terça-feira, 20 de julho de 2010

RESUMO (4)

Continando,conforme o prometido, aqui vai mais um bocado de RESUMO:

4 - A PRIMEIRA CIRURGIA

...

No dia 1 de Janeiro de 2007, dei entrada pelas urgências, de saco feito. A minha médica A.F. estava de serviço e orientou todos os exames lá dentro: o raio-X, o electrocardiograma, a bioquímica, e tudo o mais. Passei o resto da tarde a ver como funcionam as urgências, mas que movimento.

Não esqueço um homem deitado numa maca, perfeitamente desorientado a insultar todo o pessoal médico. Acalmou com um bendito soro, e provavelmente um calmantezito lá dentro. Mas ele gritava que queria tinto.

Os meus pais tinham ficado lá fora, e depois tiveram de ir embora, pois não estavam a fazer nada ali.

Eu fiquei muito aliviada, pois a seguir á broncofibroscopia fiquei a respirar cada vez pior. O meu estado era realmente urgente. Eu só queria que me tirassem o “podre” para voltar a trabalhar e pronto.

A minha casa (apartamento dos meus pais) era em frente às urgências do hospital. Soube mais tarde que eles não fechavam o estore da janela do escritório. Assim, a qualquer hora do dia ou da noite, olhavam e viam…a entrada por onde eu tida ido.

Achei estranho quando soube, mas hoje em dia, abro o estore e olho sempre para lá. Por vezes tenho dúvidas se esta luta valeu a pena. Ou se teria sido melhor não ter acordado da operação.

Lá dormi a primeira noite da minha vida numa enfermaria. O enfermeiro C.F. instruiu-me quanto á preparação para a cirurgia, que seria às 08:00 da manhã seguinte, dia do meu 37º aniversário.

Na manhã seguinte fui levada na cama para o bloco. Detestei passar no “transfer”. Uma espécie de passadeira destinada a transferir as pessoas em posição deitada. Dava vontade de me levantar e ir á volta, a pé, mas tinha de ser assim. Senti-me uma peça de carne. Tenho a visão de haver muito inox e azulejos. Ambiente com ar de …esterilidade.

Mas as pessoas eram impecáveis, muito gentis e cheias de miminhos para dar.

Explicaram-me como funcionaria a bomba de morfinóides cujo comando ficaria preso ao meu pulso esquerdo. Deixei de estar nervosa e pensei: “Pode ser que eu não acorde e tudo fica mais fácil para todos” Pensei que tinha deixado tudo arrumado na escola; em casa mais ou menos. Pensei muito que não voltaria a ver o meu querido amigo, que tinha ido trabalhar para Angola. Ainda hoje não entendo porque pensei tanto nele nos dias antes da operação. Não era paixão, nada disso. Era um amigo que estava a fazer-me muita falta.

Adormeci com os anestesistas a falarem comigo.Lembro-me de sentir que me mudara de cama.

Lembro-me de ouvir os “bips” dos monitores e lembro-me de ter dito, ou sonhei que disse: “Desliguem-me esses apitos que me enervam”. Ao que alguém terá respondido “Eh pá, vamos lá desligar então os alarmes, ela tem uns valores óptimos, mas ficas aqui a olhar”.

Passado um bocado de tempo, tentaram pôr-me ao telefone, e eu a dormir, com os meus pais, mas a anestesia ainda estava mais forte do que eu. Eu tentava falar, mas não conseguia. Tinha sido entubada, e isso depois demora um pouquinho mais a voltar a funcionar. Pensamos que falamos e não sai som nenhum.

Lá fiquei nos Cuidados Intensivos, com as máquinas todas ligadas, apesar de “mudas”, e lá comecei a conhecer o pessoal de enfermagem e auxiliares, que teimaram em cantar-me os parabéns umas dez vezes quando descobriram que era o meu aniversário.

Num dos dias seguintes, penso que no terceiro, o médico cirurgião passou por lá para me ver. Já o tinha feito antes, mas eu andava no mundo de Morfeu, e eu não o tinha visto, só soube porque me disseram. Disse-me que me tinha tirado o pulmão todo. Eu respondi: ”Ok.” Para a minha mãe foi uma bomba. Eu achei que era mais prático e única opção. Se tinha o brônquio afectado, não havia hipótese de safar o lobo inferior.

Por hoje é só

Cumprimentos

O pai Bártolo

4 comentários:

sideny disse...

Olá Sr Bartolo

Esse exame já nâo é a primeira vez que oiço dizer que ficam a respirar com dificuldade, talvez por isso mesmo nunca o quis fazer.

O médico bem insiste mas eu nâo quero, e nâo faço.

Fiz a minha operaçâo de urguência em Dezembro, onde me tiraram meio plumâo, a biopsia acusou neoplasia do plumâo esquerdo.
Sou seguida todos os anos e faço sempre tac embora tenha sido operada há 7 anos, continuo a ser seguida pelo oncologista.

beijinhos para si e sua esposa

E tudo de bom para vós.

Um dia que venha a lisboa terei todo o prazer em conhece-los.

Anónimo disse...

Olá Sideny
Pois como já passou por isso sabe bem quanto custa uma cirurgia destas. À Susana extrairam-lhe o pulmão esquerdo todo.
Como verá depois, teve uma recuperação mais ou menos boa, mas depois...voltou e correu diversos orgãos.
Tudo depende da "marca" e se existe tratamento ou não. Quanto mais raro menos estudos há por que não dá lucro. Conto mais tarde voltar a este assunto.
Não deixe de fazer os seus exams pois eles são essenciais para ver a progressão ou não.
O exame, pelo nariz, a que a Susana se refere - broncofibroscopia - é efectivamente muito doloroso e foi a partir dele que as coisas se complicaram pois mexeream no dito.
Mas não quero que fique a pensar nisso.
Beijinhos
O pai Bártolo

Branca disse...

E aqui continuo lendo uma parte da história da Susana, mais ou menos no ponto onde eu tinha ficado a conhecê-la e fico a pensar nestas datas, porque 2007 parece ter sido um ano terrível para alguns amigos.
Em Janeiro a Susana foi operada, em Fevereiro a minha filha desmaiou-me nos braços, precisamente no dia do seu aniversário e foi hospitalizada com doença de Crohn, desculpe porque até tenho vergonha de dizer isto, dada a graviddae não ser comparável, mas também nesse princípio de ano de 2007 outro amigo muito querido e de quem a Susana também gostava muito recebeu um forte veredicto, tudo doenças crónicas, um ano terrível, para já não falar no Salvador Vaz da Silva, onde quase todos que por aqui andam lá se encontraram e onde tudo começou também em 2007.

Mas, o mundo avança, temos também que viver e amar os que por cá estão junto de nós e por isso vai um abraço muito grande para vós e para a mãe Sâo em especial, que sei quão dorida deve estar e embora seja a que menos nos aparece é por isso mesmo de quem me lembro muitas vezes.
Um beijinho especial para ela, hoje e sempre.
Para si Sr. Bártolo um forte abraço de muita amizade.
Branca

Anónimo disse...

Olá Tia Branca
Folgo em vê-la por cá. Na verdade estava a ficar um bocado apreensivo, não por escrever ou não, mas pelo receio de estar a acontecer algo menos bom. Ainda bem que as coisas estão bem.
Pois, esse ano não foi nada bom, mas se atentarmos nos outros, parecem-nos iguais ou piores. Nunca poderei esquecer que das primeiras vezes que entramos no IPO, as salas de espera tinham capacidade para todos. Agora para o final, passados quatro anos, já nem os corredores escapavam...
Mas, como diz o mundo tem que avançar e nós, forçosamente, também.
A São vai-se aguentando e embora não apareça por aqui, está a acompanhar tudo.

Agora vou-lhe dar um puxão de orelhas: não quero que me trate por SR., e pai é só "pai" Ok?. Obrigado
Beijinhos
O pai Bártolo