quarta-feira, 28 de julho de 2010

RESUMO (9)

Caros amigos deste Blogue:

Estive a remoer, a pensar, a cogitar e sei lá que mais... Apeteceu-me terminar por aqui as transcrições do “RESUMO”, mas por respeito a algumas pessoas, que sei estarem a passar por dificuldades… vou continuar.

Também devo avisar que isto agora vai aquecer e aqueles que, andam a cuscar, eu sei, sem nada dizerem… será melhor não ler por que também eu vou “falar” de coisas que sei e do mal que fizeram à Susana.

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DESPEDIDOS

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Em inícios de Setembro, como sempre, lá vou eu solícita para a anual tarefa de construção de horários lá na escola. Fico a saber que, de acordo com ordens dos serviços centrais em Lisboa, os formadores externos (da área de formação ligada a línguas e outras disciplinas existentes no ensino regular) vão ser dispensados. Isto quer dizer que ao fim de quinze anos a trabalhar para um instituto público, depois de ter passado pelo problema de saúde que passei, fico sem trabalho. Assim, num piscar de olhos. O erro foi meu, que apostei tudo no mesmo sítio, mas o pior que fiz foi confiar nas pessoas.

Fomos informados numa reunião de urgência que teríamos menos horas semanais para leccionar, nem sequer suficientes para os descontos obrigatórios da Segurança Social. A “culpa” era apresentada como se fosse de Lisboa, dos serviços centrais, como se cá na província ninguém tivesse sabido de nada, e tivesse a hombridade de falar com os formadores mais antigos, que eram alguns. Grande lata. Ninguém dos cargos de coordenação foi afectado, só na formação, seria coincidência?

Pedi uma reunião com a directora, e exprimi o meu desagrado, abrindo o meu coração. Sendo uma das formadoras mais antigas, quis saber porque razão nunca mais chegava a prometida realidade dos contratos por conta de outrem. Nós só parávamos a actividade porque a escola parava.

Se o assunto fosse bem espremido no tribunal de trabalho, se calhar a coisa não seria bem como estava a correr até ao momento. Acerca desta parte não disse nada, mas começámos a tratar do assunto.

Exprimi, sim, o meu desagrado acerca das horas que sobravam do meu grupo disciplinar. Essas estavam a ser divididas entre mim e outra colega. Mas essa colega tinha habilitações para dar formação técnica em alojamento hoteleiro, aliás a sua formação de base. A formação de línguas adquiriu-a depois, já eu lá leccionava havia anos. Lembrei-me nesse momento que a diferença talvez estivesse no facto de ir levar e buscar crianças á escola, e de lamber muitas botas até altas horas da noite. Lembro-me de uma das últimas vezes que fui á discoteca com amigas, e que encontrei metade da direcção da escola e essa tal colega. Lembro-me que fugiram de mim e nem consegui dizer-lhes “olá”.

Pois perguntei á senhora directora porque não ficava cada uma com sua especialidade: ela no alojamento hoteleiro e eu no inglês. Sempre se repartia o mal pelas aldeias. Mas ela tem coisas para pagar (eu nunca me meti a comprar uma casa, evidentemente, não tendo um rendimento estável) e tu és filha única. Desculpe? O que tem a minha vida privada a ver com isto? É critério de selecção desde quando? Porque razão o facto de eu ser filha única determina que eu só trabalhe seis horas por semana? Por acaso sabem se os meus pais me vão sustentar? Que palhaçada é esta? Porque é que houve contratos para cargos de coordenação oferecidos a pessoas com a quarta classe, e os mais antigos continuam a ficar para trás?

Disse-me a senhora e distinta directora A.P.P., mãe, educadora, talvez cuspindo para o ar, e juro que isto foi mesmo assim. Eu sentadinha do outro lado da secretária, aquele “lado da secretária” que muda a vida das pessoas, dominado pela criatura que domina o outro. Então, disse-me a senhora: “Sabes, nós fomos extremamente compreensivos contigo quando foste operada. Nós devíamos e podíamos ter-te substituído.” Eu não acreditei no que estava a ouvir, depois de tantos anos a ajudar a construir aquela escola, em que aquela senhora não estava sequer lá. Andava pela política trepando, tratando do seu mealheiro. Aquela senhora que só levara ideias pedagógicas completamente desviadas do plano de formação necessário na indústria hoteleira. Que tentava transformar uma escola de formação num liceuzinho de passear livros. Que destruíra os exemplos de luta através do trabalho, e fomentara a promoção através da falsidade e da adulação. Que constituíra um grupelho de pseudo-formadores informadores qual antigo regime, e os encarregara de liderar as turmas para determinadas funções que nada tinham a ver com a formação específica de cada turma/curso. Os meninos alunos eram agora veículo de informação, não podiam ser contrariados, passavam de qualquer modo, os critérios eram cada vez mais rebaixados, a exigência tinha ido às urtigas. O profissionalismo já não era transmitido nem exigido. Eu, enquanto formadora de línguas, sabia mais de cortes de batata do que um aluno de um segundo ano do curso de cozinha?! Decadência. E insónia.

Dois dias depois fizeram-me uma proposta para dar mais umas seis horas a 120km de distância, num pólo de formação recém-aberto e ainda não equipado. Achei graça. Agradeci e declinei, obviamente.

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Nota do pai Bártolo:- A “escola” a que a Susana se refere situa-se ou situava-se em Óbidos à entrada do Castelo, em frente à G.N.R.. Na nossa saída de Junho, passei lá, de propósito, e vi-a fechada. Mas isso estava mesmo a ver-me… Há outra nas Caldas…

Agora pensem lá um bocadinho: as duas senhoras "decisoras" conheciam perfeitamente bem o estado da Susana, numa recuperação aparente e temporária… E já viram o pai Bártolo a deixar a sua filha doente fazer sozinha aquela viagem? Ou dava-lhe a importância que iria “ganhar” ou ia todos os dias com ela…

Por outro lado quando soube do “despedimento” telefonei à coordenadora pedagógica, "pessoa que julgava" conhecer, a pedir-lhe que ocupassem a Susana. Era só o que queria, não era o dinheiro que interessava. Mas não, aquelas coisas parecidas com gente, maltrataram-na ainda mais, senão verão. É que a Susana não tinha o tal cartão… Embora pense que sei qual foi o caminho que levou certas pessoas ao lugar que detêm, não o vou dizer…

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Este é o primeiro desabafo

Obrigado por me aturarem

O pai Bártolo

7 comentários:

Branca disse...

Pai Bártolo,

Estou por aqui, um pouco a cair com este calor mas estou, não os abandonei, nunca os abandonarei, é que estou a entrar à 8h para o trabalho e estou em mudanças de casa, mas prometo logo que possa vir aqui novamente recuperar toda esta história. Li aqui os seus desadabafos e as lágrimas saltaram quando li o da Susana sobre o despediemto e depois o que o senhor contou no final.
A Susana era demasiado pura e franca e infelizmente hoje não se pode ser assim.
Eu volto, prometo, até porque se choro é por gratidão, é porque acredito que muito do bom que me está a acontecer também à Susana o devo um pouco, depois explico por outra via.

Hoje já estou a cair, para quem acordou às 6h30 já é muito.

Beijinhos
Branca

Nela disse...

Continue, por favor, Pai Bártolo.
Obrigada

manuela baptista disse...

Pai Bártolo

as injustiças devem ser denunciadas, sobretudo num país que tão mal apregoa a igualdade de oportunidades e a fraternidade!

a chaga dos recibos verdes, para quem trabalha anos a fio para a mesma entidade, continua.

um abraço

Manuela

Anónimo disse...

Olá Tia, Nela e Manuela:
Não lhes vou chamar "caras amigas", pois arrisco-me a sentar-me no "tal banquinho"...
Claro que não é às amigas que me refiro. Há efectivamente outras pessoas que andam por aqui, cobardemente, para irem contar, pois as "receptoras" não têm tempo.
Sei quem são, só não sei como vedar-lhes o acesso. Mas ao mesmo tempo também é bom que saibam que nós sabemos...
Claro que vou continuar, mas não vai ser agradável.
Muito obrigado por me aturarem
O pai Bártolo

sideny disse...

Olá Sr.Bártolo

Vou ser mázinha no que vou dizer.

Quando toca a nós e aos nossos estas doenças. os outros estâo se burrifando para nós.


Eu costumo dizer que havia de lhes calhar também uma doença assim para dar valor.
Um dia precisei de tratar de umas coisas com uma assistente social e ela teve a lata de me perguntar se era so isso a minha doença.

Claro que a tratei um bocado mal, e perguntei-lhe se a queria (o cancro ) eu dava-lho de livre e de bandeja.

beijinhos e tudo de bom

Anónimo disse...

Pois Sideny, quem passa pelas situações, sente-se. Todos os outros passam ao lado. Tudo bem...
Sejam felizes atè uma desta lhe bater à porta. Depois receberão o troco.
Beijinhos
O pai Bártolo

Branca disse...

Voltei aqui, depois de ler tudo o que não tinha lido antes e quando me refiro ali atràs no primeiro comentário à comoção que senti é porque lhe digo muito sinceramente que há tempos quando a minha filha foi a uma entrevista ao polo universitário novo aí, já um pouco fora da cidade, eu elevei os olhos para a amizade e para a pureza da Susana e pedi-lhe que se pudesse a ajudasse, desde lá onde está. Até ao momento não sabemos ainda os resultados da Universidade, mas de há 15 dias para cá toda a nossa vida mudou, arranjamos a casa que procuravamos há uns tempos, logo de seguida veio um emprego para ela que tinha acabado o curso há um ano e já desesperava, por isso me comovi, têm sido duas semanas de muito trabalho, mesmo na minha vida profissional, mas cheias de esperança e felizes, por muitos motivos, que não têm a ver só com a profissão, mas com a saúde da filha e com a sua felicidade.
Obrigada pai Bàrtolo, vou dando notícias quando puder e irei a Coimbra logo que possa cumprir algo a que me propus desde o primeiro momento.

Beijinhos para vós, com muito carinho.
Tia Branca