domingo, 19 de setembro de 2010

COMO SE DIZ A UM PAI...

Nestes entretantos dei por mim às voltas, a "ruminar", como diria o nosso grande amigo Jorge, acerca de um episódio, ocorrido aquando de um dos últimos internamentos da Susana.
Como sabem dos vários serviços do IPO que visitou, também passou pela Neurologia. Foi-lhe diagnosticada a invasão da coluna, pelo bicho. Fez rádio e melhorou um pouco. Passado algum tempo voltou a piorar. Fez TAC. A Srª Drª C., sempre muito faladora, embora não se tenha remetido ao silêncio, foi menos pródiga nas explicações, refugiando-se na falta de relatório que o seu colega, técnico do assunto, ainda não tinha feito.
O tempo foi passando.
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Quando nos deslocávamos ao IPO para as visitas, embora haja autocarros que o servem muito bem, optamos por levar sempre a nossa viatura, para evitar constrangimentos de horários. Claro que isso acarreta sempre o problema de estacionamento, muito difícil naquela zona. Assim, depois de deixar a "mãe guerreira" à porta do IPO, ía à procura de estacionamento que demorava sempre muito. Era também uma deixa para ir pedir ajuda, sem a Susana saber, aos meus amigos cardiologistas, no hospital do lado.
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Ora, numa das vezes em que ía a entrar no edifício dos internamentos, encontrei a Srª Drª C. .
Após os cumprimentos normais, sai a pergunta: "então já há mais resultados". Nunca a tinha visto tão atrapalhada. Fale à vontade.
"Não sei como se diz a um pai que a filha vai morrer".
É dizer e pronto. Não tenha problemas que nós sabemos desde o inicio e já percebemos que falta pouco. "Ah é". Sim, fique descansada, não se preocupe.
De qualquer forma isto marcou-me um bocado. Para além da sua formação especifica, nas suas áreas, estarão todos os médicos preparados para estas coisas? É que eles também são pessoas e sofrem com as perdas.
Desculpem-me este desabafo.
Beijinhos e abraços para todas/os
O pai Bártolo

7 comentários:

sideny disse...

Olá Sr. Bártolo

Aos médicos também lhes custa dar uma noticia dessas a um pai.

Eles sâo pessoas como o Sr. disse

Fazem um juramento de salvar vidas e acredito que quando nâo o conseguem sofrem também.

beijinhos e bom domingo

Nela disse...

Não. Acho que os médicos não são/estão preparados para isso. São pessoas, são pais, têm filhos, não sabem lidar com a perda e com o sentimento de impotência. Foram formatados para curar... Não para deixar morrer.
Também eles aprendem com tudo isto.

São uns bravos pais.

Branca disse...

Olá Pai Bártolo,

Peço desculpa por alguma ausência.
Daqui a pouco vou ali por outro lado explicar um pouco melhor o que ando para lhe explicar há muito e que no fundo já sabe.
Este tema que aqui aborda é complicado. O Pediatra dos meus filhos foi durante muitos anos Director da Pediatria do IPO Porto, tão dedicado à Oncologia que chegou a ser agraciado pelo Presidente da República, tinha um serviço exemplar e frequentava inúmeros congressos internacionais.
Fundou também em África serviços de Pediatria, pois apesar de toda essa experiência um dia disse-me no consultório, onde ficava até às 23h da noite sem jantar e atendia todas as urgências, que isso era o seu escape, porque pesado era mesmo dar aos pais no IPO as notícias que tinha que dar sobre a vida dos filhos, tão pequeninos. Dizia ele que nada lhe custava mais, porque por vezes nem sempre as crianças sofriam com a medicação que lhes era dada, mas os pais sofriam terrívelmente.
Os médicos que são humanos, grande parte deles não veem com indiferença estas perdas e a vida deles às vezes é tão complicada, que os leva a ter de correr logo para outro ser humano que precisa deles, sem terem tempo de assimilar tudo porque passaram antes. ´
Admiro a sua capacidade de entrega, se há casos em que assim não é, outros há em que muito lhes é devido e sei que a Susana admirava muito o seu Dr. Rezingas.

Um beijinho para si e desabafe sempre, é para isso que servem os amigos, para além de tudo o mais. Se não os temos nos piores momentos é porque não eram amigos, para os bons é fácil encontrar montanhas de gente disponível.

Vivemos numa sociedade em que só se valoriza o bom, o bonito, o fácil e o dinheiro. Quando tudo isso acaba sabemos finalmente quem é nosso amigo. Já pareço a Susana a falar, :)

Beijinhos Pai Bártolo
Branca

Natália Fera disse...

Bom Dia
Imagino que deve ser uma noticia muito dificil de dar e de receber.
Os médicos também sofrem quando se deparam com estas situações,eu já passei por uma situação em que o médico ao abrir um exame disse um palavrão daqueles jeitosos,não por falta de educação,mas por raiva ao ver o resultado,quando são "humanos"eles também se sentem frustrados quando as coisas não correm bem.
Tenho tido sorte com a equipa que me trata,mas sei que infelizmente nem sempre é assim.
Boa semana Amigo e um beijinho.

Anónimo disse...

Olá a todas
Muito obrigado pela vossa compreensão e pela vossa presença.
Nós sabemos que os médicos, todos, sofrem muito por não conseguirem salvar vidas, minorar sofrimentos...
Nós sabemos quanto o Dr. "Rezinga" sofreu e demonstrou-o uma última vez no funeral da Susana onde compareceu com a esposa que lutava com uma gravidez de risco.
Beijinhos
O pai Bártolo

Anónimo disse...

Os desabafos fazem parte da nossa vida, das nossas experiências.

Um abraço

Anónimo disse...

Caro Observador
Obrigado pela vossa compreensão e por me deixarem desabafar. Até ver é o único sitio em que o poderei fazer, sem preocupar mais ninguém.
Um abraço
O pai Bártolo