quinta-feira, 9 de abril de 2009

Texto Intratável de Hoje - "Primeira Carta do Sonho ao Fantasma"

Primeira Carta do Sonho ao Fantasma

Não sei como raio conseguiste atravessar a minha muralha defensiva, mas conseguiste. Quando começamos a trabalhar juntos, espantei-me contigo. Parecia que tinha caído algo dos céus. Então tive medo. Pensei ser demasiado velha para tais emoções. Pensei que eras só simpático, como costumas ser. Quando fomos rezar, arrastei-te porque senti que precisavas de paz. Então perguntaste-me “Tu também precisavas, não é?” Somente sorri. Pois era verdade. Continuo a perguntar a Deus o que fazer desde esse instante. Recordas-te que pousei a carteira entre nós dois? Se não o tivesse feito, ter-te-ia agarrado a mão, e não tinha permissão para isso.

Depois viajaste. Adorei receber as tuas mensagens dizendo “Gostava que estivesses aqui comigo”. Voltaste, saímos para jantar. Nunca na minha vida eu tinha esperado uma hora por um homem! E nunca antes eu senti tanto o desejo de subir ao teu apartamento. Foi como se uma trovoada se abatesse sobre mim, com relâmpagos e choques elevando-me para as nuvens e voltando a deixar-me com os pés assentes na terra firme. Apaixonei-me por ti nesse momento. Senti que te conhecia há séculos. E parecia que sentias o mesmo. Decerto não foi a cerveja, ou foi?

Clandestinos durante uns dias, até que conseguimos tomar café. Tu sempre a fugires de algo que eu não entendia completamente. Sempre ocupado a partir de então. Convidaste-me a ir a tua casa. Ansioso ao telefone. Eu feliz por conseguir deixar a reunião mais cedo.

Eu andava preocupada por não atenderes o telefone ou ligares.
Quando me abriste a porta, algo estava errado. Nem um beijo. Parecias tão distante. Sentaste-te na tua cama como se eu estivesse a... incomodar ou a intrometer-me. Isso foi a 29 de Outubro. Parecias cansado e constantemente a dizer que estavas cheio de sono. Então o teu telefone tocou e saíste para atender.

Pensei e voltei a pensar e algo não bate certo. O que se passa? O que não me disseste? É por ser mais velha que tu? É por ter a profissão que tenho? Sei que não sou uma estampa, mas aquilo que disseste e fizeste a partir do dia em que tomamos café não liga com o que disseste e fizeste antes. Parecias tão encantado e apaixonado por mim. Achas que quero fazer tudo numa semana? Bem, não quero. Gosto de viver as coisas de verdade e com calma. Porque estavas quase a chorar? Entrei em pânico. E ainda estou. Tenho andado a fazer o papel que me compete, tal como uma actriz durante todo o dia, mas no meu tempo livre não consigo prestar atenção a nada que me cerca. Algo está errado.

Posso entender que foste levado por um impulso e depois te arrependeste. Mas não posso suportar que alguém te tenha virado as ideias, mesmo indirectamente, fazendo-te crer que tudo seria complicado. Odeio que se intrometam na minha vida privada. Sei que um dia vais deixar esta cidade, mas ainda não o fizeste. Não quero ser um obstáculo para ti, tal como te disse naquela noite. Não sou eu a liderar o caminho, isso é contigo.

Neste momento que escrevo, não sei se estou a ser extremamente ridícula por te voltar a dizer que te adoro e te quero. Mas é verdade. E farei tudo o que for necessário para que tudo seja seguro, para não te abafar ou tornar-me numa âncora.

Também me passou pela cabeça (que parece a Quinta Avenida) que tu, sendo tão educado e humilde nas tuas atitudes, estivesses terrivelmente assustado comigo. Deixa-te de coisas. Não tens orgulho do teu trabalho? Olha, eu tenho. E tenho também orgulho de conhecer um homem como tu, que não teme o trabalho, o sacrifício, que ajuda toda a gente excepto a si mesmo, nunca diz não e ainda consegue dar um sorriso a qualquer criatura estúpida que lhe apareça à frente. Eu gostava de ser assim. Gostava de poder partilhar um pouco do teu tempo. Não se trata de sexo. Isso não me chega. Senti de repente que queria agarrar-te, e ainda sinto, e provavelmente vou continuar a sentir isso por muito tempo.

Não sou mais que tu. Muitos dias começam com aquele sentimento horrível “Oh não. Outro dia estúpido!” Foi diferente sonhar contigo, com o que poderíamos fazer juntos. Coisas simples. As mais bonitas. Foi lindo encontrar uma frase romântica no meu telefone. E agora isso acabou. Algo está errado. Por favor, diz-me a verdade. Entendo que estás sempre muito ocupado. Se é esse o problema deixa-me estar a teu lado e apoiar-te. Posso esperar, só preciso de saber o que esperar. E não preciso de ser tratada como uma princesa. Sou só uma miúda, repentinamente apaixonada por um tipo demasiado cauteloso com os outros.
Estou certa?
Adoro-te.
Posso?


*****

2 comentários:

Branca disse...

Olá miúda :)!

Continuam a ser lindas as tuas cartas. Não penses que não tenho passado por aqui estes últimos 6 dias para saber de ti, mas afinal não soube e como também tenho os meus dia maus, só hoje tive espírito para ler a carta do sonho ao fantasma.
E que o sonho ganhe!
Acabei de publicar a história curta de um sonho teimoso...
Vamos lá sonhar as duas!
Muitos beijinhos.
Tia Branca

Carecaloira disse...

Beijinhos do lado de cá