sábado, 18 de abril de 2009

Texto Intratável de Hoje - "Segunda Carta do Sonho ao Fantasma"

Segunda Carta do Sonho ao Fantasma

Por que é tão difícil ser feliz? Ou melhor, por que é que complico tanto as coisas? É da minha / nossa vida que se trata e ninguém tem o direito de interferir. Contudo, não sei bem o que tens em mente. Nem sei sequer o que eu tenho em mente. Será que tenho mente? Bem, esquece. Gostava de falar contigo, porque ambos precisamos. Há imensas coisas que devíamos conversar, embora eu não seja nada boa a expressar os meus sentimentos nem as minhas ideias. Sou medricas. Fui ensinada a esconder as fraquezas e não a ultrapassá-las, para parecer forte.

Perguntei recentemente a um amigo, ex-namorado, o que eu parecia do lado de fora. Resposta: “Pareces forte e invencível, mesmo ameaçadora.” E também já me chamaram forte, correcta, auto confiante. Meu Deus! Nada disso. Eu limito-me a caminhar sem saber bem para onde vou, pensando sempre na alternativa que talvez devesse ter seguido, nas escolhas e no modo correcto de as fazer. Sempre cheia de dúvidas. Tenho muitos medos. Não tenho a certeza do que fazer, excepto no meu trabalho, que é a área em que tenho... menos dúvidas. Na minha vida pessoal sou do tipo acidental. Levada por um forte espírito de contradição em relação a tudo o que me surge pela frente. No entanto, sei o que quero e quem quero. Mas é tão difícil chegar lá com a companhia perfeita, viva e sem magoar ninguém pelo caminho. Sempre fui muito cuidadosa com as minhas palavras e acções. Durante muitos anos coloquei sempre o trabalho em primeiro plano. Ainda bem que o fiz, senão não te teria conhecido. Mas agora que te vejo, sei que não posso dar-me ao luxo de te deixar ir embora. E não consigo suportar a ideia de que faças os mesmos erros que fiz.

Sabes? Por vezes sinto-me mais jovem por dentro. Não sou uma trintona a sério. Estou a amolecer em muitos aspectos, a ficar mais compreensiva. Costumava ser mais egoísta e tendente a gerir tudo de acordo com “o que está certo”. Isso é uma valente treta. Isso não é viver. Se assim fosse, não poderíamos sentir, entender ou pressentir. A vida é muito mais do que um conjunto de rotinas, mais do que actos e viagens. A vida deve ser partilhada com alguém de quem gostamos. Alguém que nos completa, que gosta de nós, mesmo nos dias maus. Alguém que nos dê espaço e tempo quando precisamos, e que depois nos acolha com um grande abraço, um terno beijo, ou mesmo (o melhor) um olhar compreensivo. Alguém que sabe com que dedo tocar a nossa mão, no momento certo, no lugar certo, no sentimento certo.

Toda esta confusão sou eu. Falta-me uma parte essencial de mim... que és tu! Até à vista.




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2 comentários:

Branca disse...

Estou a gostar de ler esta menina que cresce e amadurece.
Li com muita atenção e senti neste texto algo de autobiográfico, por mais ficcionado que seja.
Agora que voltei atràs porque demorei uns dias a ler este texto, mas li com toda a profundidade, sinto nele aquela menina de aparência forte para o exterior, invencível, como diz o outro, mas com um coração de manteiga.
E vais mesmo vencer esta batalha e agarrar os teu sonhos.
Beijinho enorme para ti.
Tia Branca

Branca disse...

Este texto de que gostei tanto, está mesmo a pregar-me partidas, não é que fiz um comentário tão bonito há pouco e afinal não entrou?!
Já ando há dias para o comentar e agora que estava tão entusiasmada, zás, vai ao ar, mas sou teimosa e então aí vai, mesmo que não seja a mesma coisa:
Pois é, às vezes sinto que embora ficcionados estes textos têm algo de autobiográfico, uma miúda de aparência forte e invencível, com um coração de manteiga.
Uma miúda que apesar de todas as muralhas em que se escuda vai vencer as suas batalhas e agarrar todos os sonhos e por isso mesmo vai aparecer cheia de sabedoria e com uma Luz muito especial, aquela que guarda no coração.
Eu sinto essa Luz e por vezes ilumino-me nela e aprendo.
Deixo um beijinho à escritora, que por acaso é minha sobrinha, embora emprestada, mas é igual como se fosse e tenho muito orgulho nela, no que escreve e na pessoa que é.
Abraço apertadinho.
Tia Branca