude vê-las todas, dada a posição junto ao quadro, que ocupei por alguns minutos. Acho francamente que o livro ficou lá ou foi para o contentor mais próximo. Se alguém o insultou, agradeço e acredito que sim. Que se dane. Quando me voltar a passar à frente logo lhe perguntarei se aprendeu a trabalhar. É que estas coisas acontecem, mesmo.

Chegou o Carnaval, que era muito cedo este ano. Naquela sexta-feira comuniquei ainda as notícias á minha superior, a coordenadora pedagógica, que se mostrou muito pesarosa e triste. Ela acompanhara tudo desde o início, e até nos dávamos bem, até ao momento em que chegou a politiquice toda, e principalmente por eu ter pura e simplesmente desaparecido do caminho dela quando nos mandaram todos dar uma volta em Setembro. A directora também estava informada, mas a conversa “oficial” teve lugar na quinta-feira de manhã, a seguir ao Carnaval, em 7 de Fevereiro.

A minha carta de demissão foi entregue no dia seguinte. Já tinha havido um caso de um colega que tivera de tirar um tumor do rim. Achei que não iria ter problemas. Sendo um contrato de prestação de serviços, eu teria de avisar com 30 dias de antecedência, mas havia uma alínea para eventualidades de género estranho. Tive de fazer o pedido de dispensa de pré-aviso de demissão e o pedido de demissão, mas como gosto de frases longas…expliquei tudo muito bem.

Duvido que tenha sido lido com atenção.

Trabalhei naquele instituto público durante quinze anos, saí de mãos a abanar. Recibo verde. Regime alargado da Segurança Social, com direito a 365 dias de baixa…não, não é por ano, é no total. Já tinha gasto alguns dias na pneumectomia, sobravam os outros.

Tive imensas papeladas para tratar, mas na escola deixei tudo feito.

Há documentos que sei que alguns orientadores de turma nem sabem para que servem. Daqui a uns anos provavelmente saberão, ou quando fizerem algum investimento no estudo da pedagogia. Mapas de avaliação contínua do 1º semestre, para passar a quem me substituísse, acompanhados dos materiais já utilizados, com cópia para a coordenadora pedagógica e directora foram enviados em formato Pdf por mail.

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NOTA: Depois de ler tudo, parece-me que a Susana não se refere a esse facto. A Susana tinha habilitação própria para exercer funções de coordenação pedagógica. Aquele senhora que as exercia, não tinha e sentia-se ameaçada…

Quanto a”boys”… Só por que a Susana falou da Aguieira (era uma escola semelhante), vejam: algum tempo antes de tudo isto ter acontecido era preciso preencher uma vaga do quadro lá da escola semelhante a coordenação de curso, ou coisa parecida. O Sr. Director, da altura, entendeu que a Susana preenchia todos os requisitos e propô-la, organizando o respectivo processo, que enviou para Lisboa. Só que aqui já reinava outra gente, a actual.

O director ou secretário de estado, um rapazito que por lá andava, disse: A Drª Susana não tem perfil para o lugar. E não teve mesmo. Foi nomeado, e tomou posse, como efectivo, um “boy” da Beira Aguieira que ainda lá está. Quanto ao seu perfil e competência, conheço-os, mas não me pronuncio…

Um abraço

O pai Bártolo

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

RESUMO (12)

Como sabem estão a passar cinco meses... Hoje não me apetece dizer mais nada. Não acordei bem…

O pai Bártolo

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TENS QUE DEIXAR DE TRABALHAR…

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Fui ao centro de saúde fazer o penso de novo, quatro dias depois. Ao oitavo dia tiraram-me os pontos. Tinha de ser, pois era sexta-feira, e na segunda seria tempo demais. Estas coisas funcionam de acordo com os horários e não de acordo com as necessidades dos doentes. Mas devo dizer que as enfermeiras do meu centro de saúde são impecáveis.

Foi um pouco complicado dar aulas nestes dias, pois não conseguia levantar muito o braço direito, e as pessoas são muitas vezes de memória curta. Se eu trabalhasse noutro sítio, ficava em casa e pronto. Onde já se viu uma professora com uma sutura de biopsia no ombro direito ir trabalhar como se nada fosse logo no dia seguinte? Eu vi, mas não digo onde.

Entretanto, fui esperando resultados. Em relação á lesão do mediastino, o meu doutor F.B. tencionava encaminhar-me para o IPO, para a radioterapia, já que não dava para operar. Estava a tratar de enviar o meu processo para lá. E eu ia tentando ajustar na minha imaginação os tratamentos de radioterapia com as horas de formação que tinha de dar. Até podiam ser as últimas. Afinal tínhamos sido dispensados. Afinal eu tinha ouvido da directora A.P.P. que a escola me tinha feito um favor. Eu não podia abusar. Eu não podia ficar doente, certo?

Meados de Dezembro, aproximava-se mais um Natal de sabor amargo.

Tudo parecia girar em torno de presentes, compras, lacinhos, jantares, pais-natal, festinhas de escolas.

E eu só queria que o meu processo fosse para o IPO e começassem a “arranjar-me” rápido, enquanto combinava as melhores opções com a minha chefe coordenadora pedagógica, como poderia ir às consultas semanais da rádio. Eu estava com fé que conseguia ficar nos turnos da hora de jantar e mais tarde, aqueles que ninguém queria, e eram feitos naquela altura. Hoje, em 2009, não sei se isso ainda é possível.

Eu andava tão tola que nem sei bem que prendas comprei, não consigo recordar-me. No entanto, reforcei o abastecimento de lenha para a lareira com mais 4 metros de lenha. Arrumei-a devagarinho numa das garagens, a mais comprida. Houve vários protestos, pois a sutura da biopsia estava cá, pois claro. Eu usei o braço esquerdo. Mas demorei imenso tempo, isso é verdade.

Em 2008 não passei o meu aniversário nos cuidados intensivos. Tive de ir á PSP buscar um documento para a seguradora. Tinham batido no meu carro e fugiram. Graças a várias testemunhas, o caso resolveu-se bem, devagar, mas bem. Foi mais uma “alegria”.

No dia 10 de Janeiro ligaram-me o IPO para estar lá na segunda-feira seguinte, dia 14. Tive consulta, recebi as instruções relativas aos tratamentos da radioterapia, fiz TAC, as marcações e hemograma. A doutora despachada e igualmente simpática A.C., avisou-me que o meu caso era muito complicado e iria ser objecto de análise pela equipa. O mediastino fica mesmo ao lado do coração e muito perto da espinal-medula. Queriam conservar-me o máximo de peças.

Entretanto andava o meu carro para a frente e para trás, para fazer a peritagem, por causa da batida. E não tinha carro de substituição. Tudo a correr mal, que raiva.

Passou mais uma semana e eu ainda ia repondo as aulas a que já faltara para ir aos vários médicos. E mais outra semana.

No dia 1 de Fevereiro, após reunião dos médicos do IPO e dos do meu hospital de referência, liguei ao meu médico doutor F.B. no intervalo maior da manhã. Dia de trabalho, sexta-feira, se não me engano. Liguei. Do outro lado, a voz calma e doce deu-me a notícia que eu não queria. Eu pensava ser capaz de fazer a radioterapia e continuar com as aulas, já que os tratamentos eram feitos até às dez da noite. Mas o doutor F.B. disse-me que não iria ser assim. Eu tinha de fazer quimioterapia. E em internamento. “Tens de deixar de trabalhar, tem mesmo de ser desta vez.”

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É tudo.

Um Abraço

O pai Bártolo

terça-feira, 10 de agosto de 2010

NOVIDADES DO QUINTAL

CULPADO… SR. GANSO:

É verdade o Sr. Ganso fez asneira…

Quando ontem chegamos ao “quintal” fui soltar a bicharada para que pudessem ainda desfrutar de um pouco de liberdade.

Mas o Sr. Ganso tinha feito asneira. Arrancou o tampão da piscina que têm dentro da capoeira e a água foi-se…

É verdade. É que os nossos gansos têm piscina… Claro levou um ralhete e … tive que a encher de novo com água fresquinha. Chamaram-lhe um figo, mas nem obrigado disseram…

As flores do "arquivo" do quintal, são para vós, do pai Bártolo:


segunda-feira, 9 de agosto de 2010

RESUMO (11)

Tal como prometi, continuemos:


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PET NO PORTO

Fiz a minha vacinação contra a gripe sazonal.

No dia 16 de Outubro tive consulta, já com o resultado da PET disponível. E apareceu uma pequena marca da cor errada num gânglio. Podia ser o sarcoma ou uma inflamação. Dois dias depois fiz uma TAC torácica e nova broncofibroscopia. Esta última era feita a direito, isto é, o caninho não ia esforçar tanto como das vezes anteriores, e se não resultasse á primeira não iam teimar. É que o dito gânglio situava-se mesmo por baixo da divisão dos dois brônquios. O direito funcionava, o esquerdo era um coto. Pretendia-se colher tecido para saber se era o malandro do sarcoma saltitão. Realmente a coisa não resultou, e parámos logo, para não estragar o que ainda funcionava.

O meu querido médico doutor F.B. decidiu fazer nova PET, desta vez no Hospital da Boavista, com um contraste mais apurado, até porque assim só se esperava o tempo do contraste radioactivo sair do aeroporto (vem de Espanha) e chegar á Boavista, em vez de esperar toda a viagem feita de carro até Coimbra. Tentávamos, com a repetição do exame, deixar de lado a percentagem de falsos positivos /falsos negativos.

No dia 31 de Outubro reparei num caroço no topo do braço direito. Comecei a não gostar nada da brincadeira.

Para ajudar, lá na escola, uma aluna apresentara um quadro de tuberculose e ninguém da escola fazia nada. Como a miúda habitava outro concelho, as autoridades de saúde de Coimbra também não actuavam. Na escola não queriam alarmes, nem que a menina fosse apontada, mas…onde fica a responsabilidade e os direitos de todos os outros elementos da comunidade escolar?

Consegui, nessa semana, explicar o que se passava ao meu doutor F.B. e fiz o teste da tuberculina.

Em 13 de Novembro, fui fazer a PET ao Porto. Claro que não usei o serviço de transporte de doentes. Nem sei como funciona, além de desconfiar que funciona mal. Os meus pais mais uma vez fizeram todo o trabalho. Acordar de madrugada e ir para o Porto, sim, porque os exames de pessoas de fora da cidade marcam-se para as 09:00 da manhã. Apreciei a delicadeza, mais uma vez. Mas as instalações são boas. Não entendo porque já não foi feita nos HUC, tal como as anteriores. Deve ser para incluir o bónus da viagem, e o risco inerente.

O nódulo do ombro direito continuou a crescer e a biopsia foi feita em 28 de Novembro. Pois é, tudo, outra vez um ano depois! Para a biopsia recebi anestesia local e estive na conversa com o cirurgião que apesar de divertido, lá deixou transparecer o “tal olhar”. Pedi-lhe para ver o que tinha tirado para o frasquinho. Era igual ao que tinha visto no vídeo da broncofibroscopia. Pode ser coincidência, pois são tipos de tecidos diferentes, mas as bolinhas eram iguais. Nessa tarde, apesar dos meus protestos, não fui trabalhar. Mas fui no dia seguinte, mesmo remendada, ainda por cima do lado direito.

Não será preciso contar-vos aqui que a colaboração com o facto de eu ter uns pontitos a incomodar do lado direito, sendo formadora e usando o quadro…pouco ou nada importou, certo?

Consegui arranjar maneira de ir visitar uma amiga, recém-mãe, ainda com os pontos e os adesivos. Fiquei triste porque a única maneira de pegar no bebé foi sentar-me e colocarem-me o petiz com cuidado em cima dos meus braços. Não foi bem a mesma coisa. Entretanto ele já cresceu e já consegui andar com ele ao colo um pedaço. Mas como já anda, cresceu mais e tenho a coluna avariada, acho que é mais uma a juntar á lista do “Nunca mais vou…”

Imagino o que seria se tivesse filhos, como faria o meu dia-a-dia? Como cuidaria deles? Como viveria sem conseguir pegar-lhes ao colo?


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Por hoje ficamos por aqui


O pai Bártolo


domingo, 8 de agosto de 2010

AO MEU IRMÃO

MEU IRMÃO

Sim é verdade eu tive um IRMÃO… Chamava-se Domingos e era mais velho que eu quinze anos. Era o meu IRMÃO QUERIDO. Os outros, que me desculpem, são irmãos.Lembro-me, como se fosse hoje, de quando eu tinha cerca dos meus 10 anitos, andar sempre colado a ele. Para onde ele fosse lá estava eu. Ensinava-me e apoiava-me em tudo.

Fui crescendo. Fui para escola primária. Nas eleições em que concorreu o General Humberto Delgado ele foi delegado à mesa por parte deste. Na altura da contagem dos votos a outra parte implicou com a medida dos boletins: “vai a casa buscar uma régua e um esquadro” para medir isto (não digo o resto).

Para quem não sabe, nessa altura, os boletins de voto eram distribuídos porta a porta pelos representantes das listas e ao mesmo tempo “fazia-se” propaganda eleitoral…

No final sabem quem ganhou…

Pois o meu querido irmão acabou a vociferar impropérios e a dizer que ia para a estrada “gamar”. Claro que não foi e não foi preso, por acaso.

Acabou por ir para Angola onde casou e fez fortuna.

Ainda me lembro: foi num dia 11 de um dos meses de inverno. Ele a querer ir embora e eu agarrado às suas calças, pois queria ir com ele.

Regressou depois do 25 de Abril, quase com uma mão atrás e outra à frente. Voltou a refazer a sua vida, desta feita, na Covilhã.

Quando eu estava numa comissão de serviço em Tomar, em 1989, foi internado no Hospital de Castelo Branco. Imaginam com quê? Sim é verdade, com cancro, só não sei de que “marca”.

Para ajudar, o meu IRMÃO tinha um tipo de sangue raro. Naquela altura, ao que penso, não havia bancos de sangue como hoje e os hospitais atiravam para os familiares o encargo de arranjar dadores. A minha cunhada, depois de esgotadas as fontes lá da zona, ligou-me aflita: “Vê se consegues arranjar aí dadores compatíveis”. Por sorte um dos funcionários que trabalhava comigo tinha aquele tipo de sangue. Ele próprio se encarregou de arranjar mais, junto dos bombeiros locais e de várias outras pessoas.

Conseguida autorização, levei-os a todos a Castelo Branco e foram feitas as recolhas. Foram feitas as transfusões tidas por pertinentes.

Passou bastante tempo nos cuidados intensivos… Eu estava sozinho em Tomar pelo que, quase todos os dias, corria para Castelo Branco, mas só me deixaram vê-lo uma ou duas vezes. Para mim já bastava estar perto dele…

O meu IRMÃO acabou por falecer no dia 20 de Abril de 1989, com 58 anos.

Só agora, depois de passar esta tormenta com a minha filha, percebi o sofrimento e aflição da minha cunhada, por que os outros irmãos, tal como agora, passaram ao lado.

Presto aqui a minha homenagem ao meu QUERIDO IRMÃO e agradeço a todos os funcionários, bombeiros de Tomar e a todos os que, de alguma forma, procuraram ajudar com o seu sangue ou com disponibilidade demonstrada.

Ao responsável do Serviço, na altura, também hoje aposentado, o meu muito obrigado por me ter autorizado e facilitado as deslocações.

Um dia destes, se calhar, conto-vos outra história em que ele foi protagonista…

Meu IRMÃO QUERIDO olha pela tua sobrinha Susana, de que tanto gostavas, e que foi para junto de ti …Desculpem-me, mas tinha que fazer isto. No dia 2 de Agosto ele teria feito 79 anos. Tinha isto preparado para publicar nesse dia 2, mas um pormenor tecnico impediu-me de o fazer.

Obrigado

O pai Bártolo