quarta-feira, 11 de agosto de 2010

RESUMO (12)

Como sabem estão a passar cinco meses... Hoje não me apetece dizer mais nada. Não acordei bem…

O pai Bártolo

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TENS QUE DEIXAR DE TRABALHAR…

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Fui ao centro de saúde fazer o penso de novo, quatro dias depois. Ao oitavo dia tiraram-me os pontos. Tinha de ser, pois era sexta-feira, e na segunda seria tempo demais. Estas coisas funcionam de acordo com os horários e não de acordo com as necessidades dos doentes. Mas devo dizer que as enfermeiras do meu centro de saúde são impecáveis.

Foi um pouco complicado dar aulas nestes dias, pois não conseguia levantar muito o braço direito, e as pessoas são muitas vezes de memória curta. Se eu trabalhasse noutro sítio, ficava em casa e pronto. Onde já se viu uma professora com uma sutura de biopsia no ombro direito ir trabalhar como se nada fosse logo no dia seguinte? Eu vi, mas não digo onde.

Entretanto, fui esperando resultados. Em relação á lesão do mediastino, o meu doutor F.B. tencionava encaminhar-me para o IPO, para a radioterapia, já que não dava para operar. Estava a tratar de enviar o meu processo para lá. E eu ia tentando ajustar na minha imaginação os tratamentos de radioterapia com as horas de formação que tinha de dar. Até podiam ser as últimas. Afinal tínhamos sido dispensados. Afinal eu tinha ouvido da directora A.P.P. que a escola me tinha feito um favor. Eu não podia abusar. Eu não podia ficar doente, certo?

Meados de Dezembro, aproximava-se mais um Natal de sabor amargo.

Tudo parecia girar em torno de presentes, compras, lacinhos, jantares, pais-natal, festinhas de escolas.

E eu só queria que o meu processo fosse para o IPO e começassem a “arranjar-me” rápido, enquanto combinava as melhores opções com a minha chefe coordenadora pedagógica, como poderia ir às consultas semanais da rádio. Eu estava com fé que conseguia ficar nos turnos da hora de jantar e mais tarde, aqueles que ninguém queria, e eram feitos naquela altura. Hoje, em 2009, não sei se isso ainda é possível.

Eu andava tão tola que nem sei bem que prendas comprei, não consigo recordar-me. No entanto, reforcei o abastecimento de lenha para a lareira com mais 4 metros de lenha. Arrumei-a devagarinho numa das garagens, a mais comprida. Houve vários protestos, pois a sutura da biopsia estava cá, pois claro. Eu usei o braço esquerdo. Mas demorei imenso tempo, isso é verdade.

Em 2008 não passei o meu aniversário nos cuidados intensivos. Tive de ir á PSP buscar um documento para a seguradora. Tinham batido no meu carro e fugiram. Graças a várias testemunhas, o caso resolveu-se bem, devagar, mas bem. Foi mais uma “alegria”.

No dia 10 de Janeiro ligaram-me o IPO para estar lá na segunda-feira seguinte, dia 14. Tive consulta, recebi as instruções relativas aos tratamentos da radioterapia, fiz TAC, as marcações e hemograma. A doutora despachada e igualmente simpática A.C., avisou-me que o meu caso era muito complicado e iria ser objecto de análise pela equipa. O mediastino fica mesmo ao lado do coração e muito perto da espinal-medula. Queriam conservar-me o máximo de peças.

Entretanto andava o meu carro para a frente e para trás, para fazer a peritagem, por causa da batida. E não tinha carro de substituição. Tudo a correr mal, que raiva.

Passou mais uma semana e eu ainda ia repondo as aulas a que já faltara para ir aos vários médicos. E mais outra semana.

No dia 1 de Fevereiro, após reunião dos médicos do IPO e dos do meu hospital de referência, liguei ao meu médico doutor F.B. no intervalo maior da manhã. Dia de trabalho, sexta-feira, se não me engano. Liguei. Do outro lado, a voz calma e doce deu-me a notícia que eu não queria. Eu pensava ser capaz de fazer a radioterapia e continuar com as aulas, já que os tratamentos eram feitos até às dez da noite. Mas o doutor F.B. disse-me que não iria ser assim. Eu tinha de fazer quimioterapia. E em internamento. “Tens de deixar de trabalhar, tem mesmo de ser desta vez.”

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É tudo.

Um Abraço

O pai Bártolo

4 comentários:

Branca disse...

Um abraço Pai Bártolo, apenas um grande abraço neste dia que se aproxima e sei ser tão penoso.
Obrigada pela sua visita ao meu sítio, gostei muito de o ver por lá.
Este relato é a Susana em pleno na sua personalidade bem marcante e mesmo sem doença ela teria razão, a euforia do Natal é sempre excessiva.

Beijinhos, estou sempre convosco.
Branca

Nela disse...

Um xi-coração.
Não tenho palavras para dizer, mas percebo-o muito bem.

sideny disse...

Olá.Sr.Bartolo

Como eu entendo este texto.

Muito obrigada por passar pelo meu sitio.

beijinhos para si e sua esposa.

Tudo de bom

Anónimo disse...

Olá a todas.
As passagens pelos vossos sitios não são para agradecer. Passo por lá todos os dias. Saio muitas vezes de mansinho... E o que ha-de um aposentado fazer neste tempo de canicula, senão visitar os amigos e amigas.
Obrigado pelo vosso apoio
O pai Bártolo