quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Pingou uma lágrima quando finei a actividade profissional




Ontem fui transportada pelo meu pai á Segurança Social para dar baixa da actividade de trabalhadora independente. Tinha feito o mesmo no site das Finanças, no dia anterior, e tinha já a declaração comigo, em formato pdf. Óptimo para quem está limitada como eu. Mas, na Segurança Social tinha de ser presencialmente. Liguei para a linha de apoio deles e perguntei se era necessário levar alguma documentação além do normal BI, NIF, e cartão da SS. Do outro lado disseram-me que não, não era preciso mais nada.


Ora, como sou picuinhas, levei o documento de início de actividade (de 1993), uma carta que servia de identificação de beneficiário (nas vezes do cartão), uma listagem das minhas contribuições todas que é possível descarregar do site da SS, e o documento das finanças declarando que eu cessara actividade na segunda-feira.


E não é que foi preciso exactamente esse? Lá contei a história á senhora que me atendeu, que evidentemente ficou espantada. Entreguei os documentos (cópia que a senhora tirou), fiquei com um recibo do que entreguei e a sensação que falta alguma coisa, mas depois se vê.


Não tinha cessado actividade porque tinha sempre a esperança de ter um intervalinho em que me sentisse melhor e pudesse dar uma formaçãozita de algumas horas, para não perder o jeito.
A única coisa que consegui até domingo, foi receber 360 dos 365 dias de baixa a que os trabalhadores independentes têm direito se contribuírem no regime alargado. No primeiro ano que fiz quimioterapia, só apresentava baixa dos dias de tratamento ou da semana que ficava grogue. Os outros dias, contava-os e pagava-os. Á noite, via alegremente aquelas pessoas que exigem, aos berros, habitação social e têm TV cabo, carros bons e fazem do parir um filho uma maneira de ter mais um subsídio. Este ano, com os internamentos de 5 dias, e só com duas semanas de intervalo (que foi um meio ano horrível sem resultado bom nenhum) optei e pedi ao médico para ter baixa contínua. Lá me convenci que não conseguiria trabalhar coisa nenhuma. Aprendi então que primeiro vai um CIT de 15 dias, e depois são mensais. Desde 09 de Dezembro até meados de Junho fui chamada a 3 juntas médicas. Gostei do optimismo da SS. Quase parecia que eu ficava boa de uma junta para a seguinte e ia a correr trabalhar. Como aliás acontecia a todos os outros utentes do IPO que vi por lá.


O resultado foi receber 300 euros por mês (de acordo com as contribuições que tinha feito, claro, disso não me queixo, foi opção minha). Agora acabou, não tenho mais nada. Vou começar a tratar da pensão por invalidez, mas como já fiz a simulação, também não vou saltar de alegria por aí. Tenho quase 15 anos de trabalho, lamento mas não consegui ser mais rápida (foi mesmo a escolinha toda seguida, férias de duas semanas e comecei a dar aulinhas). O 1º ano é de isenção na SS, logo não conta para nada. Depois houve uns ajustes na legislação das pensões. Tem de se ter mais de 15 anos de descontos, aproveitam-se os melhores 10 e mesmo sendo doente oncológica, o que descontei vai para o tecto.


Prometo que se acontecer ao contrário eu aviso. Acho que pedir o outro apoio de dependente, que efectivamente sou (se não forem os meus pais a mudar-me de sítio, fazer-me tudo, pagar-me a comida e medicamentos, morro na miséria) não dá em nada. Não tenho propriedades, mas os meus pais foram funcionários públicos e passam o limite aceitável neste país.
Quem poupa é castigado. Quem estoira recebe presentes.

Mas por falar em presentes, fui bem atendida. Fiquei com umas dores horríveis nas pernas (teimo em não tomar um dos prescritos que é morfina de sos). Dantes costumava andar por ali quase a correr, até porque ficava perto do lugar onde a minha mãe trabalhou. É estranho e dói cá dentro passar nos sítios onde sempre passei e vivi, e não me conseguir mexer. Neste momento olhei para o chão, e está lá uma melga morta, a quem dei um chapadão ontem á noite, e não consigo apanhá-la. Vai ter de ser a minha mãe…outra vez.

Bem, mas o que aconteceu mais…a caminho de casa, o meu pai parou no café de um amigo meu, onde eu ainda não tinha ido, apesar de ele já ter aberto o estaminé há meses. É o meu tal Amigo, com quem tenho tantas saudades de conversar. Ele e os meus pais conhecem-se das visitas que ele me fez desde que fiquei doente (ou soube que estava). Ele reparou que o meu cabelo já cresceu um pouco, ficou espantado com o inchaço dos meus pés, e sei lá o que lhe passou pela cabeça. Conhecemo-nos há cerca de 10 anos. Ele lembra-se de mim mais nova, mais magra, mais jeitosa, de saltos altos e saia gira, correndo e saltitando e dançando. Lembro-me de o desafiar a irmos para as danças de salão, mas ele não quis. Jogámos ténis, e conversámos sempre muito. Conhecemo-nos no trabalho, mas foi uma ligação que perdurou além disso. Ele teve juízo e saiu daquela escola no ano em que começou a apodrecer. Ele deve ter ficado triste de me ver tão diferente, mas um dia destes temos de por a conversa em dia. Não sei quando ou como, mas preciso disso, e ele também.

No momento em que me chegou a declaração em pdf das finanças a fechar a actividade, caiu-me uma lágrima. Lembro-me de ter preenchido os triplicados ou duplicados nas finanças. Curiosamente o meu pai foi comigo, porque eu não percebia nada daquilo e ele tinha lá um colega que pelo menos me faria preencher os formulários correctos, né? Naquela altura, os trabalhadores a recibo verde ainda eram um pouco raros, eh eh. Agora percebo mais eu, ahahahaha.
Fiquei triste com aquele clique. Foi-se, acabou.

E, mais uma vez preciso do meu Amigo, preciso do ombro dele, do mundo dele, da normalidade dele, da simplicidade dele.
Acho que as minhas amigas foram de férias e esqueceram-se de quem não pode ir. Vamos ver como reajo á próxima sms ou contacto. Parece que só os homens e muito poucas mulheres são normais.

O mundo continua torto, e eu também.


Beijinhos e abraços a gosto.



*****

7 comentários:

Anónimo disse...

Se...
Se...
se...

tantos ses me passam pela cabeça.
se tu morasses aqui ou eu vivesse perto de ti, juro que ia ter contigo e dar -te-ia o meu ombro e chorarias o que tu quisesses e depois ias-te rir e eu chamava-te macaquinha como costumo chamar à minha filha, quando ela está triste ou aflita.
Faz de conta que eu estou aí, faz de conta que tu estás aqui.

Beijinho grande


Filomena

Branca disse...

Minha querida,

Por alguma razão eu hoje estou com insónias, é porque tinha que vir aqui e cai-me uma lágrima para juntar à tua (só por isso :)), mas também trago um ombro para juntar ao da Filomena e um colinho e é assim como se estivessemos todos aí nesse teu cantinho.
Que dizer, não sei bem, mas sei pelo que conheço de ti, que não tarda verás tudo um bocadinho melhor, depois de pores essas conversas em dia, de descansares e dormires sobre o assunto.
Hoje tudo te pode parecer o fim da vida profissional, mas nada te garante que o seja e não penses que estou a dourar a pílula. Primeiro porque não sabes ainda até onde vais melhorar e há muitos aposentados a trabalhar noutras actividades, isso não é proibido, depois o mundo não é feito de certezas como pensamos quando somos muito novos.
A esperança deve permanecer sempre no teu coração.
Sei que és uma miúda fantástica, demais, com uma capacidade e uma força enorme de querer afastar os outros das tuas dores, mas se calhar os outros também são felizes (porque felicidade é difícil de definir) partilhando isso contigo, amando-te, dá-lhes essa possibilidade de estares com eles de alma aberta, de te sentirem, de te viverem e tu própria te sentirás mais leve.
Gosto muito de ti, amo-te mesmo como a uma sobrinha muito querida e quero viver tudo o que tiveres para nos dares, que é uma riqueza enorme que sempre existiu dentro de ti e isso já ninguém nos tira.
É quase de manhã, as férias já acabaram,vou dormir um pouco, mas fico também por aqui, sempre...
Beijinhos.
Tia Branca

Mrs. Sea disse...

Amiga... espero que o teu positivismo e pensamentos bons regressem para que possas enfrentar os males da vida! Um dia serás recompensada, eu sei! Basta que acredites... Hoje também não estou nos meus dias (aliás ultimamente é uma constante) mas espero que todas as energias positivas te cerquem e te iluminem para os teus dias se tornarem muito, execessivamente melhores!
Gosto muito de ti, mas não te conhecendo! És especial e tu sabes porquê!
Espero que pelo menos as minhas palavras te tenham feito subir no ego! ;)
Bjins

sideny disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
sideny disse...

Olá

Quanto a vida profissional, quando estiver melhor porque vai ficar sim
arranja qualquer coisita:))

O cabelo que vai crescer muito melhor que o antigo, pois este vêm mais forte mais bonito:))
E quanto ao ombro se quiser eu tenho os dois disponiveis:))
Vá a garra e a força que continue sempre
beijinhos e tudo de bom para si.

O outro comentario meu nAo estava como eu queria.

Carecaloira disse...

O meu colinho e o meu ombro estão sempre disponiveis para ti, já tentei várias vezes aproximar-me mas percei que essa não era a tua vontade, mas continuo aqui disponivel.
Só escrevo hoje porque fui para fora do país, peço desculpa.

Beijo grande.
Coragem

Anónimo disse...

Ai ai, obrigada á Filomena, Mrs Sea, Brancamar, Sideny, Careca Loira e Giorgio (por outro canal hi hi)por todos os ombros.
Realmente fiquei espantada por choramingar com o clique. Mas tem vantagens: se fosse feito ao balcão como quando iniciei era pior ;-)
Assim, só eu vi. Ando um pouco choramingona, mas também convém ter uma torneira para estas coisas saírem, tipo dreno das suturas, não?
Espero voltar a ser útil, sim. há outras coisas que gostaria de fazer, até porque já não me aguentaria como formadora. Só queria era ir mesmo e fazê-las. Este regime de clausura dá cabo de mim. Mas isto das lagrimitas passa sempre.
Agora já sei onde andam os "ombros", o que é notável mesmo em Agosto, em Portugal.
Obrigada meus amigos.