sexta-feira, 23 de julho de 2010

RESUMO (7)

Como não sei faltar a promessas, aqui vai mais um bocado de RESUMO, ainda escrito pela Susana

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7 – ALTA

Eu tive alta no dia seguinte, quinta-feira, já com os agrafos todos tirados pela senhora enfermeira com nome que me era bastante familiar. O centro de saúde, cujo director é o meu médico de família, não tem sequer alicate adequado para agrafos de cirurgia. A verba é escassa, bem sabemos, mas talvez os senhores dos laboratórios consigam algumas coisas interessantes para os centros de saúde, se houver desse lado quem saiba conversar e fazer acordos com eles. O meu médico de família é concerteza uma excelente pessoa. Falou comigo uma vez, desde que fui operada até hoje. Confidenciou-me que não sabe lidar com a situação. Acredito. Mas também acho que faz parte da profissão, mesmo que a especialidade seja “saúde familiar”. Ainda bem que os meus pais mudaram a residência para outro concelho. Que rico apoio teriam tido com este senhor doutor. Confesso que pelo andar da carruagem, fui progressivamente “desgostando” deste médico. Uma vez deixou o meu pai sem receitas de medicamentos da área de cardiologia, e nunca tem tempo para mais do que duas ou três consultas, nas quais passa o tempo a queixar-se. Tenho de ter uma consulta um dia destes, e faço questão que seja com ele. Se se queixar pretendo ficar calada e perguntar se devo sair para ir chamar alguém que o ajude.

Eu sei que isto não é boa educação. Mas não acho que seja ético deixar doentes crónicos e terminais numa sala de espera cheia de vírus toda a manhã para saber se afinal há ou não consulta. Ainda lhe digo umas boas antes de morrer. Ai digo, digo.

Voltando á terra, o penso que me faziam no hospital era em spray, que, adivinhai, também não havia no centro de saúde. Havia, vá lá, vá lá, pensos impermeáveis do tamanho certo, yes! Pelo menos poderia tomar duche, mesmo que meio de lado.

Soube que no dia seguinte, o senhor dos Açores teve alta. Ele continua bem. Mantemos o contacto e realmente parece estar a levar uma vida agradável, com a esposa, as duas filhas, o genro, a netinha. Pelo menos isso. Ele sim, está a conseguir ser normal.

Eu, apesar de ter ido para casa, que era quase “do outro lado da rua”, todas as tardes ia ao hospital. Fazia a minha higiene de manhã, uma tarefa que parecia interminável e longa demais. Almoçava e o meu pai levava-me de carro ao hospital, pois o caminho pela rua era inclinado e eu ainda não conseguia andar aqueles…meio quilómetro? Assim, de tarde, fazia a cinesioterapia orientada pelas enfermeiras especialistas.

O progresso foi notório: cada dia que passava eu recuperava os movimentos, a força, a mobilidade, enfim, tudo o que eu julgava impossível considerando as várias camadas musculares (acho que sete) que tinham sido cortadas para chegar ao pulmão.

Também foi regressando a sensibilidade, um pouco mais devagar, e a minha mamoca esquerda continua a ser rebelde, ah ah. Dá-lhe para inchar e aí vai ela, fica maior do que a direita. Mas como nunca mais fui a mesma, não importa.

Muito exercício depois e algumas consultas, voltei ao trabalho na semana do Carnaval de 2007. O meu horário foi adaptado. Passei a ter mais horas lectivas semanais para compensar as seis semanas que tinha faltado. Sendo contratada pelo Estado a recibo verde dá nisto. Ou saía, ou compensava. Optei pelo caminho mais complicado. De 21 horas passei para 34 a 36. Mais uma vez, nas primeiras semanas, o meu pai levava-me á escola. As minhas colegas-amigas (porque há de outro tipo) levavam-me a almoçar, pois raramente fazíamos uso do refeitório da escola. Pela tarde, lá ia o meu pai buscar-me. Por vezes, os meus alunos ajudavam a transportar a mala, ou o portátil, ou o leitor de Cds, visto não haver pessoal auxiliar nesta escola, e não haver equipamento suficiente lá. Daí eu ter de levar quase tudo de casa. As salas de aula continuaram, obviamente no mesmo lugar, umas na cave, outras no piso de entrada, e as demais no 1º andar…de dois blocos…sem elevador…com pátio exterior pelo meio. Mas pronto, lá toleraram a minha ausência e regresso. Tratar-me como recém-operada, e como acontece noutras escolas, facilitando o acesso, isso seria pedir demais. Mas aguentei-me á bronca. O exercício de subir escadas até acabou por ajudar-me a recuperar.

O meu pulmão direito expandiu bem, recuperei daquela dose infernal de analgésicos e voltei a ter o peso correcto para manter a minha “saúde”.

No segundo trimestre de 2007 consegui finalmente ir para a hidroginástica, num grupo de pessoas com várias condições especiais. Fazíamos sempre sessões muito boas em termos cardiovasculares, com equilíbrio e ritmo adequado. O monitor, o Eurico que nunca mais encontrei, gostava especialmente de reabilitação. Espero que tenha seguido o sonho dele e tenha continuado a estudar essa vertente. Onde quer que estejas, muito obrigada Eurico. Tudo de bom para ti.

Entretanto consegui recuperar todas as horas daquelas “seis semanas” de aulas, e cumprir horários, calendários, reuniões, ginástica, consultas de rotina. Devo ter perdido a medalha de cortiça, pois não a consigo encontrar.

Por hoje chega

Um abraço

O pai Bártolo

3 comentários:

O Baú do Xekim disse...

Olá amiga.

Um feliz e agradável fim de semana pra si e família.

Beijinhos.

Anónimo disse...

Olá caro amigo
Tenho visitado o seu blogue e estava a pensar que algo não estaria bem. Folgo em vê-lo por cá.
O pai da Susana, em nome dela, uma vez que já o não pode fazer, deseja-lhe o melhor do mundo, para si.
Obrigado por tê-la acompanhado e apoiado.
O pai Bártolo

Branca disse...

Aqui vejo uma Susana sempre esforçada, cumpridora,a Susana que sempre conheci e que nunca desistia de ser ela mesma à custa de muitos sacrifícios.

Obrigada pai Bártolo por me trazer tão boas memórias.

Beijinhos.
Branca