Oitava Carta de Joana ao Anjo
Abril de 2004
O que te aconteceu?
Sempre te deu jeito o e-mail que te mandei? Conseguiste o emprego?
Prefiro pensar que estás muito ocupado e não tens tempo para toda a gente. Espero que estejas mesmo bem, se não conseguiste aquela vaga fora do país, continua com o part-time. Tudo dá jeito, não é? Tens despesas. Eu sei, também tenho. Por isso engulo tantos sapos. Para conservar o pouco que vou tendo.
Quando passares por cá diz qualquer coisa. Gostava de te mostrar os meus dotes culinários. Prometo que não morres. E sei que não aprecias peixe e odeias bacalhau. Vês?
Também gostava de por a conversa em dia. O que tens feito? Estás feliz? Sabes que não há ninguém que seja feliz todos os dias, não sabes? Portanto, não dês demasiada importância à frequência.
Nós por cá estamos bem. Nada de inesperado. Estamos com muito trabalho e o mesmo ordenado de sempre, claro.
Continuo magricelas e a medicação por vezes deixa-me esquisita. Tenho tonturas e às vezes fico mesmo baralhada. Chego a fazer coisas que não entendo, e depois fico de rastos porque já não posso voltar atrás.
Como estou a viver sozinha, posso adoptar um horário que resulte comigo, porque a maior parte das vezes, os horários dos outros, chamados normais, não me servem. Continuo a não jantar, não consigo comer uma refeição completa à noite. Tenho de fazer refeições mais leves. E depois adormeço sob o efeito da droga, para uso da qual tenho autorização. Hei-de melhorar. Hei-de voltar a ser quem era. E tu também.
Tudo há-de correr bem, meu Anjo.
Beijos,
Joana
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MORREU O NUNO
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