quinta-feira, 12 de agosto de 2010

RESUMO (13)

BOYS

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Nesta altura decorriam as reuniões de avaliação do 1º semestre. Nesta sexta-feira, um grande anormal (não tem mesmo outra designação) formador lá da escola atreveu-se a fazer o seguinte: no final do dia de reuniões de avaliação, na sala de professores, sem mais ninguém presente, pôs em causa a minha conduta profissional no que concerne á capacidade de avaliação dos alunos. Acusou-me de deixar de lado um aluno, propositadamente. Este fulano, o formador, era orientador de turma e só recentemente fizera as cadeiras chamadas “psico-pedagógicas”. São disciplinas integradas nos cursos, quando se segue a via ensino. Talvez pelo deslumbramento da novidade que o assunto tinha sido para ele, decidiu aplicá-lo a quem já fizera essas cadeiras antes de 1993, e dava formação desde essa altura, a pequenos e grandes. Noutra situação teria graça. Ele herdara esta orientação de turma de uma outra formadora que saíra da escola. Só trabalhava com eles havia uns meses. Eu conhecia o aluno havia três anos: preguiçoso, não usava manuais obrigatórios, não executava as tarefas em aula, muito menos fora de aula. Foi com a conversa do coitadinho rejeitado para o orientador, que eu o assustava e estava sempre a embirrar com ele, e depois o deixava de parte. Claro, que havia eu de fazer com uma criatura que não quer participar nas actividades? Espera aí sentado até que a aulita acabe. Outra alternativa, prevista no regulamento interno, levas falta de material e reprovas em dez dias.

Mas esse truque nem me irrita muito, era uma tentativa de um adolescente, a ver se colava.

Agora a conversa do senhor formador comigo, e os termos em que aconteceu, só provavam que ele é uma pessoa sem bases nenhumas, mal-educada e burro. Fiquei estarrecida que um engenheiro de 30 anos de repente tivesse qualificações para avaliar o trabalho pedagógico de uma formadora de humanidades, com 15 anos de experiência e formação mais do que necessária da área pedagógica, e ainda com uma pós-graduação em Ciências da Educação?! Mas que raio era aquilo? Quem lhe deu esse poder? Que ratazana era aquela? Quem lhe encomendou a tarefa? Nem sequer era do mesmo grupo disciplinar, por favor.

Perante as acusações do lambe-botas em questão (era o seu passatempo favorito em relação á direcção da escola) respondi-lhe que, apesar de não lhe reconhecer competências para o que estava a fazer, e achar que era muitíssimo mal-educado, ultrapassando todos os limites da ética profissional…o problema dele iria ter resolução rápida.

Eu teria de rescindir contrato e concerteza quem viesse lhe faria a vontade, pois iria ser enrolada/o em três tempos, ao contrário de mim. Sempre avaliei todos os alunos pelos mesmos critérios, expostos no início do ano lectivo aos alunos e aos orientadores, bem como á direcção, como manda a bíblia do assunto. Nunca fui atrás de graxas nem de interesses. Sempre abri a boca para expor as incongruências. Fui seleccionada para trabalhar ali por via normal: concurso no jornal, entrevista e avaliação anual do trabalho, pelo menos com o director anterior. Este fora dentro do saquinho dos “boys” que viajara da Aguieira, de Poiares e afins.

Quanto ao aluno, mais tarde, na última aula que tive com essa turma, em que todos sabiam o que se passava (com o devido cuidado sempre os informei do evoluir da doença) contei muito por alto que o menino se sentia desprezado por mim, pedi-lhe desculpa e ofereci-lhe uma gramática com exercícios, já que ele não tinha ainda adquirido o manual obrigatório, para o qual tinha subsídio. Claro que as feições foram variadíssimas, e pude vê-las todas, dada a posição junto ao quadro, que ocupei por alguns minutos. Acho francamente que o livro ficou lá ou foi para o contentor mais próximo. Se alguém o insultou, agradeço e acredito que sim. Que se dane. Quando me voltar a passar à frente logo lhe perguntarei se aprendeu a trabalhar. É que estas coisas acontecem, mesmo.

Chegou o Carnaval, que era muito cedo este ano. Naquela sexta-feira comuniquei ainda as notícias á minha superior, a coordenadora pedagógica, que se mostrou muito pesarosa e triste. Ela acompanhara tudo desde o início, e até nos dávamos bem, até ao momento em que chegou a politiquice toda, e principalmente por eu ter pura e simplesmente desaparecido do caminho dela quando nos mandaram todos dar uma volta em Setembro. A directora também estava informada, mas a conversa “oficial” teve lugar na quinta-feira de manhã, a seguir ao Carnaval, em 7 de Fevereiro.

A minha carta de demissão foi entregue no dia seguinte. Já tinha havido um caso de um colega que tivera de tirar um tumor do rim. Achei que não iria ter problemas. Sendo um contrato de prestação de serviços, eu teria de avisar com 30 dias de antecedência, mas havia uma alínea para eventualidades de género estranho. Tive de fazer o pedido de dispensa de pré-aviso de demissão e o pedido de demissão, mas como gosto de frases longas…expliquei tudo muito bem.

Duvido que tenha sido lido com atenção.

Trabalhei naquele instituto público durante quinze anos, saí de mãos a abanar. Recibo verde. Regime alargado da Segurança Social, com direito a 365 dias de baixa…não, não é por ano, é no total. Já tinha gasto alguns dias na pneumectomia, sobravam os outros.

Tive imensas papeladas para tratar, mas na escola deixei tudo feito.

Há documentos que sei que alguns orientadores de turma nem sabem para que servem. Daqui a uns anos provavelmente saberão, ou quando fizerem algum investimento no estudo da pedagogia. Mapas de avaliação contínua do 1º semestre, para passar a quem me substituísse, acompanhados dos materiais já utilizados, com cópia para a coordenadora pedagógica e directora foram enviados em formato Pdf por mail.

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NOTA: Depois de ler tudo, parece-me que a Susana não se refere a esse facto. A Susana tinha habilitação própria para exercer funções de coordenação pedagógica. Aquele senhora que as exercia, não tinha e sentia-se ameaçada…

Quanto a”boys”… Só por que a Susana falou da Aguieira (era uma escola semelhante), vejam: algum tempo antes de tudo isto ter acontecido era preciso preencher uma vaga do quadro lá da escola semelhante a coordenação de curso, ou coisa parecida. O Sr. Director, da altura, entendeu que a Susana preenchia todos os requisitos e propô-la, organizando o respectivo processo, que enviou para Lisboa. Só que aqui já reinava outra gente, a actual.

O director ou secretário de estado, um rapazito que por lá andava, disse: A Drª Susana não tem perfil para o lugar. E não teve mesmo. Foi nomeado, e tomou posse, como efectivo, um “boy” da Beira Aguieira que ainda lá está. Quanto ao seu perfil e competência, conheço-os, mas não me pronuncio…

Um abraço

O pai Bártolo

2 comentários:

Branca disse...

Jobs for the Boys é o que mais prolifera por este país fora, uma autêntica praga e a competência e honestidade a maior parte das vezes não é reconhecida porque não se faz valer disso, não faz o espalhafato dos incompetentes e lambe-botas.

Sem comentários.
Beijinhos
Branca

Anónimo disse...

Olá Tia
O que mais dizer...
O certo é que eles continuam lá e não se enxerga qualquer competencia
O pai Bártolo