domingo, 29 de agosto de 2010

RESUMO (19)

Pois já estou como o Jorge: hoje apeteceu-me publicar mais um "capitulo" de RESUMO, apeser de ser domingo. Por isso aqui vai:

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KARMA

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Se me disserem que o que se passa de mau na minha vida é karma ou dharma ou lá o que é, até já acredito! Sou mazita, sou.

Entretanto passei por uns achaques da minha velha rinite, que me causa problemas, sendo que não me adianta tomar a medicação normal. É mesmo esperar que passe. O problema é quando a infecção passa para a garganta, e se pode transformar em amigdalite ou faringite. Isso é que me assusta, pois incha e respiro pior. E tusso. Mas recuperei a tempo de comer umas sardinhitas assadas lá no quintal dos meus pais no dia 13 de Junho.

Mas a história da cama 25 não me saía da cabeça, e acho que ainda hoje não saiu. E para incomodar um pouco mais, dos restantes internamentos que fiz, acabei por ir ter àquela sala. Enfim, histórias de enfermaria. E garanto-vos que ainda vos estou a poupar a pormenores menos delicados, que ninguém refere, e por vezes dava um jeitão que alguém explicasse, antes de nos estatelarmos neles.

Entretanto lá vem o quinto ciclo. Nova e imensa alegria para mim. Isto é dúbio. É uma maçada fazer tratamentos em internamento, pelo menos para mim, que odeio partilhar casas de banho, ainda mais sendo do tipo em que as pessoas que as utilizam estão debilitadas e por vezes as coisas não correm como seria normal. Ao falar disto refiro-me ao facto de fazer xixi para o chão, porque a mobilidade é reduzida. Ter diarreia e daí advirem todos os problemas de rapidez que a mesma exige. Ter vómitos e não chegar a tempo de alcançar o vomitório ou a sanita. Ter obstipação e hemorróidas causadas ou agravadas pela quimioterapia. E por vezes há pequenos truques que nos ajudam, mas só porque o assunto envolve higiene íntima, é preferível não falar.

Um dia destes, conto-vos. Não sei bem como o farei sem recorrer a marcas…mas vamos tentar.

Olhai, neste momento estou a fazer quimioterapia. Fiz um ciclo de gemtacibina, fiquei com obstipação, que já era crónica no meu ser. Lá fui tomando um comprimido que aumenta os movimentos peristálticos, juntamente com lactulose, muita sopa e fruta (como sempre). Semana seguinte, veio o tratamento um pouco mais longo, depois de ter recebido duas unidades de sangue (penso que seria da região de Borba, pois gostei muito do resultado). Claro que a obstipação se agravou novamente, e pior que isso, como as mucosas ficam mais frágeis, lá vem a maldita hemorróida. Os xaropes do costume para o entupimento. E gelo, ou melhor, aqueles saquinhos de gel que servem para arrefecer e aquecer. Pegar num, por a congelar, arranjar um turco pequeno e velhinho (porque é mais fofo) e depois passar o máximo de 20 minutos com o dito embrulho entre as nádegas. É a única maneira de dizer isto. Assim, a maldita vai encolhendo, fazendo isto pelo menos á noite. Além deste método, ainda utilizo um creme que tem um pouco de anestesia (não convém abusar) para lubrificar e tentar encolher ainda mais a parvalhona da hemorróida. Convém referir que esta é uma batalha difícil. Quando julgamos que tudo está encaminhado, pois lá surge a necessidade da Natureza de evacuar, seja por via normal ou forçada e estraga tudo novamente. Para a via forçada, depois de vários testes no laboratório cá de casa, o mais inócuo é mesmo a vaselina. Existem no mercado microclisteres só de vaselina, que não vão interferir com a demais medicação, existem também em forma de supositórios, mas penso que no caso de um adulto, com o adicional problema de hemorróidas, penso que seja mais fácil orientar o produto que queremos que faça efeito de modo a tornar a evacuação mais fácil. Existem também grânulos e gotas. Os que têm derivados de sene (planta) fazem-me cólicas. Há outros grânulos que interferem com a medicação, há gotas que ajudam. Tenham cuidado e façam aquilo que os senhores doutores não gostam muito: ler as bulas. Ah, para quem usar o microclister, convém ter uma caminha por perto. Coloco o microclister, e vou deitar-me de barriga para cima, depois rodo para a esquerda e para a direita, devagar e sempre massajando o abdómen. Há quem defenda que caminhar é melhor. Descobri que não, no meu caso, dado ter o problema adicional das hemorróidas. Deste modo a vaselina pode subir um pouco no cólon, e facilitar mais a evacuação. Agora, se me permitem, em bom português, mas que conversa de merda!

Esta manhã e aliás, ontem á noite, não sei porque razão, tudo parece estar a normalizar. Estou a terminar a semana de sete injecções de factores de crescimento, assim sendo, quase a passar uma semana desde o último tratamento. Tudo parece funcionar em ciclos de semanas. Espero que os meus intestinos se portem bem. Isto incomoda. Ficamos quase dependentes de casas de banho, toalhetes para desinfectar, toalhetes para o rabinho, creminhos e afins. Quase uma mala de parto?! Livra, quase fiquei maníaca com isto. A minha pior fase até agora foi com o tratamento de cinco dias de ifosfamida de altas doses. Desculpem se assusto alguém, mas podem aproveitar para se preparar para isto.

Bem, depois de uma semana de tratamento e uma pequena pausa para ver se tudo se mantinha em ordem, lá retorno eu ao quintal.

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E pronto, por hoje é tudo

O pai Bártolo

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