domingo, 8 de agosto de 2010

AO MEU IRMÃO

MEU IRMÃO

Sim é verdade eu tive um IRMÃO… Chamava-se Domingos e era mais velho que eu quinze anos. Era o meu IRMÃO QUERIDO. Os outros, que me desculpem, são irmãos.Lembro-me, como se fosse hoje, de quando eu tinha cerca dos meus 10 anitos, andar sempre colado a ele. Para onde ele fosse lá estava eu. Ensinava-me e apoiava-me em tudo.

Fui crescendo. Fui para escola primária. Nas eleições em que concorreu o General Humberto Delgado ele foi delegado à mesa por parte deste. Na altura da contagem dos votos a outra parte implicou com a medida dos boletins: “vai a casa buscar uma régua e um esquadro” para medir isto (não digo o resto).

Para quem não sabe, nessa altura, os boletins de voto eram distribuídos porta a porta pelos representantes das listas e ao mesmo tempo “fazia-se” propaganda eleitoral…

No final sabem quem ganhou…

Pois o meu querido irmão acabou a vociferar impropérios e a dizer que ia para a estrada “gamar”. Claro que não foi e não foi preso, por acaso.

Acabou por ir para Angola onde casou e fez fortuna.

Ainda me lembro: foi num dia 11 de um dos meses de inverno. Ele a querer ir embora e eu agarrado às suas calças, pois queria ir com ele.

Regressou depois do 25 de Abril, quase com uma mão atrás e outra à frente. Voltou a refazer a sua vida, desta feita, na Covilhã.

Quando eu estava numa comissão de serviço em Tomar, em 1989, foi internado no Hospital de Castelo Branco. Imaginam com quê? Sim é verdade, com cancro, só não sei de que “marca”.

Para ajudar, o meu IRMÃO tinha um tipo de sangue raro. Naquela altura, ao que penso, não havia bancos de sangue como hoje e os hospitais atiravam para os familiares o encargo de arranjar dadores. A minha cunhada, depois de esgotadas as fontes lá da zona, ligou-me aflita: “Vê se consegues arranjar aí dadores compatíveis”. Por sorte um dos funcionários que trabalhava comigo tinha aquele tipo de sangue. Ele próprio se encarregou de arranjar mais, junto dos bombeiros locais e de várias outras pessoas.

Conseguida autorização, levei-os a todos a Castelo Branco e foram feitas as recolhas. Foram feitas as transfusões tidas por pertinentes.

Passou bastante tempo nos cuidados intensivos… Eu estava sozinho em Tomar pelo que, quase todos os dias, corria para Castelo Branco, mas só me deixaram vê-lo uma ou duas vezes. Para mim já bastava estar perto dele…

O meu IRMÃO acabou por falecer no dia 20 de Abril de 1989, com 58 anos.

Só agora, depois de passar esta tormenta com a minha filha, percebi o sofrimento e aflição da minha cunhada, por que os outros irmãos, tal como agora, passaram ao lado.

Presto aqui a minha homenagem ao meu QUERIDO IRMÃO e agradeço a todos os funcionários, bombeiros de Tomar e a todos os que, de alguma forma, procuraram ajudar com o seu sangue ou com disponibilidade demonstrada.

Ao responsável do Serviço, na altura, também hoje aposentado, o meu muito obrigado por me ter autorizado e facilitado as deslocações.

Um dia destes, se calhar, conto-vos outra história em que ele foi protagonista…

Meu IRMÃO QUERIDO olha pela tua sobrinha Susana, de que tanto gostavas, e que foi para junto de ti …Desculpem-me, mas tinha que fazer isto. No dia 2 de Agosto ele teria feito 79 anos. Tinha isto preparado para publicar nesse dia 2, mas um pormenor tecnico impediu-me de o fazer.

Obrigado

O pai Bártolo

3 comentários:

Branca disse...

Uma bonita homenagem e a prova de que aqueles que amamos, amamos por toda a vida.

É bonito ver um amor fraternal destes num mundo onde essas ligações se perdem com muita facilidade.
Eu também tenho uma ligação muito forte à minha irmã e isso é muito importante para mim.

Beijinhos.
Tia Branca

Anónimo disse...

Olá Tia:
Muito obrigado. è surpreendente como ao fim de todos estes anos e com tanta coisa a passar pelo meio, cada um com a sua vidita, e agora venha tudo à memória...
Muito Obrigado pela compreensão, mas foi sempre o único, de cinco, que se preocupou comigo.
O pai Bártolo

Brinquinho da cantareira disse...

Eu também peço aos meus DOIS ANJOS DA GUARDA para os proteger ...
Um xi para si Pai Bártolo....