domingo, 25 de julho de 2010

RESUMO (8)

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.Antes de mais devo dizer o seguinte: andei a ler os comentários no blogue IPPONforLIFE, do Tiago Alves que era meu vizinho. Lamento o que aconteceu, como é óbvio, mas fiquei deveras irritado com alguma das coisas que por lá foram escritas: " ai se fosse mais cedo"; "se , se, se". Deixem-se disso "P". Os pais fizeram tudo o que sabiam e poderam. Não sabem o que estão a dizer. Limitem-se a deixar os pêsames ou apenas um olá. É quanto chega. Desculpem.

Tinha escrito um chorrilho de asneiras, mas depois achei por bem apagar..., não era o meu sitio.

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Mas vamos ao que interessa. Hoje era para não publicar nada, pois julgo que todos queiram passar um calmo fim de semana, mas está muito calor lá fora ... e, por isso, aqui está vai mais um bocado de RESUMO, da Susana

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8 – PET/CORAÇÃO À ESQUERDA

25 de Julho de 2007, segunda-feira. Na consulta com o meu querido doutor F.B., de acordo com PET efectuada, todo o meu corpito aparecia limpo do sarcoma, e o pulmão direito bem expandido. O que se notava ainda era as sequelas de uma sutura tão grande. Tenho o coração do lado esquerdo, o rim ligeiramente subido, os intestinos mais á larga, enfim, o corpo adapta-se. Mas ainda havia que melhorar e ganhar mais força.

Fiquei, tal como esperava e era lógico, proibida de engravidar. Mas esse sonho já lá vai há muito tempo. Na minha opinião, há coisas que têm mesmo uma altura certa para acontecer, por muito que estiquemos a realidade para um lado ou para o outro.

Nesta altura do ano, não arranjei formação para dar, até porque apesar de ser trabalhadora independente, tinha a rotina e cumpria o calendário da escola de um instituto do estado que me recrutava em regime de prestação de serviços desde 1993. Tinha dado nove meses de formação e trabalho (fora as outras aventuras), precisava de uma pausa. Sendo assim, inscrevi-me numa formação acerca de novas tecnologias utilizadas na formação. Calhou muito bem, porque o grupo era todo conhecido, o que facilitava a parte dos trabalhos de grupos e apresentações. O formador? Tratámo-lo muito bem, e como pessoa simpática que era, acabou por ser tudo bastante agradável, apesar de ser pleno Verão, estar calor e eu precisar de me abanar de vez em quando com o meu leque.

Ainda tinha hidroginástica até ao final de Julho, o que me agradou bastante, e me fez muito bem.

Fiquei também muito feliz e realizada por conseguir depositar uns euritos na minha conta poupança. Fruto do meu trabalho, claro, e do facto de ter reduzido as despesas, quando os meus pais tomaram conta da cozinha e despensa!

Começámos a ir á praia. Não posso apanhar sol na sutura, pois pode ficar escura. Ainda não fiz quimioterapia nem radioterapia por não haver vestígios de células tumorais do meu sarcoma sinovial monofásico fusicelular.

A minha bicicleta velhinha, que o meu falecido avô materno (que me criou) me ofereceu, foi posta a arranjar no início de Agosto de 2008. (Ora ai está outra coisa que já não consigo fazer: subir para uma bicicleta e pedalar. Ok, só subir para a bicla mesmo seria milagre em Agosto de 2009). A bicla levou pneus e câmaras novos e foi afinada. Neste momento, Agosto de 2008 não sei se consigo pedalar em plano só com um pulmão, mas nada como experimentar. Quando experimentei foi muito cansativo, o coração acelerou muito rápido, e todos os putos me ultrapassavam na boa! Se calhar a bicla ficava melhor lá na aldeia, em casa dos meus pais. Aqui na praia há muitos automóveis e eu pedalo pouco demais. Quase que é preciso fazer btt para escapar aos aceleras de Agosto, com CDs pendurados no retrovisor.

Uma destas manhãs, em passeio com a minha mãe pela borda da praia fora, quando regressávamos a casa (o calor das 10:30 começava a aparecer), deu-me uma maluqueira, tirei a camisola e calções (tinha biquíni, ok?) e disse: “Espera um pouco”.

E mergulhei numa onda fresca, fofa, que me pareceu a melhor do mundo, com o som da água a entrar pelos ouvidos, a água a bater nos ombros, no peito, nas coxas e a elevar-me depois para a tona de água.

Acho que foi a última vez que fiz tal coisa. Se calhar não vou ter outra oportunidade assim. (Não posso mergulhar agora por causa das duas vértebras fragilizadas.)

Acabei por regressar á base em meados de Agosto, por haver demasiado vento.

Chegando inícios de Setembro, lá vou eu de novo ás revisões no centro de saúde, pedir para fazer análises. O meu médico de família (o oficial sempre ausente) lembrou-se de pedir um raio-X. Um raio-X? Porquê? Queria ver como era ter um só pulmão? Podia pedir relatórios aos colegas do hospital, não? Se se interessasse mesmo. Fiquei danada, mas claro que o fiz. Não o fui buscar, dava demasiado trabalho e despesa para estacionar e ir buscar o exame com o calor que havia na cidade. Enviá-lo-iam por correio. Mas o melhor seria depois conseguir consulta com o senhor. O médico que estava na equipa e me tinha acompanhado cerca de três anos, tinha sido transferido ao atingir determinado tempo naquela especialidade. Tinha obrigatoriamente de ir para outro sítio. Ou ocupar uma das vagas existentes no centro de saúde, desde que o chefe (o meu médico oficial) o justificasse. Mas guardou as poucas “influências”que tinha para manter o seu próprio cargo de direcção. Sei que é grave o que estou a dizer, mas estou a contar o que aconteceu, sem nomes. Esse médico-anjo era adorado por imensos utentes. Porquê? Muito simples: estava lá para dar consultas, só isso.

A minha consulta foi sendo adiada, e acabou por não ter lugar em tempo lógico e útil. Este meu médico super director também é perito em juntar feriados a dias de férias. Eu continuava no regime de recibos verdes e não podia abusar a faltar manhãs inteiras, e fazer colecção de vírus na sala de espera do centro de saúde.

A minha mãe teima em afirmar que o senhor doutor se preocupou em saber como eu estava. Até pode ser. Agradeço. Tal como teria agradecido ter uma consulta quando precisasse.

Por hoje é tudo

Um abraço

O pai Bártolo

3 comentários:

sideny disse...

Olá Sr. Bártolo

Virei cá ler o texto com mais calma amanha.

Vou ter de ausentar , mas virei cá de vez enquando.

Tudo de bom para si e sua esposa.

Beijinhos para os dois.

Obrigada.

Anónimo disse...

Sideny
Apareça quando puder. Não se preocupe.
Beijinhos
O pai Bártolo

Branca disse...

Deste resumo, gostei especialmente daquele mergulho nas ondas, tão espontâneo e repentino, um momento feliz da Susana e imagino a sua alegria...que bem lhe deve ter sabido!
Tudo o resto são os males da nossa assistência e das políticas de saúde deste país que já conhecemos.

Beijinhos.
Branca
BRAnca